Wednesday, December 30, 2009

Top Lusophone Albums of 2009: The Shortlist

In reality, this list should have been compiled a lot sooner. But somehow, the last weeks of December always seem to be the busiest ones.

Caipirinha Lounge was created in March of this year and it’s hard to believe that the year is coming to an end. Writing for this website has become second nature to me, a routine of sorts…I get jittery if I go too long without writing in it. It’s made me a pathological music consumer, it’s become my aural drug. Through it and because of it I have discovered many amazing artists that I would otherwise not have heard about, and have been kept awake at night by many a soulful singer, by many a Portuguese lyric.

This post aims to share with you what I think have been the best Lusophone albums of 2009. Many of my favorite discoveries this year have been of artists that released their best work in 2008 (Carmen Souza, Tcheka, Dino, 340ml, Bonga and his Bairro, etc) and some of them don’t even sing in Portuguese (Blick Bassy) and so it pains me that they cannot be included in this list. Many of the albums have been featured on this site, while others have been listened to but not featured here. Nonetheless, this shortlist is a beautiful one. I am no professional music critic, I’ve never studied music seriously, I have not heard all the Lusophone albums released in 2009, especially the ones in Brazil, and so I really have no authority on judging other people’s thrillingly hard work. As such, this list is merely my opinion, a window into what’s moved me this eventful year. Tomorrow I’ll actually rank the top 10. For now, here is the shortlist:

Tasca Beat – Oquestrada
Nha Sentimento – Cesaria Évora
Eclipse – Lura
Xinti – Sara Tavares
• Kuma Kwa Kié – Yuri da Cunha
Stória, Stória – Mayra Andrade
Comfusões – Mauricio Pacheco
Vagarosa - CéU
Festa Mascarado – Suzanna Lubrano
• Matriz – Tereza Salgueiro
Diários de Marcos Robert – Bob da Rage Sense
Kianda Luanda – Konde
• Best of Bonga - Bonga
• All In One – Bebel Gilberto
• A Nova Aurora – Madredeus & A Banda Cósmica
Babalaze - Azagaia

O rescaldo do show do Kid MC: Azagaia for President

AzagaiaO show do Kid MC foi o primeiro espectáculo de hip-hop que vejo em Luanda desde, salvo erro, 2006 ou 2007. E para mim foi o mais marcante. Finalmente pude ver em palco rappers que admiro muito, nomeadamente o MCK e o Ikonoklasta. O Kid MC também não deixou os seus créditos em mãos alheias. O homem é mesmo agressivo e não tem papas na língua – quando entra em acção, o palco é só dele e de mais ninguem. E quando pisou a foto do Dji Tafinha, uaué! Mas a pessoa mesmo que “stole the show”, como se diz em inglês, foi o Azagaia.

Antes do concerto ja o meu primo estava em ligeiro estado de choque por causa da vinda do fenómeno moçambicano Azagaia a Luanda. Devido a minha ignorância acerca do mesmo, não tinha ouvido as músicas dele. Mas o meu primo dizia em alto e bom som que “o Azagaia é mais forte que o Valete.” Sendo o Valete o meu rapper preferido, de sempre, ri-lhe na cara, em alto e bom som. La o meu primo e o meu irmão puseram o Azagaia a tocar para eu poder me ambientar antes do concerto, e fiquei boqueaberto. Com certeza que o Azagaia inspirou-se no Valete, ja que os seus flows têm algumas semelhanças. E continuo a achar que não é melhor que Valete, mas isto são os meus gostos particulares, e em abono da verdade o Azagaia anda mesmo perto de ser tão bom como o Mr. Lima (Valete).

Mas mesmo tendo lhe ouvido antes do concerto, não foi o suficiente para sentir por dentro a sua poesia, de a absorver por completo. Por isso não estava preparado para a entrada fulminate dele em palco. Entrou a la Che Guevara, todo ele fardado em estilo guerrilla para o delírio do público presente. A sua presença em palco era íncrivel. Com punhos no ar e letras revolucionárias, o concerto mais pareceu um comício da esquerda do que um outra coisa. Foi halucinante. Mas nem mesmo isso teria me preparado para o que veio depois. Em 20 minutos o Azagaia fez o que a oposição política angolana não faz ha vários anos.

Da boca do Azagaia nunca saiu o nome do Zé Du. Ele simplesmente se limitou a fazer algumas perguntas picantes. “Quem vendeu a minha pátria...quem vendeu a tua pátria...quem vendeu a nossa pátria,” cantou ele. Em princípio o povo não respondeu em unissono, mas aqui e ali ouviam-se murmúrios do tipo “Zé Du!” O Azagaia não parou aí. Um pouco depois perguntou, “será que ha alguém que vos deve um pedido de desculpas?” E começou a repetir a frase “corruptos fora! Assassinos fora!” E é assim que, depois dele cantar Combatentes da Fortuna, estava toda a plateia a gritar em voz alta, em unissono, de boca cheia, com punhos no ar, “Ze Du foraaaa! Ze Du foraaaa!” Cenas não vistas em Luanda a muito, mas muito tempo. O homem estava em fogo, e mesmo quando saiu do palco, mesmo com o palco vazio, só se ouvia o grito do povo, um grito de revolta.

