Monday, December 10, 2012

Os Kuduristas em NYC

Como escritor de um blog de música minimamente conhecido, recebo por dia vários emails das chamadas PR agencies que procuram a todo custo promover os artistas que pagam pelos seus préstimos. É tudo parte da estratégia de promoção da música numa altura em que a internet parece mesmo ser a principal plataforma pela sua disseminação. Sendo os blogs parte desta ferramenta, os seus escritores são diariamente bombardeados com este tipo de emails. Não importa se o blog só promove música lusófona.

Normalmente o destino destes emails é o lixo. Mas de vez em quando, vem um que vale mesmo a penas abrir. A vasta maioria dos emails que recebo por estas agências não tem nada haver com um músico ou  da lusofonia ou pelo menos do meu interesse. Mas uma vez ou outra aparece uma promoção do novo álbum da Carmen Souza, ou uma alerta a um concerto aqui em New York da Mallu Magalhães. Normalmente a empresa que promove artistas de jeito é a Rock Papers Scissors. E a semana passada, pela primeira vez desde o primeiro post aqui nestas andanças do Caip Lounge, recebi um email a promover um grupo angolano que vem actuar em New York City, ainda por cima perto do meu 'beco' aqui em Brooklyn.
Os Kuduristas vão estar esta noite no Bembe (o meu lugar preferido em New York). Amanhã estarão no Poisson Rouge, onde pela primeira vez vi o Black Coffee a tocar, e seguem depois para Washington DC. 

Pelo que tenho ouvido da passagem deles pela Europa, isto é a não perder. E pelos vistos, o Kuduru realmente tornou-se num fenómeno mundial e globalizado.

O email que recebi:
Os Kuduristas: A global initiative to introduce Angolan Kuduro dance and music internationally through interactive events and programs

December Dance Battles, Workshops, and Performances coming to N.Y.C. and Washington, D.C. for the first time ever
Angolan Kuduro music and dance is coming to the U.S. for the first time ever, delivered by Os Kuduristas (oskuduristas.com), featuring Kuduro dance heavyweights. This December some of the best Kuduro dancers from Angola (southwestern Africa) will arrive in New York City and Washington DC, showcasing the highly energetic dance and electronic music style that has captured the hearts of M.IA., Björk, and Diplo.

Following up on strong response to this Fall’s European dance battles and events, the East Coast presentations of Os Kuduristas will bring Kuduro’s energy to club sets, in collaboration with global bass icons like Chief Boima, DJ KS*360, and DC’s Sol Power All Star DJ’s. With quicksilver, on-the-spot choreography and a feel for beat and movement uniquely their own, Os Kuduristas performers embody the spirit of the new Angolan scene, showing Americans what Kuduro is.

Os Kuduristas is also engaged in an interactive cultural exchange educational component at New York City high schools and youth centers involving aspiring young beat-makers, filmmakers, and dancers. The Os Kuduristas performers will participate in a cultural exchange with students at Achievement First High School in Brooklyn and conduct lecture-demonstrations for the student body, while being filmed by filmmaking students from Frank Sinatra High School of the Arts in Queens and presenting tracks made by music production students participating in a special, Kuduro-inspired workshop. In addition to the school-based activities, the Angolan crew will present Kuduro’s history and moves to youth at two dance-centered programs: The Door and KR3TS, in a moving exchange between N.Y.C.’s street styles and Kuduro’s unique expressiveness.

Born of Angola’s burgeoning cultural revival in the Information Age, Kuduro is the cultural expression of a new international and post-war generation. It is a highly energized, innovative movement that incorporates dance, music, fashion, lifestyle, and attitude. Kuduro is filled with palpable optimism, opportunity, and excitement. Culturally savvy, cheeky, colorful, and bold, Kuduro is a unique and provocative genre that bridges the gap between Angolan and global cosmopolitan identity.

“There is definitely a sense of re-birth and renewal happening in Angola right now,” reflects CoréonDú, Os Kuduristas executive producer and respected Angolan musician. “It’s also a time of discovery and of people trying to find their own medium of expressing the moment of history we are living. The time is ripe with opportunity and openness to the world that allows for new creative perspectives and horizons.”

Kuduro moves burst with this vibrant discovery process and desire to capture life’s intensity. While Kuduro dance shares some common ground with other international street forms like breaking, popping, locking, dancehall and voguing, it is authentically Angolan, marked by references to recent events and moments in everyday life, as well as bold breeches of gender barriers.

“Dance is, quite obviously, one of Kuduro's most paradigmatic features and, although similar in structure to the North American breakdance, it was mostly inspired in a choreographic plasticity that is typically Angolan,” explains Angolan cultural critic Jomo Fortunato. “Melody and harmony are professedly demoted and rhythm and improvisation are key elements.”

“It’s not like you develop a tolerance for watching people move their bodies like that. It’s going to brighten your life every time.” –MTV Iggy

N.Y.C. Os Kuduristas Events Open to the Public
December 10, 2012: Bembe Lounge. iBomba with DJ Chief Boima and featuring the Os Kuduristas dancers and Fogo de Deus as guest MC. (81 S 6th St in Williamsburg, BK,). Midnight
December 11, 2012: Le Poisson Rouge. “Behind the Groove” special Kuduro Afro House set by DJ KS*360. (158 Bleeker Street). Midnight
December 16, 2012: Gonzalez y Gonzalez. "Hangtime" Special performance (192 Mercer Street). 9:30 PM
Exclusive Washington, D.C. Os Kuduristas Events Open to the Public
December 21, 2012: Tropicalia Club “Shrine" party with special guest performances by MC Fogo de Deus and the Kuduro dancers and featuring DC’s Sol Power All Stars (http://solpowerdc.tumblr.com/)(2001 14th Street NW; enter on U Street down stairs). 9:00 pm + 11:00 pm sets

Find out more on RockPaperScissors site here.

Tuesday, November 20, 2012

O Regresso do Brigadeiro


O segundo post que escrevi neste blog, há mais de 4 anos atrás, foi um som do Ikonoklasta/Brigadeiro Matrafrakuxz/Luaty, chamado 2000 Dikas. É um dos meus sons preferidos do mano. Ainda me lembro da primeira vez que ouvi o Ikonoklasta. Foi no disco do Katro que também ouvia pela primeira vez. Trincheira de Ideias. Nunca me esqueço nem do disco nem de onde estava quando o ouvi - na sala da casa da minha tia na Vila Alice, já de noite, e graças ao meu mano Paulo. Foi numa altura em que simplesmente não estava exposto ao rap de qualidade, muito menos rap lusófono de qualidade. O álbum certamente teve um grande impacto na forma como passei a encarar o rap como estilo musical de intervenção social, e ajudou a formular as minhas ideias sobre as assimetrias sociais e políticas em Angola. Despertou também em mim uma sede para consumir tudo que fosse do Brigadeiro (e do Katro), e esta sede levou-me a conhecer outros grandes do hip-hop angolano cujas obras de arte até hoje oiço com frequência: o Keita e o Wawuti.

O mano Ikono tem estado afastado dos palcos e dos estúdios por razões que são mais que conhecidas por qualquer pessoa que tenha seguido mínimamente as notícias provenientes de Luanda durante o último ano.

