Foi na diáspora que despertei para muitas coisas entre elas a música lusófona, aliás, arrisco mesmo em dizer que para muitos angolanos da minha geração, foi na diáspora que descobrimos a beleza da música cantada e tocada em português.
Com excepção da música portuguesa e alguns pedaços das musicas das novelas brasileiras, lembro que na minha infância, não se ouvia sons de Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique ou São Tome e Príncipe... na Rua Comandante N´zaji, que foi onde nasci e cresci, era apenas a música angolana que fazia parte das nossas vidas... músicos como Mamborro, Lucas de Brito, Clélia Sambo e cotas como Waldemar Bastos, Lourdes Vandúnem ou Mário Rui Silva sempre estiveram presentes lá em casa.
À partir de algumas influências que sempre vou agradecer, foi já na adolescência que descobri os U2, Madonna, Depeche Mode ou a Cyndi Lauper que foi um dos grandes amores da minha vida. Para um país fechado para o mundo como era Angola, o inglês surgiu-nos de alguma maneira como desenvolvimento e talvez por isso, ouvir uma cassete de música no walkmen cantada em português, era sinal de caretisse.
Para um jovem que nunca tinha saído de Angola, a diáspora foi o local de muitas descobertas, e foi nela também, que recomecei a escutar a música angolana. Na altura, Portugal era o ninho dos músicos que não encontravam cá ouvidos que escutassem as suas melodias...da mesma forma que os outros africanos da lusofonia faziam o mesmo com a sua música. Foi lá que pela primeira vez ouvi o Manecas Costa...foi na diáspora que conheci os Boy Gé Mendes e foi por lá também, que descobri que o Leandro e Leonardo não significavam música brasileira.
Infelizmente, foi com a distância que valorizei muito do que me é próximo, talvez por isso, hoje me sinta confortável em assumir que seria outra pessoa se nunca tivesse conhecido as vozes do outro lado que também são minhas... vozes como Seu Jorge, António Variações, Princezito, Sara Tavares, Cibelle, Gabriel Tchiema e tantas outras, que hoje, nos misturam e nos unem, mesmo que insistimos em não acreditar.
Este texto foi escrito sem o acordo ortográfico e ouvindo Aurora, com Waldemar Bastos e The London Symphony Orchestra
About Ngoi Salucombo:
Nestas andanças pela blogosfera angolana deparei-me com o oásis que são o Attelier das Mangueirinhas e o Portfólio Photografico, ambos do mano Ngoi. Descobri que somos os dois incorrígiveis apaixonados pela música, e nesta base a amizade surgiu naturalmente. Era constante vê-lo em actividades musicias em Luanda, tal como no concerto dos Afrologia no Elinga ou os Ecletismos Poéticos do Bahia. Colaboramos também na divulgação do Jazz Festival na blogosfera, eu com posts acerca dos artistas e ele com fotos dos cartazes dos mesmos espalhados por Luanda. Váris fotos do Ngoi também iluminam este espaço. Para os mais interessados, é possível apreciar as obras dele aqui, e ler o seu livro de contos aqui. Obrigado por este post, mano Salucombo!
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