Azagaia for president ou quê?

Incluída aqui esta o som “As Mentiras da Verdade”, para aguçar o vosso apetite até um post a sério acerca do Azagaia em princípios de Janeiro do próximo ano, porque Babalaze é um album a sério (se bem que a maioria que esta a ler este post ja deve ter o album rsrs)!

As Mentiras da Verdade

Fotos do evento aqui, aqui, e aqui tambem.

Late Nite Lounge Vol. 8 – Slow jams by Dino and Gutto

GuttoThe Late Nite Lounge series is one of my favorite features in this blog and maybe one of the only ones I’ve been able to keep relatively current. So it’s with a sense of some fulfillment and a big smile on my face that I share with you the last LNL installment of 2009. In the spotlight is my new favorite Lusophone R&B artist, Dino, as well as a veteran of Portugal’s hip-hop and later R&B movement, Gutto.

As promised, Dino & The Soulmotion is back with the song “O Nomeado II” featuring Angela Pais’ crystalline voice and a laid-back, late night, slow dance vibe and, halfway through the song, a soulful electric guitar for a mesmerizing effect. Dino shares the spotlight with “Eu Imaginei”, a Gutto and Boss AC collaboration featuring in Gutto’s first solo effort and R&B album completed after he left the pioneering Portuguese hip-hop band Black Company. It went on to become one of the most popular tracks of the album across the Lusophone world.

O Nomeado II
Eu Imaginei

Dá-me sempre muito prazer poder escrever a série Late Nite Lounge, e por acaso tem sido dos componentes deste blogue que eu consigo manter minimamente regular. Por isso é com um largo sorriso nos lábios que partilho convosco a última edição do ano do Late Nite Lounge. No stereo está o meu novo cantor preferido de R&B lusófono, o Dino, e também um veterano do movimento hip-hop português, um tal de Gutto.

Como prometido, o Dino & The Soulmotion voltam a pisar o Lounge com a canção “O Nomeado II”, que conta com a participação de Angela Pais. É uma música sensual, emotiva, para madrugadas deslumbrantes, e a meio da música aparece uma guitarra eléctrica que acaba com tudo. O Dino partilha este palco com Gutto e sua música “Eu Imaginei”, que conta com a participação do seu partner in crime, Boss AC. Esta música consta no primeiro album a solo do Gutto depois dele deixar os pioneiros do hip-hop lusófono, a mítica banda dos Black Company, e envergar numa carreira virada para o R&B. De certeza que não foi uma aposta em vão, ja que a sua popularidade no soul lusófono subiu considerávelmente.

Photo - Gutto during his video "Deixa Forever"

Saudades do Rio: Bom Dia Rio (Posto 6) by Bossacucanova, and Sonho do Verão by Max de Castro

Pao de Acucar, Rio de JaneiroOh, this is gonna be a fun one. A musical series all of it focused on Rio...if my claim to the Saudades de Buenos Aires was tenous, seeing that I only lived there for 2 months, my claim to having saudades of Rio de Janeiro is speculative at best. Unless you’ve ever been there, that is. I spent 5 (winter) days in Rio de Janeiro and it was more than enough to appreciate the particular existence of the cidade maravilha. There is no other city like it in the world – nowhere can you find the explosion of color, sound, beauty, and flavor present in that metropolis. To capture at least a small essence of the city which inspired countless songs and genres and contributed so much to Brazilian music, culture, and identity are two contemporary tracks by two artists, one of which calls Rio home.

Bom Dia Rio (Posto 6) is by Ipanema based Bossacucanova and is sung by that classy woman Cris Delanno, whose voice is perfect for this song, and bossa nova granddaddy Roberto Menescal, band member Mario's father. Hearing Delanno's voice first thing in the morning as the sun shines through your window and you’re still a bit drowsy with sleep all but guarantees you a brilliant day. And it plays seductively at night as well. To finish things off nicely is a song by a man who you’ve heard a lot of recently here at the lounge. Sonho de Verão is Max de Castro’s ode to Rio, and the beautiful lyrics are a samba-influenced, jazzy account of the delights that Rio has to offer, through the eyes of a dream.

Bom Dia Rio (Posto 6)
Sonho de Verao

Hum, esta série será divertida. Toda ela dedicada ao Rio de Janeiro...se no caso de Buenos Aires o facto de ter vivido lá somente por dois meses já foi o suficiente pra ter saudades do sítio, no Rio só fiquei uns meros 5 dias. Mas pra quem ja esteve, isto basta para que o Rio de Janeiro nos seduça. Não existe no mundo outra cidade como esta, Ponto final. Em mais nenhuma cidade é possível observar a explosão de cor, som, beleza, e sabores daquela metropole. Espero capturar pelo menos uma pequena essência desta cidade que inspirou milhares de músicas e tanto contribuiu para a identidade cultural do Brasil com duas canções contemporâneas, uma delas feita por um grupo que reside em Ipanema.