Mas felizmente, o mano prepara o seu regresso. Deixo-o explicar-se nas suas próprias palavras:
Desde 2008 que não tenho feito música com regularidade. A minha vida tornou-se uma montanha russa de peripécias e emoções que continuam por ser digeridas e interpretadas para que me possam tornar mais maduro, mais perspicaz e mais preparado para o que me resta de vida. É assim com toda a gente e esse pretexto por si só não deveria ser (nem é) suficiente para justificar a minha falta de vontade de criar, de compor, de cantar, de partilhar com esse mundo de desconhecidos os meus desvarios, momentos de loucura, as minhas angústias, basicamente, fazer o que adoro e que me faz sentir mais livre nesta vida: música!
Também não é verdade que tenha estado completamente inerte, mas estou longe do prolífico. Deixei-me envolver num projeto novo, original e, para mim, vanguardista, desafiado pelo meu mano e cúmplice na arte: Pedro Coquenão, aliás, DJ Mpula. Batida é o nome do conceito musical que o Pedro concebeu e é completo em tantas maneiras, tem me levado a tantos sítios fantásticos, que tenho concentrado os poucos momentos de inspiração a criar novos temas para e com o projeto. Alguns desses temas estão inéditos para já, mas há uma intenção em incluí-los em futuros lançamentos de Batida, por essa razão não os incluo nesta série de mp3chos que pretendo agora divulgar.

A única coisa que está a fazer-me atrasar a saída dos ditos cujos é mais o facto de ainda não ter alguém que me desenhe as capas, por isso quero lançar o repto para os amigos, fãs, fiéis, ou simplesmente gente que goste de desenhar/criar e ande a procura de desafios, que façam propostas de capas para qualquer um dos mp3chos que abaixo proponho e mas enviem para o meu email pessoal: ikonoklasta@musician.org.

Vou começar por lançar um mp3chos com versões inéditas Ngonguenha, algumas do “Nós os do Conjunto” com versos meus que foram excluídos da versão final que chegou às lojas, outras do “Ngonguenhação”, remisturas feitas por malta por quem tenho uma grande admiração.
Podem ler o resto no blog do Brigadeiro aqui.

Sunday, November 4, 2012

Caipirinha Lounge Cinema: Meu País, by Valete feat. Nuno Lopes


From the first seconds of this song, and it's short, measured buildup, I could tell I would thoroughly enjoy it. My appreciation for it went up as the verses progressed. Valete talks about what the impending economic catastrophe is doing to the Portuguese, especially its youth. How emigration makes more and more sense, and how many people leave their loved ones and their livelihood (to earn a lot more money in Angola, for example). If the content wasn't enough, the quality of production of this track is sublime. Having Nuno Lopes feature was a great decision - you won't hear many hip-hop tracks with this kind of ambiance and musical versatility.

Meu País

Logo nos primeiros segundos desta música, já se previa a sua grandeza. O Valete consegue, nas palavras à baixo, exprimir um sentimento, uma forma de encarar as opções de vida, que já começa a ser comum na presente realidade portuguesa. E principalmente entre a sua juventude. No que toca a produção em si, espectacular. Como se a letra e a rica produção não bastassem, a participação de Nuno Lopes também foi uma aposta acertada. Nao devem existir muitas músicas com esta sonoridade e com esta versatilidade. 

Por fim, a execução do video-clipe foi o toque de meste, a cereja em cima do bolo. 

Meu País serve como introdução ao novo disco do Valete. É o seu primeiro single. Se o resto do álbum for assim tão fértil e comovente, fico ansioso por ouvir o resto do producto. 

Tou a arrumar as malas,
Levo quase tudo até o meu kimono de judo (quase tudo),
Já não sei se volto,
Quem imigra quer voltar,
mas muitos poucos voltam à base,
Farto disto tudo,
Farto de estar desempregado de nada servem estes canudos,
Quando há trabalho são sempre temporários,
Humilhantes precários, os salários hilários,

União Europeia a colapsar,
Portugal a mergulhar nestes dias funerários,
Vou-me embora,
vou,vou pra Luanda,
Já não há nada aqui pra mim,
isto já não anda nem desanda,

Estas são as minhas ultimas lágrimas,
Últimas paginas, neste pais que hoje tresanda,
Portugal, meu céu meu lamaçal,
Assista ao recital da minha fuga da tua varanda,

Meu país, vou me embora...
Meu país, vou me embora...

Portugal vou me embora...
Portugal vou me embora...

Ana, meu amor por ti é irrefutável,
Memorável nas nossas vidas,
Divino inenarrável,
Mas vou me embora, minha alma chora,
E devora a minha carne e deixa me assim inconsolável,
Tens emprego estável situação invejável,
Não faria sentido vires comigo,Ana,seria irresponsável,

Fica aqui, progride na empresa,
Tenho a certeza que chegarás lá em cima com a tua destreza,
É melhor acabarmos esta relação,
A minha volta é um ponto de interrogação é tudo uma incerteza, Ana

Não chores, não deflores
Ainda mais esta dor que me atinge com tanta crueza,
Acabamos mas serei sempre teu, O
O teu Romeu que viverá do que imana a tua grandeza,
Vou me embora, sê feliz,
Mesmo com a cicatriz deste amor e levar-te pra tristeza


Meu país, vou me embora...
Meu país, vou me embora...

Portugal vou me embora...
Portugal vou me embora...

Wednesday, October 31, 2012

Directamente da Lama, by Mano António feat. Helder Faradai


Alternative Angolan hip-hop is alive and well. And that man Helder Faradai seems to be playing a part in it. Within three seconds of the song I could hear Faradai's production...it's interesting sound that Jazzmática have been able to consistently create. Directamente da Lama is Mano António's first single, himself another member of Jazzzmática. The subject matter is the type of social commentary commonly heard in Angolan hip-hop, critical of the status-quo and politically conscious. Watch this space for Mano António's EP.

O hip-hop alternativo angolano está saudável. Recomenda-se. E parece que o mano Helder Faradai é uma peça importante desta evolução. Reconheci logo o dedo da Jazzmática na produção deste rap...é um som interessante que a banda tem sabido aperfeiçoar. Directamente da Lama é o nome do primeiro single do Mano António, também ele integrante do grupo Jazzmática. A letra é políticamente coerente e consciente, como temos nos habituado com o rap alternativo em Angola. Abaixo deixo os manos falarem sobre o projecto:
"Directamente da Lama”, é o título do trecho musical que Mano António (M.A.) propõe como single do seu EP a ser lançado em breve de nome “Rimas na Lama”. Esta música, segundo o membro da J.M. conta nos sobre as sátiras do “lamaçal”, das coisas vividas e sofridas pelo povo angolano ou simplesmente luandense no seu dia a dia.  
O conceito do EP a ser lançado, consiste em apresentar numa linguagem terra a terra e versátil em termos de composição, espelhando a flexibilidade na interacção com os mais variados tipos de ouvintes. Este trabalho, teve como campo de estudo o Bairro Marçal que foi o berço de toda a criatividade de Mano António enquanto buscava respostas na equação da vida, com o pincelar da Kizomba crivada que a população daquela zona vivência desde casos caricatos ao desenrascar diário pela sobrevivência.  
Absorvendo das vicissitudes da vida, oferecidas pela falta de alimento, saneamento básico, educação, saúde e outros males nos arredores de Luanda a fora, M.A. procura espelhar a habilidade ou capacidade de adaptação que o povo angolano possui em ultrapassar e sobreviver as “baçulas” que a vida dá e as fatelas que o destino nos reserva. “Transpirar em suas letras e músicas a força e persistência na resistência contra este sistema que os sufoca, sempre deixando estampado a esperança com um sorriso maroto”.  
Isto são as “Rimas na Lama”, a representação mixada de tristeza, pobreza e alegria áspera, em um panorama onde o álcool é cultura e viver de aparências é lei.  
Trajectoria do EP Eis a apresentação concentrada de 15 anos de trabalho consecutivo. “Rimas na Lama” foi idealizado por Mano António (M.A.) no ano de 2011, com o objectivo de servir de trampolim ou a carta de saída formal para este mercado ainda “Virgem” a nível daquilo que chamamos música de intervenção qualitativa. Conta M.A. que, quando começou a escrever as Letras para este EP, teve como base aspectos da sua vida pessoal, como MC, mostrar o seu lado humano e falar sobre o seu Marçal e arredores .
Porém, após um período de trabalho e conquistas, devido a razões técnicas e outros problemas, o colectivo Jazzmática perdeu 90% do seu trabalho no princípio de 2012 (beat tapes, colaborações, produções de terceiros, etc). Com a perca, algumas faixas que iriam constar no EP “Rimas na Lama” perderam-se. 
Sem norte, sem saber qual rumo tomar, Jazzmática apanha o fio da meada com este EP de M.A., que representa um iluminar ou renascimento da alegria do grupo em fazer música pela música.  
Ficha Técnica EP: Rimas na Lama
Single: Directamente da Lama ft Helder Faradai
Artista: Mano António
Artwork: Josemar Soares
Produção: Jazzmática
Ano: 2012 

Sunday, October 21, 2012

"O álbum começa no domingo e termina no sábado": Parte V

Long time no see, MCK. We return this Saturday with two fresh tracks from MCK's Proibido Ouvir Isto.

