Será a “lusofonia” acima de tudo musical?
"Para lá da língua, há um parentesco evidente que remonta ao tempo da colonização, com essas músicas “pré-urbanas” que se tocavam nas plantações. Os guitarristas nem sequer têm necessidade de se harmonizarem em conjunto, quer venham de Portugal, de Angola, do Brasil, de Cabo Verde ou de Moçambique. Está-se numa situação muito diferente da francofonia: quando um Higelin ou um Lavilliers fazem música com africanos, isso é sentido como um passo voluntarista, experimental, quase político, enquanto no mundo lusófono esta “mestiçagem musical” é absolutamente natural, é um assunto resolvido há pelo menos um século. E isto é tanto mais verdadeiro no que diz respeito aos angolanos, porque o seu património musical ligado a rituais de iniciação, foi apagado pela colonização e a evangelização, e ainda sofreu muito das devastações da guerra de independência e dos confrontos armados que duraram até 2002. Mesmo o lamelofone likembe e o xilofone marimba, que eram verdadeiramente instrumentos nacionais, estão em vias de desaparecimento. Actualmente, os xilofones são importados de Moçambique ou do Zimbabué harmonizados segundo escalas ocidentais, para poderem ser associados às guitarras. O MPLA foi fundado por poetas e intelectuais como Agostinho Neto, mas hoje não parece dar importância à cultura enquanto expressão autêntica e livre da identidade do povo."
-Photo by Pimpo79
No comments:
Post a Comment