Bom Dia Rio (Posto 6) é uma linda canção composta pela banda carioca Bossacucanova, e é cantada pela voz inconfundível de Cris Delanno com uma participação muito especial de nada menos que Roberto Menescal, um dos pai grandes do bossa nova. Ouvir a voz rouca e suave dela logo pela manhã com o sol a bater pela janela é coisa doutro mundo. E para acabar temos uma música de um cantor que tem estado muito por aqui nos últimos dias, Max de Castro. Desta vez ele canta Sonho de Verão, com lindos versos dedicados ao Rio de Janeiro. Um verdadeiro sonho.

-Photo by Alain Badoual

Tuesday, December 29, 2009

Bossacucanova

BossacucanovaDJ Marcelinho da Lua on the turntables, Mário Menescal on bass, and Alexandre Moreira on the keyboards make up one of the most talented and adventurous electronica bands in Brazil, with a kick-ass name to boot. Bossacucanova, they call themselves. This audacious trio has been remixing timeless bossa nova classics and also offering original grooves of their own, taking us along an aural journey of breakbeats peppered with ukulele flair, turntablism doused with sensual bossa flavor, electronica with breathy Portuguese vocals. Bossacucanova have released three albums, but my favorite, the one that really gets me, is Uma Batida Diferente, their latest one. A quick peek at the cast of characters shows us names like Zuco 103, Marcos Valle, Cris Delanno, Max de Castro’s brother Simoninha, and Celso Fonseca, just to name a few; once you pop it in your stereo on a sunny summer day in Luanda, it’s hard to turn the thing off.

My three favorite songs of the album are featured below. Feitinho Pro Poeta is the band’s reinterpretation of a Baden Powell and Lula Freire composition, and it’s the first song I heard of this album, which plays beautifully from start to finish. Next is Cris Delanno’s version of Águas de Março, that marvelous bossa nova classic that Elis Regina sang so well many years ago and which remains as sweet and genius as it did back then. Dalanno, who’s Brazilian-American, makes it sound almost as good even though she sings it in English. To round things off nicely is the beautiful, jazzy, Previsão, one of the most played songs in my iPod. It features Adriana Calcanhotto and is maybe the best track on the entire CD, which is no easy feat. These pieces of aural sunlight might turn even the winterest of days into a warm, balmy Rio experience – a caipirinha will definitely smooth things along.

Feitinho Pro Poeta
Aguas de Marco
Previsao

DJ Marcelinho da Lua na mesa de misturas, Mário Menescal no baixo, e Alexandre Moreira nos teclados formam uma das bandas mais talentadas e aventureiras do movimento electrônico do Brasil, com um nome a maneiras. Chamam-se Bossacucanova, e aposto que ninguém o esquecerá. Desde o seu primeiro disco juntos, este trio ousado tem estado a compor remixes dos mais admirados temas do estilo bossa nova, mas também fazem canções originais. As suas composições fazem uso do tradicional misturado com o comtemporâneo – ukeleles e breakbeats no mesmo som, ritmos electrônicos com sabor a bossa, downtempo cantado em português ofegante. Os Bossacucanova já lançaram três discos, mas o meu preferido de longe é Uma Batida Diferente, o seu disco mais recente. Se dermos uma olhada rápida para a lista de convidados veremos nomes como Zuco 103, Marcos Valle, Cris Delanno, Simoninha, irmão de Max de Castro, e Celso Fonseca, entre outros. Quando metes o album no stereo num dia ensolarado de Luanda, é difícil tirá-lo de lá.

Os meus três sons preferidos deste lindo album, em que nenhuma canção precisa de ser avançada, estão acima. Feitinho Pro Poeta foi a primeira canção do disco que eu ouvi, no Pandora Radio; é a reintrepretação da composição de Baden Powell e Lula Freire, com o mesmo nome. A seguir está a música imortal de Elis Regina, Águas de Março, cantado em inglês com um sotaque fabuloso por Cris Delanno, que nasceu nos EUA de pais brasileiros. Não chega a ser tão boa como a versão Regina (ja que isto seria impossível) mas nunca pensei que esta música pudesse ser cantada noutra língua sequer. Para terminar temos Previsão com a participação de Adriana Calcanhotto, uma música muito bonita inspirada tanto por ritmos brasileiros como pelo jazz. É talvez a melhor canção do álbum. Estas músicas estão garantidas a aquecer os dias mais frios e cinzentos e ja dá pra fingirmos que estamos no Rio...uma caipirinha ajuda imenso, claro.