Será que a kota é fã...
ou espiã...
estou baralhado, está me deixar tan-tan..

Será que a dama é fã...
ou espiã...
'Ta me pedir para autografar o sutiã...

Vintage Katro. The lyrics above are from Quarentona Atraente, which roughly translates to "Attractive MILF". Due to its subject matter, it quickly became one of the most popular tracks in Katro's album. In it, MCK is seduced by an older woman who appears to know all about him and his music but ends up being a spy for the Angolan secret services who then kills him in bed when they are about to make love. Only Katro. 

The next track, Tou na Fronteira, chronicles Katro's experience as he goes up to heaven after dying. Once there he meets Cherokee, the young boy who was killed by Dos Santo's Presidential Guard for singing one of Katro's songs while washing a car. True story. Once in heaven MCK meets a plethora of historical figures who have passed away, and in his typical story-telling style relates meeting them. He sees Marx reading the bible, apparently having been converted, watches Savimbi laugh at the spectacle, witnesses the prophet Mohammed mitigate a feud between an Al Qaeda terrorist and a Taliban,  shares a joke with David Zé and Teta Lando, and sees Miriam Makeba dance. He sings: "you have to have faith, you have to be strong, believe, there is life after death." 

Tu tens que ter fé
Tu tens que ser forte
Acredita
Há vida depois da morte.


Bonus

With these series, there is always a bonus. The video below is an AFP piece that features a short little interview with Katro in the flesh. Enjoy both the two minute interview and the official music video for Nomes, Rimas e Palavras.

Quarentona Atraente
Tou na Fronteira






Saudadades destes posts - sempre é um prazer divagar sobre um álbum do Katro. Voltamos por isso com duas novas tracks do grande Proibido Ouvir Isto.

Será que a kota é fã...
ou espiã...
estou baralhado, está me deixar tan-tan..

Será que a dama é fã...
ou espiã...
'Ta me pedir para autografar o sutiã...

Puro Katro. A letra acima é do som Quarentona Atraente, que rápidamente se tornou um dos brindes mais conhecidos do disco. Na música, o Katro é seduzido por uma quarentona que aparenta ser um grande fã do músico e conhecedora íntima da sua vida. Depois, já no quarto da dita cuja, o Katro descobre que ela é uma agente da SINFO, que depois acaba por o matar logo antes de fazerem amor. Só mesmo o Katro. 


A próxima música, Tou na Fronteira, relata a experiência do Katro já no céu, após a sua morte. Posto lá, o mano conhece finalmente o Cherokee, jovem que foi morto pela Guarda Presidencial do presidente angolano por cantar uma das músicas do MCK enquanto lavava um carro (história verídica). No palácio celestial, o Katro conhece várias figuras importantes na história da humanidade. Vê o Karl Marx a ler uma bíblia, aparentemente convertido, enquanto o Savimbi solta uma gargalhada, testemunha o profeta Mohammed a apaziguar uma briga entre militantes da Al Qaeda e dos Taliban, gala o David Zé e o Teta Lando, e vê dançar a Miriam Makeba. Ele canta:



Tu tens que ter fé

Tu tens que ser forte

Acredita
Há vida depois da morte.

Bonus

Nesta séria há sempre uma surpresa. O vídeo acima é de uma pequena reportagem da AFP sobre o Katro, e video seguinte é o clip oficial do Nome, Rimas e Palavras.

Wednesday, October 10, 2012

Vaivém, by Leonardo Wawuti (Poema de Massalo)

O poema é do Massalo; a música, neo-soul de leve, suave e tenra, é do Wawuti; o desenho, lindo e acolhedor, é da Joana. E no desenho, os versos do Massalo, musicados pelo Wawuti, são legíveis e ganham vida...

Brevemente, o leitor poderá ter este lindo projecto, totalmente financiado pelo público angolano, nas suas mãos. Mas agora, neste momento, já pode ter o Vaivém nos seus ouvidos. 
Wawuti no estúdio a gravar "Vaivém"
Carregue no play mais à baixo e como sempre, faça 'right-click - save target as' para fazer o download da música.

Vaivém

Saturday, October 6, 2012

Brevemente / Coming Soon: Os Melhores Álbuns Lusófonos de 2011 / The Top Lusophone Albums of 2011


This is comical, really. I usually do this post right before year's end, so this was due back in December of 2011. But certain life events have prevented me from listening to many of last year's albums, let alone write about them. Would you believe it that only last week I finished listening to all of the 2011 albums I had set aside, almost a full year after it's release? Comical, really. But 2011 was a year in which a lot of exciting albums were released, some of them personally more important than others. Aline Frazão's debut album, Clave Bantu, was, of course, one of them. As were MCK's Proibido Ouvir Isso and the second installment of the Inna Week series, Lover's Rock.

It was also a year in which Lusophone music continued to take its place in the world stage. Stellar new singers such as Luísa Sobral emerged right here in the United States as opposed to her native Portugal, and was nominated to various awards during her stay in Boston's Berklee College of Music; Buraka continued to sell out concerts around the world, while Batida and Terrakota continued to play in huge musical festivals around Europe; Conjunto 70 was invited to play at WOMEX.

Below you will find a shortlist of what I think are the best Lusophone albums of 2011. As I've said before, I am no professional music critic, have never studied music seriously, and have not heard ALL the Lusophone albums released in 2011; thus, this should not be considered a definitive ranking. But as a man who consumes, breathes and lives Lusophone music, and who unashamedly lives in a Lusophone music bubble, this is my list:
What about you, which albums have you absolutely loved? Stay tuned for the ranking, coming soon!

Isto até chega a ser cómico. Normalmente faço este post mesmo antes do fim d'ano, por isso deveria ter saído em Dezembro de 2011. Mas certos acontecimentos familiares, nacionais e pessoais foram adiando  a própria escuta dos álbuns em questão; sem escuta prévia é impossível sequer escrever sobre as delícias sonoras deste ano. Por exemplo, só na semana passada é que finalmente acabei de ouvir em condições todos os álbuns de 2011 que tinha pre-seleccionado. Cómico! Mas 2011 foi um ano que viu nasceu muitos álbuns de boa qualidade, alguns deles mais próximos ao meu coração que outros. Falo, por exemplo, do Clave Bantu da amiga Aline. Mas há outros, como o Proibido Ouvir Isso do mano Kapa, e o segundo projecto Inna Week, o Lover's Rock.

Foi também um ano em que a música lusófona continuou a crescer mundialmente e a expandir a sua audiência e nível de influência. Artistas da "nova vaga", como a portuguesa Luísa Sobral surgiram aqui mesmo nos Estados Unidos em vez de Portugal ou outro país lusófono; a Luísa foi nomeada para vários prémios enquanto ainda frequentava a Berklee College of Music em Boston. Os Buraka então, já nem se fala. Continuam a lotar salas à volta do mundo. Grupos como a Batida e os Terrakota andam a dar um sabor lusófono a muitos festivais de verão espalhados pela Europa; na banda, o Conjunto 70 tocou no WOMEX.

