Sunday, August 22, 2010

Até Quando? por Gabriel o Pensador

Gabriel o PensadorOnce in awhile (or more often than not, depending on your patience, your optimism), Luanda can become a difficult, bureaucratic beast. Or worse, a repressive concrete slum jungle full of contrast and contradiction. Once in awhile you'll cease to see the beauty of the Marginal, the serene view of Luanda as seen from Miramar, the way the São Miguel Fort lights up against the backdrop of the night sky. Once in awhile it gets to you: the injustice, the inequality, the crime, the police brutality. The corruption, the obscene display of ill-gotten wealth, the rampant unemployment, the kids that aren't in school, the omnipresent dust. The slums, the potholes, the increasingly paranoid, oppressive regime. But what gets me the most is the attitude. The mentality. And above all, the impassiveness of the people in the face of such avoidable adversity. Até Quando? (Until When?)

In the lusophone world we seem to share the same problems. Até Quando is a politically charged, socially conscious, call-to-arms anthem by Gabriel o Pensador, one of Brazil's brightest rappers. Though he's a rap artist in the traditional sense - Gabriel's raps are a lot more influenced by rock and popular Brazilian music genres than by anything else. Até Quando, from Gabriel's 5th studio album Seja Você Mesmo (Mas Não Seja Sempre o Mesmo) is a great example. For those who understand Portuguese, or can spot true talent when they hear it regardless of the language, and/or who live in Luanda and want to hear a song that vents for them, that expresses their frustration, give Até Quando a listen.

Até Quando?

De vez em quando (ou, dependendo do seu grau de paciência e optimismo, regularmente), viver em Luanda pode-se tornar um exercício difícil, um bicho burocrático de sete cabeças. Ou pior, pode significar vive numa repressiva selva de betão, cimento e poeira, repleta de contastes e contradições. De vez em quando, paras de ver a beleza da Marginal. A vista de Luanda à partir do Miramar deixa de te seduzir, e a maneira que a Fortaleza de São Miguel acende à noite já não te diz nada. De vez em quando, é difícil escapar a realidade por baixo da beleza. A outra Luanda. A da injustiça gritante, da desigualdade social, do crime, da brutalidade da polícia. A Luanda da corrupção, das obcenas amostras de riqueza conseguida de maneiras menos honestas, do desemprego avassalador, dos putos que não estão a estudar mas sim a vender cigarros, da poeira omnipresente. A Luanda dos musseques sem as mínimas condições de vida, das estradas cómicamente esburacadas, do regime cada vez mais paranóico e opressivo. Mas o que mais me espanta é a atitude das pessoas. Da sua mentalidade. E acima de tudo, do seu pensamento de "deixa-estar", de impotência, de preguica, perante tamanha desgovernação ou mesmo perante si mesmas. Até Quando?

No mundo da lusofonia, às vezes partilhamos das mesmas "mazelas", dos mesmos problemas. Até Quando é uma música politicamente carregada e socialmente consciente, um apelo ao nosso espírito de justiça, um hino à nossa dignidade como cidadãos e seres humanos. É da autoria do rapper brasileiro Gabriel o Pensador, um dos rappers mais inteligentes daquele país irmão. Se bem que ele não é um rapper do estilo ao que estão habituados, porque musicalmente as suas influências partem muito mais do rock e de estilos sonoros brasileiros do que o rap chamado tradicional. Até Quando, do seu quinto álbum de estúdio, Seja Você Mesmo (Mas Não Seja Sempre o Mesmo), é um exemplo da sua sonoridade. Para todos aqueles que vivem em Luanda e de vez em quando mergulham em tais frustrações, Até Quando é uma música que grita, que clama, que descarrega pro ti.

-Photo by Festivaldeinverno

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