Photo: Bossacucanova no Morro da Urca, by rvkruger

Bossacucanova online
Bossacucanova's profile on their label, Six Degrees

Sunday, December 27, 2009

Dino & The Soulmotion

Dino SoulmotionA forma como “descobri” o talento musical do Dino foi um tanto quanto absurda. Ele foi um dos primeiros ‘fãs’ do grupo do Caipirinha Lounge no Facebook. Antes da minha viagem para Luanda, estive la a ver quem seriam os valiosos visitantes deste site e deparei-me com um tal de Dino Soulmotion, e após uma curta pesquisa no Google e a audição dos singles dele “Não Vou Partir” e “A Curtir o Som”, decidi adquirir o album. Posso dizer de boca cheia que Eu E Os Meus é um dos melhores álbums R&B/Soul lusofono do ano que finda daqui a quatro dias.

O soul music do Dino & The Soulmotion (a sua banda acompanhante) é fortemente influenciado pelo hip-hop. Ora, veremos as personagens com quem o Dino colabora. O disco foi editado pela label do conceituado rapper Português Sam The Kid (que está em Luanda para um concerto a ter lugar hoje, domingo!), e que também participa no grande som “O Nomeado”. Outro grande rapper que faz parte deste projecto é o nosso ja conhecido Valete, o PacMan (Da Weasel), Virgul, entere outros. Mas devido a sua origem Cabo-Verdiana, o disco também esta recheado de temas inspirados por aquelas ilhas musicalmente maravilhosas do oceano Atlântico, e conta com a participação de Tito Paris.

Foi díficil escolher só três canções para partilhar aqui, porque realmente quero que comprem este álbum, é daqueles que cada música é boa e toca-se do príncipio (Nu Preconceito) ao fim (Amanhã). Após repetidas audições durante as minhas 14 horas de espera no aeroporto Charles de Gaulle em Paris, e não só, cheguei a conclusão que dos temas que melhor representam a diversidade auricular do álbum, “Filho do Gueto” com Valete (hip-hop abrilhantado pelo soul que ja se tornou trademark do Dino), “Por Ti Eu Espero” (groove daqueles inspirados por Marvin Gaye), e “Dez Ilhas” (sabor crioulo) são talvez os três mais expressivos. Para não falar do “Nomeado II” com Angela Pais, mas este é para um Late Nite Lounge a vir em breve...;)

Filho do Gueto
Por Ti Eu Espero
Dez Ilhas

The way I found out about Dino’s musical prowess was a bit absurd. He was one of the first fans of Caipirinha Lounge on Facebook, and before my trip to Luanda I was looking at the diversity of the site’s “fans” and Dino caught my eye, as Soulmotion is not a common last name. After a quick search on Google and the subsequent browse through his Myspace where I listened to his singles “Não Vou Partir” and “A Curtir o Som”, I was sold. I got the full album. And I can say with certainty that its one of the best soul/R&B albums of the year that’s about to finish.

The brand of soul music composed by Dino & The Soulmotion (his band) is greatly influenced by hip-hop. It’s easy to see why. Before he went solo Dino collaborated with a lot of the finest MCs in Portugal, and his debut CD, Eu e Os Meus, was released by Sam The Kid’s label, Quarto Mágico. Sam The Kid, one of Portugal’s hip-hop pioneers, also features in one of the tracks on this CD, namely “O Nomeado”. Another hip-hop artists that sings with Dino is our well-known Valete, PacMan and Virgul from the Portuguese rap band Da Weasel, and others still. And because of Dino’s Cape Verdean heritage, Eu e Os Meus has a certain island flavor that strongly comes through in a couple of tracks, one of which was composed by that legend Tito Paris.

It was quite difficult to choose just three songs to post here. This is one of those CDs that you can play from start to finish – both the opener and especially the closer, “Amanhã”, are kick ass tracks. It’s one of those albums that I’m going to have to urge you to buy if Portuguese soul is your thing, and even if it isn’t (yet). After repeated hearings before and after my 14 hour odyssey at Charles de Gaulle airport, I figured out that the three tracks that best represented this album’s aural diversity were “Filho do Gueto” featuring Valete (Valete’s lyricism meets Dino’s trademark soul), “Por Ti Eu Espero” (a groovy beat reminiscent of Marvin Gaye) and “Dez Ilhas” (tastes like Cape Verde). And then there’s a hidden gem, a track called Nomeado II featuring Angela Pais, but that’s better suited for a Late Nite Lounge session, coming soon...;)


Integrantes da banda Soulmotion:
Batuques: Sérgio Silva; Baixo: Ginho Marques; Guitarras: Bruno Macedo; Piano: João Salcedo; Percussão: Manuel Santiesteban; Vocais de apoio: Cati Freitas & Diana Martinez

-Photo do Myspace do Dino & The Soulmotion

Myspace do Dino & The Soulmotion
MTV Exclusive: Dino & The Soulmotion

Saturday, December 26, 2009

Sam the Kid e Azagaia em Luanda para o show do Kid MC

Show Kid MC Luanda, Angola
Dois nomes sonantes do movimento hip-hop lusofono irão actuar hoje (Domingo) no Cine Karl Marx, em Luanda, como convidados de honra do Kid MC, rapper angolano de considerável sucesso nos últimos tempos aqui em Angola. São eles Sam the Kid, que nunca tive o prazer de ouvir atentamente a não ser uma música ou outra, e o moçambicano Azagaia, cujo álbum comecei a ouvir a sério a umas semanas atrás. Também vou poder ver ao vivo pela primeira vez o primeiro rapper a sério que eu ouvi em Angola, o MCK. Isto promete!