Acima está a minha lista do que penso ser os melhores álbuns lusófonos de 2011. Como tenho sempre dito, não só crítico de música profissional, nunca estudei a música seriamente, e não ouvi TODOS os álbuns lusófonos que saíram em 2011; por isso, isto não pode ser considerada uma lista definitiva. Mas como um homem que consome, respira e viva música lusófona, dia após dia, mês após mês e ano após ano, pra depois vir aqui escrever sobre ela, eis a minha lista, acima.

E tu, quais albuns achaste verdadeiras obras de arte? Em breve, o ranking dos 10 melhores álbuns!

Wednesday, October 3, 2012

Caipirinha Lounge Apoia: O Mar Também Tem Núvens, por Massalo Araújo e Joana Taya


"E se de repente, assim tipo nada, pudesses ser o co-autor de um livro, o que farias?"

O Caipirinha Lounge tem muito orgulho em ser um dos sponsors oficiais de um projecto inovador, arrojado e muito lindo: o livro O Mar Também Tem Nuvens, uma colecção de poemas do nosso conhecido Massalo com ilustrações da excelente designer angolana residente na Noruega, a Joana Taya. Será um livro totalmente patrocinado pelo público angolano. É um projecto ímpar em Angola: fará uso do conceito de crowdfunding (financiamento colectivo), popularizado pelo Kickstarter e trazido a lusofonia pelos nossos parceiros, a plataforma Zarpante, para publicar uma obra de arte.

Para mais informações, consulte as páginas Facebook do projecto:

https://www.facebook.com/OMartambemtemnuvens

https://www.facebook.com/OMartambemtemnuvens/info

https://www.facebook.com/notes/massalo-o-mar-tamb%C3%A9m-tem-nuvens/o-mar-tamb%C3%A9m-tem-nuvens-perguntas-frequentes/448720088503877


Late Night Lounge Vol. 43 - Equilibria (Instrumental)

It’s a simple track really, instrumental and thus without a single lyric...unless you count Sabrina's whispers. But I find it incredibly soothing after a long day of work. Chilled, rhythmic, head-bobbing stuff. It goes brilliantly with a glass of chilled wine or whatever else you serve yourself to unwind. You can find Equilibria (Instrumental) on singer-songwriter Sabrina Malheiros album Vibrasons (which we talked about here), a collection of the Brazilian’s songs from her debut effort (also named Equilibria) remixed by various DJs.

Equilibria (Instrumental), however, doesn't list a single DJ as a remixer. Did Sabrina remix it herself?

Equilibria (Instrumental)

É uma faixa simples, até. Instrumental, sem letra alguma...a não ser que os sussuros da Sabrina sejam considerados "letra". Mas acho-a incrivelmente tranquilizadora depois de um dia longo de trabalho. É chilled, rítmica, e faz balançar a cabeça. É brilhante com um copo frio de vinho branco ou qualquer bebida que escolher para desanuviar. Pode encontrar Equilibria (Instrumental) no álbum Vibrasons da cantora brasileira Sabrina Malheiros (já explorado aqui), uma colecção de remixes das músicas do seu primeiro disco, coincidentemente também chamado Equilibria.

Normalmente as remixes estão a cargo dos DJs convidados, mas, curiosamente, no caso da Equilibria (Instrumental) não aparece o nome de nenhum DJ...talvez a Sabrina tenha feito ela própria a remix...

Thursday, September 20, 2012

Caipirinha Lounge Cinema: Desespero, by Jorge Fernando feat. Dino e Virgul


As personagens: Jorge Fernando, Virgul, e o Dino. E claro, a dancer Marta Gorgulho.

A música: Desespero.

O resultado: Sublime. Ínumeros repeats e replays. Ainda não me cansei desta música. A maneira que as vozes do Jorge, do Virgul e do Dino jogam uma com a outra é quase perfeita. O vídeo em si também é captivante e único...

A informação:
Chamam-lhe Fado" é o nome do 12º disco de originais de Jorge Fernando, editado no dia 10 de Setembro de 2012. Jorge Fernando é um nome incontornável da música portuguesa e, em particular, do Fado. Guitarrista e compositor de Amália Rodrigues, autor e compositor de alguns dos fados mais cantados, imortalizados em vozes sublimes como Amália, Mariza, Ana Moura, Fábia Rebordão e Fernando Maurício, Jorge Fernando é uma figura primordial do Fado em Portugal. "Desespero" é o single de apresentação com a participação de Dino d´Santiago e Virgul, dos Nu Soul Family, e Guilherme Banza.

Sunday, August 26, 2012

E Kume Meu?

If A Tribe Called Quest sang in Portuguese, they would probably sound like this.

E Kume Meu is one of Coca o FSM's oldest jams, and it's rhythm and flow is an ode to pure old school hip-hop; you can easily hear the influence of groups like the aforementioned A Tribe Called Quest. I first heard this song off my cousin Songay's playlist, back when Myspace was all the rage and Coca o FSM had a page where he would release joints like this one. E Kume Meu is Angolan slang for "what's up man?" Don't worry if you can't understand the lyrics; just appreciate the work of one of Angola's most underrated, most versatile musical characters.

E Kume Meu?

Se A Tribe Called Quest cantasse em português, provavelmente soariam assim.

E Kume Meu é dos brindes mais antigos do Coca, e o ritmo e flow faz me lembrar hip-hop antigo, dos puros; ouve-se a influência de grupos como o supracitado Tribe Called Quest. A primeira vez que ouvi este som foi graças ao meu primo Songay, ainda no tempo do Myspace; aliás, esta música ainda consta no Myspace do Coca. Mas não é que o mano esteje a tentar ser americano ou a rimar em inglês; está mesmo a rimar em 'angolano', que é para além do português, e ouve-se 'Vila Alice' em vez de Brooklyn ou outra realidade qualquer. E para os manos que não sabiam que o Coca também rapa, bem, aqui vai a novidade.

Saturday, August 25, 2012

Batida 'ta sair bem...!

O Público disse isso acerca da actuação do grupo Batida no festival Bons Sons, na aldeia portuguesa de Cem Soldos:
Um concerto dos autores de Dance Mwangolé não é simplesmente um concerto. É uma vibrante celebração musical, uma performance activista, um festim de ritmo e de dança. Os sons da Angola da década de 1960 e 1970 transformados matéria do presente: o ritmo electrónico dos musseques, o kuduro agora globalizado, entra na dança, as imagens de arquivo projectadas ganham cor de pinturas tribais e, enquanto a dikanza (conhecemo-la como reco-reco) e as congas se lançam à base rítmica popular da música, a batida electrónica e as vozes (ora hip hop apontado ao coração do poder angolano, ora chamamento para repetir por quem ouve – “Yumbalá!”) transformam esta música numa síntese de tempos e estéticas irresistível.

Frente ao Palco Lopes Graça, ancas meneavam o melhor que podiam, crianças mexiam-se, homens feitos em tronco nu entregavam-se a toda aquela luxúria rítmica. Houve “combate” entre dançarinos e dança de máscaras tribais, houve homenagem a Luaty Beirão, o Ikonoclasta, membro de Batida que é actor importante na mobilização da sociedade civil angolana e nome deveras incómodo para o poder de Eduardo dos Santos, houve uma celebração imensa da vibrante cultura musical angolana que contagiou a multidão que assistia. No final, Pedro Coquenão, Birú, Catarina Limão e restantes comparsas reduziram tudo ao essencial: só as vozes, a dikanza e as percussões. “Batida!”, gritaram, primeiro. “Cem Soldos”, gritaram por fim.
Podem ler o resto do artigo aqui. Já agora, fica aqui o som Yumbalá para agitar um pouco o vosso sábado.

