Wednesday, August 25, 2010

Uma tarde ao som de Ruy Mingas

Ruy MingasO sol finalmente se fez sentir, esta tarde, em Luanda. Entre o mar de centenas de carros afogandos no asfalto esburacado da cidade, viajava livre pelo ar uma brisa fresca, o último suspiro do cacimbo. Cheguei a casa exausto depois de uma maratona burocrática: finalmente consegui 'tratar' do meu BI novo, porque o meu antigo foi expirar logo ontém. Pus o iPod a rodar e qual foi a minha surpresa, agradável, em ouvir a voz conhecida do Ruy Mingas na canção triste do Monagambé.

Naquela roça grande
não tem chuva
É o suor do meu rosto
que rega as plantações

Naquela roça grande tem
café maduro
E aquele vermelho cereja
são gotas do meu sangue...
....feitas seiva....

Lembro-me que foi a primeira canção que eu alguma vez ouvi do Ruy Mingas, ainda quando era puto, nas andanças com o meu pai lá em Washington. Monangambé era uma das suas músicas preferidas angolanas. Ele a ouvia no carro vezes sem fim, ou a punha a tocar em casa depois de mais uma lição de história angolana. Monagambé, o explorado, o quase-escravo, na sua própria terra, condenado a colher café. Recebia, em troca,

Fuba podre
Peixe podre
Panos ruins, 50 angolares

Porrada, se refilares.


Para sempre associarei o termo Monangambé a esta canção do Ruy Mingas. São inseparáveis no meu cérebro, sinónimos mentais.

Hoje em Luanda ainda chamam monangambé às pessoas que viajam na carroça das carrinhas, mesmo se são chineses com os seus fatos cor de laranja berrante a caminho de uma obra qualquer. E já agora, já que o tema é Ruy Mingas, fiquem também com a Homenagem a Liceu Vieira Dias, instrumental acústica a um dos grandes nomes da música angolana. Bem haja, kota Ruy Mingas.

Monangambé
Homenagem a Liceu Vieira Dias

4 comments:

Fernando Ribeiro said...

Prezado Cláudio,

O monangambé, como é que ele vivia e como é que ele era tratado foram assunto de um artigo que escrevi para o blogue "Mukandas do Monte Estoril", a convite do proprietário deste. Não fiquei satisfeito com o texto, que ficou muito palavroso, mas procurei retratar a realidade, tal como ela era no tempo do colono.

Um dia destes, talvez eu reescreva completamente o texto e o publique no meu próprio blogue, devidamente acompanhado pela canção de Rui Mingas (que agora assina Ruy com Y, vá-se lá saber porquê...).

Se tiver curiosidade em saber o que escrevi, aponte o seu rato para o seguinte link:

http://huambino.blogs.sapo.pt/84610.html

johanna said...

ola Claudio, ja faz tempo que nao parei por aqui. Os meus ouvidos te agradecem do fundo do coraçao por todos esses tesouros musicais. keep up the good work!
cheers

Claudio Silva said...

Johanna,

Sempre um prazer ter-te por aqui! Fico feliz em saber que os teus ouvidos continuam agradecidos.

Anonymous said...

Caro Fernando,

Ruy Mingas, sempre foi Ruy!

Apenas por lapso um dos seus singles (Cantiga por Luciana) foi impresso com o nome mal escrito - Rui - e desde então nasceu toda esta polémica à volta do seu nome.

Obrigado

Carlos

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...