Friday, December 25, 2009

Paula Lima

Paula LimaShe’s that sumptuous voice on Max de Castro’s track Nego do Cabelo Bom, and ever since I heard it I wondered what else that voice could do. Inspired by Ella Fitzgerald, Ed Motta, and Quincy Jones among others, Paula Lima is one of Brazil’s major soul sisters, and she’s been a diva extraordinaire in various stages, bands, and groups since the faraway year of 1992. Her debut album, É Isso Aí, was a critically acclaimed piece of art and featured the likes of Seu Jorge, our well known Max de Castro, Jorge Ben Jor, Ed Motta, among others. The songs below however are two gems from two of her more recent CDs, Paula Lima (2003) and Sinceramente (2006). Gafieira S.A. is a funky track and hard not to groove to, while Negras Perucas manages to be calmer and more introspective without sacrificing an energy-packed beat.

Gafieira S.A.
Negras Perucas

É dela aquela voz sumptuosa da track do Max de Castro, Nego do Cabelo Bom, e desde que a ouvi tenho tentado saber um pouco mais sobre a portadora daquela voz. A Paula Lima é uma das soul sisters do Brazil, e tem sido uma diva de realce desde 1992, tendo actuado em várias bandas, pisado vários palcos, e cantando com vários grupos. O seu disco de estreia,É Isso Aí, foi muito bem recebido no Brasil e contou com a participação de artistas como Seu Jorge, o nosso ja conhecido Max de Castro, o Jorge Ben Jor, o Ed Motta, e outros. Acima estão duas músicas de CDs seus mais recentes, o disco Paula Lima (2003) e Sinceramente (2006). Gafieira S.A. é um som mexido, funky, com influências do soul americano, e Negras Perucas consegue ser um pouco mais calmo e introspectivo sem deixar de ter um beat minimamente energético.

-Photo by Julianfoto

Paula Lima online
Paula on Amazon

Tuesday, December 22, 2009

Charles de Gaulle, my Tower of Babel

Charles de Gaulle Terminal FAs luck would have it, I am stuck in Charles De Gaulle’s Terminal F awaiting my flight to Luanda, which leaves in…11 hours. I have been here for 5 hours already and am surprising myself by my ability to wait. I think it should be considered an art form. The art of waiting. I don’t mind it much (as of now) and besides, I love Charles de Gaulle, despite its sometimes questionable reputation. I love the amalgams of languages being spoken around me, the incredible diversity of my fellow travelers, some of them stranded just like me, and even the lovely French of the loudspeaker announcers. Bizarre, I know. Right now I am sitting next to a boarding flight to Ouagadougou, and I don’t think I have ever before seen or met Burkinabes. Lovely.

I have fond memories of this particular airport – back in the day when my mother lived in Lisbon my little brother and I would always fly through CDG from Washinton, D.C., on our way to Portugal. Good times, Joel. It does however, help that I just obtained Dino & The Soulmotion’s CD Eu e os Meus, a truly fine piece of R&B and soul that will be featured here at the Lounge upon my arrival in Luanda, if the Kianda’s internet Gods permit me to do so. Expect some Paula Lima and BossaCucaNova as well. As for books, I just finished Ryszard Kapusinski’s Another Day of Life, a brilliant account of the days leading up to Angola’s independence. I’m going to tackle Dambisa Moyo’s Dead Aid or Malcolm Gladwell’s Outliers next – I haven’t decided which one yet.

For now, I’m just glad to be going home. I’ll leave you with Soulbreakxtra’s Angola em Dezembro, as promised, because the song epitomizes how I feel.

Á demain.

Angola em Dezembro

Por força do destino e de atrasos de voos, vou ter que passar as próximas 11 horas da minha vida no aeroporto Charles de Gaulle em Paris, mais concretamente no Terminal F, bela obra arquitectónica. Ja estou cá à 5 horas e estou surpreso com a minha capacidade de espera. Deve ser por nascer angolano. Ter que esperar por água, luz, dá nisso! Penso também que ja sou perito nestas andanças, na arte de esperar. Por enquanto ainda não tem sido assim tão aborrecido, por diversas razões. Em primeiro lugar adoro estar a ouvir tantos idiomas a minha volta. E como adoro francês, até os simples anúncios nos altifalantes fazem com que me esforça para ouvir pra ver se capto alguma coisa. E em segundo lugar, gosto de estar ao lado de gente de todo mundo. Neste momento o gate ao meu lado é de um voo com destino a Ouagadougou. Nunca tinha visto ou conhecido um Burkinabe.