Yumbala (Nova Dança)

Tuesday, August 21, 2012

Saudades de Lisboa - Milagrário Pessoal, by António Zambujo

Lisboa tratou-me muito bem – foi boa comigo, como sempre. Há muito tempo que não passeava pela cidade, à pé ou de carro, bebendo da sua história. Foi bom redescobrir a cidade com amigos, novos e velhos, entre as ruelas da Mouraria, Alfama, Bairro Alto e Cais do Sodré, entrando em bares de onde saía música ao vivo e às vezes reencontrando os ritmos da banda. Porque senti Luanda em diversos pontos da cidade. Foi bom ser acariciado pelo calor da lusofonia, dos sotaques que me são familiares, pela comida caseira que há muito não saboreava. Foi excelente o contacto espontâneo com a música que tanto adoro, música que perfumava o ar nos vários bairros que visitei. Foi bom sentir o pulsar de uma cidade que será o eterno ponto de encontro das culturas e dos povos que pela força do destino se expressam em português. Enfim, foi bom matar as saudades.

A música que ouvem é do António Zambujo, dando aquele seu toque único à uma letra do José Eduardo Agualusa. Chama-se Milagrário Pessoal e engloba perfeitamente o espírito da cidade e a amizade que me fez conhecê-la por dentro.

Dentro de ti ouço passar 
o queixume dum quissange 
uma guitarra que tange 
uma cuíca que ri. 

Escuto o alegre pulsar 
De Lisboa, Rio, Luanda 
O murmúrio da Kianda 
O cantar do bem-te-vi.

Milagrário Pessoal

Lisbon was quite good to me, as always. Beautiful, bright sunny days, not a drop of rain, perfect, crisp nights. It had been awhile since I walked its streets or was driven through this charming, weathered city, a city that likes to remind itself of its imperial past. It was good to rediscover Lisbon with a few choice friends, old and new, and wander the narrow cobblestone streets of Mouraria, Alfama, Bairro Alto and Cais do Sodré, randomly going into bars that played live music and sometimes finding that the music wasn’t even Portuguese but rather from home: Angola. I felt Angola’s presence in various parts of the city. Or at least the sort of ‘presence’ that our people bring. It felt like a homecoming of sorts, to be in the midst of Lusophone culture and the familiar smells, the familiar accents, the familiar homemade meals that I haven’t eaten in many months, and of course, the music that I love. It was everywhere, in the bars, the restaurants, and the streets. In people’s homes and cars. And it sounded just like Luanda...or Rio...or Benguela...or São Paulo.It was a pleasure to feel the pulse of the city that’s become the eternal convergence point of people from around the globe that are united by their common, bounding factor: the Portuguese language.

The song you hear above is by António Zambujo, the portuguese crooner; the lyrics are by José Eduardo Agualusa, the Angolan writer. It's called Milagrário Pessoal and it perfectly celebrates the spirit of both the city and the friend that helped me get to know it from within. 

Friday, August 17, 2012

Caipirinha Lounge Apoia: Gira Disk Conexão

 
O Lounge Apoia! É já neste dia 23 de Agosto, no famoso B.Leza em Lisboa. Antes, ouvia só falar no nome e não sabia bem do que se tratava; hoje, depois de ter visitado o espaço durante a minha estadia em Portugal na semana passada, já posso falar com propriedade que o B.Leza é um lugar apaixonante, perfeito para concertos e a apreciação de música em geral. Que sítio fantástico, com gente simpática de todas as esferas sociais. Na noite em que fui, dancei lá uns kizombas e uns sembas depois de mais de um ano e meio sem pisar em pistas de danças lusófonas...foi como matar a sede. Sem mais rodeios, o comunicado dos nossos parceiros da Conexão Lusófona:
A Conexão Lusófona, movimento de jovens da Lusofonia, promoverá uma noite temática, no próximo dia 23 de Agosto no B.Leza em Lisboa.
"Gira Disk Conexão" é o nome do evento, que em formato de baile, que revisitará clássicos dos anos 60 e 70 interpretados por uma nova geração de lusófonos.

Bob da Rage Sense, Dino d'Santiago, Selma Uamusse, Tamin e Tiku prestam tributo às suas influências num evento que promete fazer com que todos viagem no tempo e não parem de dançar!
Parte das receitas deste evento reverterão a favor do novo site da Conexão Lusófona que promoverá as artes, o turismo e as oportunidades profissionais no espaço da Lusofonia.
Um cruzamento entre o passado e o presente, de olhos bem postos no futuro. Lisboa promete ferver aos ritmos da Conexão!
Contamos convosco na divulgação, na presença e apelamos a que todos se vistam a rigor!

Tive a oportunidade e o prazer de participar na escolha das músicas; só para vos dar um dar um cheirinho do que está para vir, aqui vai a versão original de Chove Chuva, do Jorge Ben Jor, que consta no seu primeiríssimo disco, Samba Esquema Novo, saído no longíquo ano de 1963. Relíquia!

Chove Chuva

Thursday, August 16, 2012

A Sonoridade da Fotografia: Massalo Photography on Caipirinha Lounge, Vol. 13


The photo is to be appreciated, for minutes at a time. Or at least for the duration of Norah's beautiful composition. For the characters in the photo are listening to it too...

Massalo Photography is back at the Lounge.

I've Got to See You Again

A foto é para ser admirada, por longos minutos. Ou pelos menos pela duração desta bela música da Norah. É que as personagens na foto também a ouvem...

Massalo Photography está de volta ao Lounge.


***

*Para saber mais sobre a séria 'A Sonoridade da Fotografia' que conta com a participação do fotógrafo angolano Massalo Araújo, faça click aqui. // To learn more about the Sonoridade da Fotografia series featuring the Angolan Massalo Araújo's photography, click here.

Caipirinha Lounge Cinema: Pas de Deux, by Thiago Pethit

Where is Brazilian music going?

When people ask me about Brazilian music I'm always tempted to talk about bossa nova and ramble on about António Carlos Jobim and Vinicius de Moraes; or perhaps I talk about the versatility of MPB and point to the brilliant Seu Jorge as an example of all that's great about the genre. Lately however the script has changed; it's hard not to notice the emerging talent of musicians such as Tulipa Ruiz and the subject of this post, Thiago Pethit. The music that they are making is something truly unique and truly innovative. On August 20 Thiago Pethit is coming out with a new album, Estrela Decadente, and one of Brazil's best, Kassin, is in charge of production; Pas de Deux is the album's first single. This is where  Brazilian music is going.


Pas de Deux

Pra onde vai a música brasileira?

Quando as pessoas que nunca ouviram como deve ser a música brasileira perguntam-me sobre ela, dou por mim sempre a divagar sobre as delícias da bossa nova, talvez com destaque especial ao António Carlos Jobim ou ao Vinicius de Moraes; outras vezes falo da versatilidade do MPB e realço quão brilhante é o Seu Jorge, apontando-o como exemplo de tudo que é bom na criatividade brasileira. Mas ultimamente o discurso mudou - é difícil não reparar na lufada de ar fresco que trazem músicos como a Tulipa Ruiz e o Thiago Pethit, a personagem principal deste post. A música que eles e a sua geração está a fazer, a criar, é algo realmente único, realmente inovador. No dia 20 de Agosto o Thiago Pethit lançará o seu novo álbum, de nome Estrela Decadente, produzido por nada mais nada menos que o Kassin; Pas de Deux é o primeiro single do disco. É por aí que vai a música brasileira

Thursday, July 26, 2012

One Take Series, by Dino d'Santiago

Lounge favorite Dino is back, and what a return. I loved Eu e os Meus (remember Amanhã? How could one forget?), but I'll confess that I didn't give his next musical projects, including his award-winning stint with Nu Soul Family, the attention they deserved. Perhaps I'll revisit them in the near future...

What inspired me to write this post however was the Dino I see today; the Dino I see today is as versatile and as talented as ever, but also truer to his roots: for this particular reincarnation, he's known as Dino d'Santiago and will sing exclusively in creole and Portuguese.

