Tuesday, November 20, 2012

O Regresso do Brigadeiro


O segundo post que escrevi neste blog, há mais de 4 anos atrás, foi um som do Ikonoklasta/Brigadeiro Matrafrakuxz/Luaty, chamado 2000 Dikas. É um dos meus sons preferidos do mano. Ainda me lembro da primeira vez que ouvi o Ikonoklasta. Foi no disco do Katro que também ouvia pela primeira vez. Trincheira de Ideias. Nunca me esqueço nem do disco nem de onde estava quando o ouvi - na sala da casa da minha tia na Vila Alice, já de noite, e graças ao meu mano Paulo. Foi numa altura em que simplesmente não estava exposto ao rap de qualidade, muito menos rap lusófono de qualidade. O álbum certamente teve um grande impacto na forma como passei a encarar o rap como estilo musical de intervenção social, e ajudou a formular as minhas ideias sobre as assimetrias sociais e políticas em Angola. Despertou também em mim uma sede para consumir tudo que fosse do Brigadeiro (e do Katro), e esta sede levou-me a conhecer outros grandes do hip-hop angolano cujas obras de arte até hoje oiço com frequência: o Keita e o Wawuti.

O mano Ikono tem estado afastado dos palcos e dos estúdios por razões que são mais que conhecidas por qualquer pessoa que tenha seguido mínimamente as notícias provenientes de Luanda durante o último ano.

Mas felizmente, o mano prepara o seu regresso. Deixo-o explicar-se nas suas próprias palavras:
Desde 2008 que não tenho feito música com regularidade. A minha vida tornou-se uma montanha russa de peripécias e emoções que continuam por ser digeridas e interpretadas para que me possam tornar mais maduro, mais perspicaz e mais preparado para o que me resta de vida. É assim com toda a gente e esse pretexto por si só não deveria ser (nem é) suficiente para justificar a minha falta de vontade de criar, de compor, de cantar, de partilhar com esse mundo de desconhecidos os meus desvarios, momentos de loucura, as minhas angústias, basicamente, fazer o que adoro e que me faz sentir mais livre nesta vida: música!
Também não é verdade que tenha estado completamente inerte, mas estou longe do prolífico. Deixei-me envolver num projeto novo, original e, para mim, vanguardista, desafiado pelo meu mano e cúmplice na arte: Pedro Coquenão, aliás, DJ Mpula. Batida é o nome do conceito musical que o Pedro concebeu e é completo em tantas maneiras, tem me levado a tantos sítios fantásticos, que tenho concentrado os poucos momentos de inspiração a criar novos temas para e com o projeto. Alguns desses temas estão inéditos para já, mas há uma intenção em incluí-los em futuros lançamentos de Batida, por essa razão não os incluo nesta série de mp3chos que pretendo agora divulgar.

A única coisa que está a fazer-me atrasar a saída dos ditos cujos é mais o facto de ainda não ter alguém que me desenhe as capas, por isso quero lançar o repto para os amigos, fãs, fiéis, ou simplesmente gente que goste de desenhar/criar e ande a procura de desafios, que façam propostas de capas para qualquer um dos mp3chos que abaixo proponho e mas enviem para o meu email pessoal: ikonoklasta@musician.org.

Vou começar por lançar um mp3chos com versões inéditas Ngonguenha, algumas do “Nós os do Conjunto” com versos meus que foram excluídos da versão final que chegou às lojas, outras do “Ngonguenhação”, remisturas feitas por malta por quem tenho uma grande admiração.
Podem ler o resto no blog do Brigadeiro aqui.

Sunday, November 4, 2012

Caipirinha Lounge Cinema: Meu País, by Valete feat. Nuno Lopes


From the first seconds of this song, and it's short, measured buildup, I could tell I would thoroughly enjoy it. My appreciation for it went up as the verses progressed. Valete talks about what the impending economic catastrophe is doing to the Portuguese, especially its youth. How emigration makes more and more sense, and how many people leave their loved ones and their livelihood (to earn a lot more money in Angola, for example). If the content wasn't enough, the quality of production of this track is sublime. Having Nuno Lopes feature was a great decision - you won't hear many hip-hop tracks with this kind of ambiance and musical versatility.

Meu País

Logo nos primeiros segundos desta música, já se previa a sua grandeza. O Valete consegue, nas palavras à baixo, exprimir um sentimento, uma forma de encarar as opções de vida, que já começa a ser comum na presente realidade portuguesa. E principalmente entre a sua juventude. No que toca a produção em si, espectacular. Como se a letra e a rica produção não bastassem, a participação de Nuno Lopes também foi uma aposta acertada. Nao devem existir muitas músicas com esta sonoridade e com esta versatilidade. 

Por fim, a execução do video-clipe foi o toque de meste, a cereja em cima do bolo. 

Meu País serve como introdução ao novo disco do Valete. É o seu primeiro single. Se o resto do álbum for assim tão fértil e comovente, fico ansioso por ouvir o resto do producto. 

Tou a arrumar as malas,
Levo quase tudo até o meu kimono de judo (quase tudo),
Já não sei se volto,
Quem imigra quer voltar,
mas muitos poucos voltam à base,
Farto disto tudo,
Farto de estar desempregado de nada servem estes canudos,
Quando há trabalho são sempre temporários,
Humilhantes precários, os salários hilários,

União Europeia a colapsar,
Portugal a mergulhar nestes dias funerários,
Vou-me embora,
vou,vou pra Luanda,
Já não há nada aqui pra mim,
isto já não anda nem desanda,

Estas são as minhas ultimas lágrimas,
Últimas paginas, neste pais que hoje tresanda,
Portugal, meu céu meu lamaçal,
Assista ao recital da minha fuga da tua varanda,

Meu país, vou me embora...
Meu país, vou me embora...

Portugal vou me embora...
Portugal vou me embora...

Ana, meu amor por ti é irrefutável,
Memorável nas nossas vidas,
Divino inenarrável,
Mas vou me embora, minha alma chora,
E devora a minha carne e deixa me assim inconsolável,
Tens emprego estável situação invejável,
Não faria sentido vires comigo,Ana,seria irresponsável,

Fica aqui, progride na empresa,
Tenho a certeza que chegarás lá em cima com a tua destreza,
É melhor acabarmos esta relação,
A minha volta é um ponto de interrogação é tudo uma incerteza, Ana

Não chores, não deflores
Ainda mais esta dor que me atinge com tanta crueza,
Acabamos mas serei sempre teu, O
O teu Romeu que viverá do que imana a tua grandeza,
Vou me embora, sê feliz,
Mesmo com a cicatriz deste amor e levar-te pra tristeza


Meu país, vou me embora...
Meu país, vou me embora...

Portugal vou me embora...
Portugal vou me embora...
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