Tenho boas memórias deste aerporto. Nos velhos tempos a minha mãe vivia em Lisboa, e o Charles de Gaulle era ponto de passagem obrigatório quando eu e o meu puto Jujas estivessemos a vir de Washington, ja que não há voos directos entre as duas localidades. Ainda outra circunstância que esta a fazer com que as horas passem é a minha recente aquisição do CD Eu e os Meus do Dino Soulmotion, uma obra de arte pintada por R&B e soul. Em breve o homem aparecerá aqui no Lounge num post como deve ser, se os deuses da internet em Luanda assim o permitirem. A caminho estão também posts acerca da Paula Lima e dos BossaCucaNova. A não perder. Em termos de leitura, acabo agora mesmo de ler Another Day of Life por Ryszard Kapusinski, um livro fascinate que detalha em cores vivas os meses intensos que Angola viveu logo antes da sua independência.. A seguir vou começar Dead Aid por Dambisa Moyo ou Outliers do Malcolm Gladwell...ainda não decidi qual.

Por agora, só me resta estar feliz pelo regresso a casa mas o menos iminente. Vos deixarei com o tema “Angola em Dezembro” do Soulbreakxtra, como prometido, porque caputra muito bem o que me espera no reencontro com a banda.

Á demain.

-Photo: Terminal F, by Yuen Long

Monday, December 21, 2009

Late Nite Lounge Vol. 7: Une nuit avec les femmes fraçaises

LouLouAmanhã é a minha partida para Luanda.

Este pensamento não deixa com que outros passem pela minha cabeça. A ansiedade é muita, a expectativa é enorme, a saudade ainda maior. Enquanto faço as malas, tentando empurrar as encomendas da última hora como de costume (todo mundo que viaja pra Luanda recebe sempre aqueles telefonemas: Cláudio me traz só....!), tenho a minha playlist francesa a tocar, e uma sequencia sublime de canções fez me parar a meia-mala para escrever e partilhar estes tesouros com vocês.

A primeira canção que vos trago é da autoria dos Thievery Corporation, como não podia deixar de ser. Estes mágicos de Washington, D.C. convidaram a cantora LouLou (Ooldouz Ghelickhani), iraniana de nascença, criada em França e agora residente da capital americana, para ser a vocalista da hipnótica canção La Femme Parallel. A voz de LouLou é arrasadora, altamente sensual. Ela nem parece que se esforça. Os seus versos franceses dão asas a música, fazendo-a voar, e com a entrada das trompetas no último coro esta canção voa alto mesmo, e eu voo com ela sem nunca tirar os pés do chão. Vi esta música ao vivo e foi uma sensação única. Hoje faz me companhia enquanto conto as horas até pisar o 4 de Fevereiro.

Ja a segunda música deste post também não deixa os seus créditos em mãos alheias. É uma bela bossa nova, toda ela em francês, cantada, ou melhor, sussurada por Coralie Clement, uma cantora francesa no verdadeiro sentido da palavra ‘cantora’ e alguem que um dos meus parceiros nestas andanças vos pode descrever muito melhor que eu. Samba De Mon Couer Qui Bat (Samba do meu coração que bate) é um casamento feito nos céus: a combinação da sensualidade de Coralie ao je ne sais quois do bossa nova. Espero que gostem, e au revoir.

La Femme Parallel
Samba De Mon Couer Qui Bat

Tomorrow I leave for Luanda.

This thought has effectively monopolized my brain, letting nothing else through. The anxiousness is high, the expectation is enormous, the saudade even more so. As I pack my suitcases, cramming into it the assortment of goods my mother has asked that I bring (any Angolan leaving for home will tell you all about the midnight calls they receive from their families asking for the latest in all sorts of electronics and whatnot), I have my French playlist on the stereo, and a sublime sequence of songs made me stop mid-pack and share these treasures here for you.

The first song I feature here is La Femme Parallel, a hypnotic track by none other than Thievery Corporation and featuring LouLou (Ooldouz Ghelickhani), an Iranian born but French raised femme fatale who now resides in DC and tours regularly with Thievery. Her voice is the perfect complement to this downtempo jam and it’s slick bassline, and it makes the song drip with sensuality. The lyrics themselves further add to the mystique of the song, as any French-speaker will happily tell you. By the time the horns come in towards the climax of the song it’s hard to keep your head still. Seeing this song live was a dream come true, and today it helps me count the hours until I touch down at 4 de Fevereiro.

The second song of this post has a totally different kind of vibe when compared to the first. It’s a beautiful, classic bossa nova with the added twist of being sung entirely in French by one of the best voices to sing, or in this case, whisper in that language, a certain Coralie Clément. She’s the face that adorns the header of Guuzbourg’s francophone blog, a man who is much better at describing the sweet sunshine that is Coralie. Samba De Mon Couer Qui Bat is a match truly made in heaven: the sensuality of Coralie with the je ne sais quois of bossa nova. I hope you enjoy it, and au revoir.