And it's been a spectacular treat. The Dino I hear is pure and raw; it's that Dino that we heard in the song Mamã with Tito Paris. You can see the simple beauty of Cape Verdean music in the video he does below with my beloved Sara Tavares; you can marvel at the afro-portuguese fusion he executes to perfection with Pedro Mourato and Gileno Santana on the following video. The sound is so inviting and pristine that you could be forgiven for almost forgetting the cinematography and the beauty of these locations. What a breath of fresh air...



O nosso querido Dino está de volta, desta vez com "nova roupagem". Adorei Eu e os Meus (ainda lembram-se do Amanhã? Como esquecê-lo?), mas confesso que não prestei o mesmo grau de atenção aos seus próximos projectos e colaborações, incluindo a sua exitosa temporada com os Nu Soul Family. Talvez os poderei revisitar num futuro próximo...

O Dino que vejo hoje é o mesmo Dino, sempre versátil e majestosamente talentoso, mas é também um Dino que reencontrou a sua identidade: agora chama-se Dino d'Santiago e nesta sua nova empreitada, cantará somente em criolo e português.

E tem sido espectacular. Oiço um Dino puro, cru, roots, aquele Dino que ouvimos na música Mamã com o Tito Paris. É ver o vídeo abaixo com a minha amada Sara Tavares e admirar a simples beleza da música crioula; é ver o vídeo com o Pedro Mourato e Gileno Santana e ouvir a maravilha desta fusão afro-portuguesa. Isto para não falar na cinematografia de cada vídeo. Que lufada de ar fresco...


Sunday, July 22, 2012

Quinto, by António Zambujo

Among Portugal’s new generations of Fado singers is António Zambujo, one of my favorite contemporary Portuguese musicians and a figure with which readers of the Lounge are familiar with. Quinto is the name of his critically acclaimed fifth studio album, an album that’s a pleasure to listen to during quiet, introspective, solitary nights, or perhaps with intimate company. At least that’s the way I personally like to consume Zambujo’s albums; I’m sure everyone has their quirks.

The Zambujo we’re hearing on Quinto is an accomplished, poetic, inspired one, a Zambujo that has firmly cemented his place among Portugal’s no longer emerging but rather established artists, a singer who is sure of his craft and who delights himself in it. Standout tracks include Flagrante, especially if you understand it’s naughty lyrics; the jazzy, sparse, minimalist Não Vale Mais Um Dia, and the humorous Fortuna. One of Zambujo’s greatest strengths is his ability to combine beautiful melody with beautiful lyrics; this album is reason alone to learn Portuguese.

Press play and serve with wine.

Flagrante
Não Vale Mais Um Dia
Fortuna

Entre a nova geração de fadistas portugueses está o António Zambujo, um dos meus cantores portugueses preferidos da actualidade e um cantor cujos leitores habituais do Lounge já conhecem. O nome do álbum, Quinto, não deixa as mínimas dúvidas a brilhante trajectória discográfica deste cantor. É um disco que adoro ouvir em noites calmas, lentas, introspectivas e solitárias, ou com companhia íntima. Pelo menos é assim que gosto de saborear os álbuns do Zambujo; já outros leitores podem ter outros tiques.

O Zambujo que escutamos em Quinto é um Zambujo maduro, realizado, poético, inspirado, um Zambujo que merecidamente conquistou o seu espaço no panorama musical português. Um cantor que foi de talento emergente para talento consagrado e estabelecido. Um cantor que está ciente da beleza da sua arte e que adora o que faz. Músicas que oiço várias vezes seguidas incluem Flagrante, cuja letra tem o dom de fazer o leitor sorrir com um sorriso cúmplice; Não Vale Mais um Dia, uma composição linda, um poema com alma de jazz, leve e minimalista; e Fortuna: “não tenho nada em meu nome, só mesmo o fado que faço...” Um dos pontos fortes do Zambujo é a sua habilidade em compor poemas lindas e acompanhá-los com melodias ainda mais belas; este álbum é um poema sonoro.

Carrega no Play e serve um vinho tinto para acompanhar.

Ikono no Okayplayer, Nancy Vieira no Womex, Batida no Soundway!!

É o que digo, música lusófona está bateire. Recebi duas excelentes notícias do blog dos manos do Grasspoppers, Afro LX, um blog que muito aprecio, e a terceira notícia recebi do Okayplayer em formato de entrevista a um mano que muito admiro. Detalhes em baixo!

It's what I keep saying, music in Portuguese is going places. If it's not "there" already, wherever "there" is. I got two pieces of excellent news from one of my favorite blogs, Afro LX, run by my brethren from Grasspoppers, and the other from Okayplayer:


A cantora caboverdeana Nancy Vieira foi selecionada para fazer parte no WOMEX, prestigiando assim o evento com a sua linda voz e cimentando o seu lugar como uma das cantoras mais importantes daquele arquipélago;


Nancy Vieira of Cape Verde was invited to play in WOMEX, further establishing herself as one of the islands premiere voices;




A banda luso-angolana Batida assinou pela Soundway Records e tem agora a possibilidade de espalhar o seu "vintage kuduro" para uma audiência verdadeiramente mundial; estou muito feliz pelos gajos, que neste preciso momento se encontram na Europa a tocar mambos como Alegria a personagens que nunca antes tiveram contacto com este tipo de energia;

Batida has signed for international record label Soundway Records, which further allows them to disseminate their highly contagious, infections brand of kuduro which is unlike any other; at this precise moment they're doing a tour of Europe, playing stuff like Alegria, the likes of which their awe-struck audience has never even fathomed;




Por fim, o mano Ikonoklasta (Luaty Beirão) foi entrevistado por nada mais nada menos que os bradas do Okayplayer/Okayafrica, que tomaram interesse no facto que o mesmo sofreu uma tentativa de incriminação com o agora já famoso caso da cocaína na roda da bicicleta. A entrevista fala também sobre a repressão violenta e criminosa que estão sujeitos o Ikono e seus amigos, repressão esta que conta com o apoio estatal angolano.


And lastly but certainly not least, Ikonoklasta (Luaty Beirão) was interviewed by Okayplayer/Okayafrica regarding the brutal violent and criminal state-sponsored repression he and his friends have been subjected to since they decided to test their civil rights in Angola

Sunday, July 8, 2012

Late Nite Lounge Vol. 42: Seasons, by Plej

I've previously rambled about Plej on this site, writing about the exciting music they're making in Sweden right now; but time and time again, I find myself going back to their stellar debut album, Electronic Music from the Swedish Left Coast. Work has been brutal lately, and this is the perfect antidote. I play it from start to finish on the way across the river to Brooklyn, and by the time I get home to hook it up to my speakers the album is still going strong. My elixir of choice lately has been the song Seasons - the ultimate sundowner, perfect for these summer nights, whether you're surrendering to your bed or letting the night take you somewhere else. It doesn't get much better than this for soft house/electronica.

Seasons

divaguei sobre os Plej previamente neste espaço, onde escrevi sobre a contagiante música que se faz na Suécia estes dias. Mas cá estou novamente a falar-vos sobre este duo sueco e o seu álbum Electronic Music from the Swedish Left Coast, álbum este que saboreio vez após vez. Os dias no salo (trabalho, para vocês que não falam calão angolano) têm sido longos e brutais, mas este é o antídoto perfeito para desanuviar a mente. Toco-o do princípio ao fim no caminho do salo para casa, atravessando o rio entre Manhattan e Brooklyn, e quando chego a casa para conectar o iPod aos speakers, ainda resta muito álbum por tocar. Nestas últimas semanas o meu elixir sueco tem sido o som Seasons - uma música perfeita para o fim do dia e para estas noites de verão, adequada para aqueles dias em que a rendição à cama é inegociável mas também para as noites em que uma saída é indispensável. Em termos de soft house e electronica, músicas como esta estão no topo das minhas preferências.

Luanda International Jazz Festival 2012


It's back and truly better than ever. The calibre of the artists performing in the fourth edition of Luanda's most acclaimed musical festival is of an astounding level and reads like a who's who of the Lounge's favorite artists. I'm particularly happy and proud for Aline, whose career growth I and this site's oldest readers have accompanied since the earliest days of Caipirinha Lounge; I'm happy for Carmen Souza, whose career has flourished as well since we were first introduced to her; I'm happy for all the Angolans who will have the pleasure of seeing artists like Asa, Concha Buika, and Sara Tavares in downtown Luanda. Although one name in particular jumps out amongst all the others for its relative anonymity among musicians of this skill and prestige (Coreón Du's inclusion has caught many people by surprise - we hope to be proved wrong), it's made up for by the sheer class of the other participants. Let's have a look:

Está de volta e melhor do que nunca. O calibre dos artistas que irão actuar na quarta edição do mais aclamado festival de música em solo angolano é de um nível estonteante e inclui vários dos cantores preferidos do Lounge. Estou particularmente feliz pela Aline, cuja carreira tanto eu como os leitores mais antigos do Lounge tivemos o prazer de acompanhar desde os primeiros meses deste site; estou feliz pela Carmen Souza, cuja carreira também acompanhamos com vários posts neste espaço; e estou feliz por todos os angolanos e não só que terão o prazer de escutar ao vivo vozes como a da Asa, da Concha Buika, da Sara Tavares e outros em plena cidade de Luanda. Há um nome, porém, que não sei bem o que faz nesta lista de grandes ilustres da 'world music' e do jazz internacional (falo específicamente do Coreón Du - só me resta esperar por engolir as minhas palavras, se for caso disso), mas a qualidade dos outros músicos na lista abaixo compensa. Veremos:

Abdullah Ibrahim
Aline Frazão
Asa
Boyz II Men
Carmen Souza
Cassandra Wilson
Concha Buika
Conjunto Angola 70
Coreón Du
DJ Darcy
DJ Djeff
Etienne Mbappé
Hubert Laws
Ivan Lins
Maceo Parker
Manu Dibango
Marcus Miller
Ricardo Lemvo
Sara Tavares
Stewart Sukuma
Tóto

The event's organizers have stepped up as well. They have an all-new website, sleek, interactive and inviting; their Twitter account is active and up to date, and they're constantly on their Facebook promoting events at Miami Beach Restaurant and giving out tickets for free. As always, if you're in Luanda, you simply can't miss this.

Os organizadores do evento também não se fizeram rogados. Têm um website novo, lindo, interactivo e convidativo; uma conta do Twitter que desta vez fazem questão de usar; e uma página do Facebook cada vez mais activa e participada onde se promovem concursos. Isto para não falar dos eventos no Miami Beach, onde é possível ganharem-se bilhetes de graça. Como sempre, se estiver em Luanda, este é um evento a não perder. Simplesmente isso. 


luandajazzfest.co.ao/

Tuesday, July 3, 2012

"O álbum começa no domingo e termina no sábado": Parte IV

Créditos da Foto: MadTapes
We come back this Monday to continue our journey through Katro's Proibido Ouvir Isto,  with two fresh tracks off the burner. And what tracks we have here. I consider Na Fila do Banco as the strongest track on this album. The concept and the rhythmic flow are original very well done - Katro plays three different characters all waiting in line at the bank, each with a story to tell. Like many of MCK's songs, it's a social commentary that touches on rampant corruption, racism, discrimination, and white-collar crime. The characters are varied - there's Katro himself, noticing how the bank employees are all light-skinned and the only dark-skinned workers are the guard and the cleaning lady; there's the bank manager, who slept her way to the top and uses sex as barter; and there's a rich bank client who in cohorts with the government and got his money thru drug trafficking.

Circuíto Fechado is more of the standard self-aggrandizing rap song, in which MCK extols the strengths of his rap and his movement, with the usual disses and bravado - like I said, standard rap fare. Nonetheless it's one of my favorite songs on the album. The disses are welcome and on point. The delivery is stellar as always. And the featured artists are able to hold their own.

Na Fila do Banco
Circuito Fechado

Bonus Track


You know I wouldn't let you off easily with just two tracks. This third one is an independent single that Katro just put out earlier this month, called Eu Queria Morar Em Talatona. "I want to live in Talatona", he says on the track's chorus. Talatona is the chic, walled condominium neighborhood where Luanda's elite live. It's a humorous take on the enormous income disparity strikingly visible in Luanda. The song is a homage to Brazilian rapper Gabriel O Pensador's iconic rap, Resto do Mundo. You can hear it here.

Eu Queria Morar em Talatona

Voltamos esta segunda feira para continuar a nossa viagem proibida pelo novo álbum do Katro, que de tanto o ouvir já não tem lá muito de novo. Desta vez temos duas excelentes músicas para os vossos ouvidos ávidos de música de qualidade. Comecemos por Na Fila do Banco, a minha música preferida do disco. Mais uma vez o Kapa nos dá um ar da sua originalidade com este rap, onde o flow e as rimas são estonteantes, como o mano bem nos habituou. Neste som, o Kapa veste-se com três personagens distintas encontradas nas filas dos nossos bancos, e em 4 minutos e 23 segundos consegue fazer uma abordagem crítica de alguns temas tabús na nossa sociedade: o racismo, a discriminação, o dinheiro fácil, a prostituição, e o crime de colarinho branco. A primeira personagem é o próprio Kapa, que comenta sobre o racismo e a discriminação no banco: "Ta tipo Dom Q, até parece praga.."; a segunda personagem é a gerente do banco, que usa a prostituição como forma de subir na vida e ter o lifestyle que ela acha que merece: "Sustento a minha família, mesmo prostituta!"; a terceira personagem é um empresário de sucesso, sucesso este que vem de ser traficante de droga com ligações ao poder: "Sou traficante há dois anos com conta no BAI."

Circuíto Fechado é outra música que aprecio bastante neste álbum. É uma espécie de hino ao rap underground, ao rap que sustenta o movimento do Katro. Ao rap de verdade, de intervenção social, ao rap que toca na ferida. Gostei das inúmeras indirectas que o Kapa manda ("Batemos mais que Black Fofas e Coreon Dús") e sorrio sempre que toca o refrão:

Eu sou!
Circuito Fechado
Não dou!
No vosso mercado
Bajulador vai lá dar recado
Eu sou o underground por isso não fui comprado.


Também apreciei as participações do Da Bullz e o Agente Supremo - oferecem outra dinâmica ao som e mostram a diversidade e força do movimento.

Bonus Track

Os leitores mais assíduos deste site já sabem que nesta série há sempre uma surpresa. Sendo assim, e como fica mal deixar-vos só com duas músicas, deixo-vos também com o novo single do Katro, uma homenagem que o mesmo fez ao rapper brasileiro Gabriel o Pensador chamada Eu Queria Morar em Talatona. Foi inspirada na música Resto do Mundo do Gabriel, música esta que o leitor pode ouvir aqui. Provoca sorrisos para os manos que estão em Luanda e podem apreciar perfeitamente a letra do som!

Thursday, June 28, 2012

Angola: Passado e Presente da Música de Resistência

A Sara Moreira escreveu este brilhante artigo para o website Global Voices Online. É um artigo que examina o papel da música nos movimentos reivindicativos de Angola, tanto no período ante-independência como agora. Lembrou-me um pouco de um post que escrevi no Lounge e que chamei "O Grito Político do Hip-Hop Lusófono". O artigo da Sara realça a repressão violenta sofrida pelo movimento que hoje reclama contra a permanência de Dos Santos no poder há mais de três décadas; movimento este cujas personagens mais proeminentes são músicos. É, por isso, inevitável a comparação que ela faz com o movimento musical dos anos 70 que foi fortemente reprimido pelas autoridades portuguesas. Sem mais rodeios:

Angola: Passado e Presente da Música de Resistência
Por Sara Moreira


No final de Maio de 2012, a Amnistia Internacional reportou [1] que com a proximidade das eleições em Angola, estava a haver uma escalada da repressão contra a liberdade de expressão no país, nomeadamente contra músicos de intervenção. O comunicado pedia a investigação exaustiva e imparcial de um ataque violento contra um grupo de activistas críticos do governo, que incluía o rapper “Hexplosivo Mental [2]“.