-Photo: LouLou, by Jazmin Million, and Coralie Clement, by Flaviochan

Sunday, December 20, 2009

Caipirinha Lounge Interview: Mauricio Pacheco


ComfusõesA lot of Brazilian people don’t know much about Angola. What sparked your interest in that country? And how many times have you been there?

Well, the first time I heard Angolan music was when my old friend Moreno Veloso (son of great singer Caetano Veloso) put the Alliance Française compilation "Angola 70's" to play. I felt at home with all that music, melodies, and was really affected by the lyrics, by their struggle for independence, by the way Teta Lando and Bonga sang. Later in my life, in the year 2002, just after the war ended, I was invited by a friend, the photographer Sergio Guerra, who was beginning his music label called Maianga (the label that released Comfusões). I went to Luanda to record with Paulo Flores, and since then I came back 5 times.

When did you first become interested in Angolan music?

Well, I guess since I listened to Teta Lando for the first time.

What is it about Angolan music from the 60s and 70s that brought out your passion?

Well, first of all, the sound. That unique vintage reverb and echo, then the typical Angolan guitar, EQ with many high frequencies and tap delay, and then, the soulful vocals. That time when ideology was really something important to the people, obviously the singers brought their ideologies to their vocals. Like Bob Dylan did, like Bob Marley did.


Tell us what you feel when you listen to those old records. How does it move you, and what made you want to remix them?

The remix was something natural. As a producer, the approach was that those beautiful songs needed some contemporary versions, because it fit to them, when you listen, you can imagine that there was a drummer shuffling, but in the mix they kind of forgot him. Something like that, it's a feeling you have, that you can do something that can put light again into those beautiful tunes. I think a remix is better than another version, because no one can sing like these guys did at that time. It’s unique. It’s not their technique; it's something particular of that time, the feeling of that independence era, that unique vibe.

How did you go about choosing the remixers?

Well, I have a lot of close friends that are producers and share this love for African music in general. So it was an easy pick. I just tried to imagine the tunes that could go well with each one of them, then I sent some options, and in many cases I did the remix together.

What were your favorite tracks to remix?

My favorite is Zom Zom, the last track of the CD. I love Elias vocals, and I'm not so much into electronic music, but I listen to some deep house, so I guess it was an influence to this remix in particular. And I put some Kraftwerk-like keyboard melody at the end of the track, so it was full of good references to me.

Zom Zom

Who is your favorite Angolan artist of that era?

I guess Teta Lando. He is the most representative, the most political, and Angolé is an eternal hymn, not only for Angola, but for everybody. It doesn't matter the color of your skin, like he says. I hope we're done with racism soon. This is the best anti-racism song for me.

When do you plan to release Comfusões 2? Any exclusive information you want to give us about that album?

Well, I can't say a lot because I didn't get started yet, really. But it’s definitely a promise for me, that I'll organize and produce volume 2, with a lot of surprises and new remixers. The first musician I invited to do a remix is my friend Kalaf, from Buraka Som Sistema.

Have you had a chance to expose Angolans to your work?

A I mentioned, Kalaf and Conductor, from BSS, listened to it, and they liked! That was really good for me! Well, I have some friends that are putting Comfusões finally on the raido in Angola, like DJ Znobia, and my good friend Wyza, the best singer of the new generation. Wyza is amazing, he can be as big as Salif Keita, in my opinion. Have you heard of him?

Have you had the chance to travel outside of Luanda?

Unfortunately, no. I just went to Cabo Ledo, and Barra do Kwanza, but I didn’t go to other provinces. I'd love to, next time I go there, and meet other musicians and the different lifestyles of places like Benguela.

Zom Zom and Chofer de Praça are among my favorite tracks from that album, and both stay very faithful to the original material. How did you go about choosing which rhythms went the best with the original work?

Well, I'm very experimental, that's the way I work. Chofer de praça was a suggestion of the Label director, Sergio Guerra. He showed me the track and talked about bringing Dog Murras, the kuduro superstar, to add some vocals. So I started imagining Murras vibes, and then gave to the track an uptempo beat, wich i think worked well with Murras. He normally sings at 140bpm, so this tracks was really cool and easy for him, and he did some great party vocals and definitely it's his track. Zom Zom is a hypnotic track. Normally at the end, when I master a CD, I just can't listen to it for a week or so, and in this case, I only kept listening to Zom Zom...

Besides Zom Zom, what is your favorite track from Comfusões 1?

Kuale Ngo Valodo. Lamartine is a reggae man! He's like Ranking Joe, or Taper Zukkie, you know?

Kuale N'Go Valodo

Stereo Maracanã
Tell us a bit of how Stereo Maracanã came into existence.