Duas semanas mais tarde, a 11 de Junho, outro rapper que não esconde a sua oposição aberta ao governo, Luaty Beirão, também conhecido por Ikonoklasta ou Brigadeiro Mata Frakuxz [3]foi preso [4] no aeroporto de Lisboa, por alegadamente transportar cocaína na sua bagagem.

Nas redes sociais são muitos que acreditam que a verdadeira motivação da prisão de #Ikonoklasta [5] é política, já que a sua voz dissidente é uma das que tem ganho mais visibilidade desde que o descontentamento com o governo do PresidenteJosé Eduardo dos Santos [6], há 33 anos no poder, passou a tomar mais frequentemente a forma de protestos nas ruas, e nos palcos de Luanda. Em Março de 2011, Luaty foi preso numa manobra de antecipação do governo que acabou por anular a manifestação agendada para 7 de Março [7], e um ano depois foi espancado [4] por milícias pró-regime em Cazenga.

Viagem no tempo dos Ritmos de resistência

Ao mesmo tempo, a música da resistência angolana das décadas de 50 e 60 foi homenageada num encontro organizado pela associação sem fins lucrativos Centro Interculturacidade [8] em Lisboa, no início de Junho. Celebrando a presença de Amadeu Amorim, que integrou os históricos N'Gola Ritmos [9] [en], e numa viagem ao passado da música de intervenção, o blog Interculturacidade apresenta [10] o conjunto musical da seguinte forma:

motor da ideia de independência de Angola, e por isso perseguido. desmantelado e com vários dos seus elementos presos. Amadeu esteve longo tempo no Tarrafal e mais tempo esteve o líder do conjunto, Carlos Liceu Vieira Dias.
Numa entrevista publicada [12] no blog Nós Por Cá, de Silvia Milonga, em 2002, Amadeu Amorim explica “o que era o N’gola Ritmos no contexto social e político” de então:
No fundo, era uma rebelião pacífica, tentando despertar consciências adormecidas, que não acreditavam em mais nada, eram 500 anos de colonização. Não havia televisão, nem rádio para toda gente, os jornais não chegavam aos musseques nem ao interior do país e nós sabíamos que uma canção ficava presa no assobio, no cantar. Na LNA quando cantávamos em kimbundu, as pessoas viravam a cara meias envergonhadas, chamavam-nos os mussequeiros. Algumas pessoas no meio daquela malta que estavam acordadas, entediam porque cantávamos em kimbundu, mais tarde outros apareceram a dizer que falavam ou cantavam em kimbundu. Chegamos a rádio Esperança, uma rádio que transmitia de Brazaville, ouvida às escondidas. A nossa canção era a única que existia, as pessoas ouviam a rádio e o N’gola Ritmos, passando a mensagem de que não chegamos ao fim, vamos começar agora.
Continue a ler aqui.

Angola: Rhythms of Resistance, Past and Present


Sara Moreira wrote this brilliant article for Global Voices Online, examining how music has played such an important part in the resistance movements of the Angolan people, both in the late 60s and early 70s as well as right now. It reminded me a bit of an article I wrote a couple of years ago highlighting the charged political leanings of Lusophone hip-hop. Sara's article puts the spotlight on the persecution and violent repression of the movement that has recently been protesting against Dos Santos' three-decades-old rule; the most prominent people in this movement, it turns out, are invariably musicians. It's therefore inevitable that parallels are drawn between the repression of pro-independence musicians back in the 70s. Read on:

Angola: Rhythms of Resistance, Past and Present
by Sara Moreira

On 24 May, 2012, Amnesty International reported [1] that as the August elections in Angola approached, intimidation and violence against freedom of speech was expected to escalate, including that against political musicians. The report called for a full and impartial investigation into a violent attack against a group of anti-government activists, which included rapper Hexplosivo Mental [2].

Two weeks later, on June 11, another artist, known for his open opposition to the government, Luaty Beirão, also known as Ikonoklasta or Brigadeiro Mata Frakuxz, was arrested [3][pt] at the airport of Lisbon, for allegedly carrying cocaine in his luggage. On social media, many people commented that the real reason behind #Ikonoklasta [4]'s detention was political. In recent times, the rapper's voice of dissent has become more and more visible, as he openly lent support to the frequent street protests in Luanda where dissidents have been holding demonstrations to voice discontent with the government of President José Eduardo dos Santos [5], who has been in power for 33 years now.

Previously, Luaty had been arrested in March 2011, in a preemptive maneuver [6] by the government which resulted in the cancellation of the proposed large-scale, anti-government demonstrations scheduled for March 7,2011. One year later he was attacked [3] [pt] by pro-regime militias in Cazenga.

Time travelling to other ‘rhythms' of resistance


In a journey to another time of Angolan music of resistance, the historical group N'Gola Ritmos [7] from the 50's and 60's, was honored by the non-profit association Centro Interculturacidade [8] [pt] in Lisbon, in the beginning of June, 2012. Celebrating the presence of Amadeu Amorim, one of the members of N'Gola Ritmos [7], blog Interculturacidadepaid [9] [pt] a tribute to the group, which was described as:

Motor da ideia de independência de Angola, e por isso perseguido. Desmantelado e com vários dos seus elementos presos. Amadeu esteve longo tempo no Tarrafal e mais tempo esteve o líder do conjunto, Carlos Liceu Vieira Dias.

(Force behind the idea of independence in Angola, and thus persecuted, dismantled, and several of its members arrested. Amadeu was long time in Tarrafal [prison camp [11] in Cape Verde] - and the leader of the group, Carlos Liceu Vieira Dias, (was in prison) even longer.)


In an interview published [12] [pt] on the blog Nós Por Cá, by Silvia Milonga in 2002, Amadeu Amorim explained “what N’gola Ritmos stood for in the social and political context” back then:
No fundo, era uma rebelião pacífica, tentando despertar consciências adormecidas, que não acreditavam em mais nada, eram 500 anos de colonização. Não havia televisão, nem rádio para toda gente, os jornais não chegavam aos musseques nem ao interior do país e nós sabíamos que uma canção ficava presa no assobio, no cantar. Na LNA quando cantávamos em kimbundu, as pessoas viravam a cara meias envergonhadas, chamavam-nos os mussequeiros. Algumas pessoas no meio daquela malta que estavam acordadas, entediam porque cantávamos em kimbundu, mais tarde outros apareceram a dizer que falavam ou cantavam em kimbundu. Chegamos a rádio Esperança, uma rádio que transmitia de Brazaville, ouvida às escondidas. A nossa canção era a única que existia, as pessoas ouviam a rádio e o N’gola Ritmos, passando a mensagem de que não chegamos ao fim, vamos começar agora.
Basically, it was a peaceful rebellion, trying to awaken dormant consciences, who did not believe anything else, seeing the 500 years of [Portuguese] colonization. There was no television or radio for everyone, the newspapers did not reach the slums or the interior of the country and we knew that a song stayed stuck in a whistle, in singing. In the LNA [Angolan National Liberation] when we sang in Kimbundu, people turned their face half ashamed, they called us ‘mussequeiros' [a mention to people from the slums, musseques in Portuguese]. Some people amidst those guys who were awake, understood why we sang in Kimbundu, others showed up later saying that they spoke or sang in Kimbundu. We made it to Esperança (Hope) Radio, a radio broadcast of Brazzaville, heard in secret. Our song was the only one that existed, people were listening to the radio and to N'gola Ritmos, the message saying that we hadn't come to an end, we are just starting, was in the loop.

Read the rest of the entry here. // Continue a ler aqui.


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