Stereo Maracanã is the union of different people from different parts of Rio. This biodiversity in a group is typical of a city like Rio, and it's good for the sound, because we change experiences, and we have one that grew in samba, the other is a reggae drummer, the other comes from the capoeira environment, and I try to balance everything in the production of the tracks. Ironically, I was called the "rocker", can you imagine? Because I play the guitar. But in the new CD that we're recording now the guitars will be more and more african, I guess...

Freestyle Love is my favorite song from the album Combatentes. What is the idea behind the song and its video?

Well, Freestyle Love is amazing, it just keep surprising us. It's in several compilations around the world every year. I think we pictured this carioca way of life in this track, and maybe that's because people associate it to Brazil, Rio, and put it into Brazilian contemporary music compilations. We just did it like that, and this track helped us a lot already. We toured Europe 2 times, mainly because of this very track.


What would you say is the genre and musical style of Stereo Maracanã?


I'd say roots capoeira eletrofunk.

Tell us about the hip-hop movement in Brazil.

Well, I like hip hop, and listen to a lot of rappers in Brazil, but I don't follow the so called hip hop movement in Brazil. I guess Sao Paulo is the main city of the movement. hip hop is strong there. In Rio, samba is everywhere, so hip hop became strongly influenced by the samba culture. Macelo D2 is a very good example of that. He is rapper, but when you see him, you could say he is a samba composer, you know?

What would you say are the main differences between the funk of SM and hip-hop?

I think SM is not hip hop. We use rap vocals, and we know a lot of hip hop, we're playing for a while now, so we know everybody, we respect a lot the movement, but we're just in another style, musically. We're closer to funk carioca and samba, with rap vocals. We do not have a DJ, we don't dress like typical rappers do, so I guess the only element of the hip hop culture that is really present is the rap, and the themes of the lyrics as well.

Sou Local and Onde É Que Tu Tá are two great tracks in which you display a lot of love for Rio de Janeiro. How has the city inspired you?

Yo, Rio is a marvelous city. Rio is like a team that you love, you know? It's like the Yankees, to New York people, and like Flamengo, to us. Everybody that is "carioca" is proud of it. We defend our lifestyle, you know? Sometimes, going to the beach for half an hour during a work day is an attitude, is not something lazy or whatever. We love the people here, the people of this city really inspires us every day.

Onde E Que Tu Ta

What is the story behind the French inspired track République?

It's a Pedro (the vocalist) story. He had this girlfriend in Paris, when he lived there, and they had a date, but he couldn't make it because there was a police block and they stopped him, and the time was passing, and he didn’t have a cell phone to call her, etc...

Republique

Mauricio Pacheco, the Man

Mauricio PachecoWhen did you first become interested in making a living off music?

That's good. I never thought of music as something to get money. It was always a dream, to be on stage, to do an original sound and make it as a musician, but it didn't think of making a living of it. When I became a professional musician, I still didn't think I could live of that. After a while, I started producing music, recording, and then, only after all that, I assumed that I could be an artist, a musician, and that's what I do for a living and for my soul, and that's who I am. Music is my passion, and I'll always fight for it.

What first captivated you about the production aspect of music?

The frustration of not being able to build the sound that I imagined. I just decided that I had to learn it, so as I could be in charge and build my own sound.

What was the first song you ever released?

My first production was Freestyle Love, really. The first single offStereo Maracanã, my first CD as a producer.

5 musicians/band you listen to weekly, if not daily:

Steel Pulse
Banda Black Rio
Led Zeppelin
Jorge Ben Jor
Fela Kuti

Favorite late night crooners when it’s just you and the missus:

Bob Marley "turn your lights down low", great track!

Most played song on your iPod:

that's hard, but, okay, I'll play this game. Just one? I’ll pick "State of Mind", from Raul Midon. This week...

Biggest musical influences?

Jorge Ben Jor, Fela Kuti, Bob Marley, Lee Perry, Gilberto Gil, The Clash, and music from Mali, Angola and Cuba, in general.

Favorite city in Brazil? Favorite city in the world?

Rio de Janeiro, no more to say. In the world? Man, I'm too carioca to admit that any city can beat Rio. But I feel at home in Barcelona and New York, as well. Too greaaat cities!

Random thought of the day:

The most important thing is to do what you love to do, and believe in yourself. You know, sometimes we're just so self-critical, that we can't even recognize that we can be good, even though we'll never be perfect, or even close to perfection. Do the best that you can, and that's a good start, for every work.

Thank you for time Claudio, it was fun!

Saturday, December 19, 2009

DJ Soulbreakxtra

SoulbreakxtraA couple of weeks ago curiosity got the best of me and I started reading more and more on the Elinga Teatro, a place whose history fascinates me. My interest in it stemmed from their originality and uniqueness in Luanda’s nightlife scene, a place where management (Movimento X) made use of an existing, historical structure and turned it into an eclectic, multi-cultural and multi-ethnic meeting point for Luanda’s cosmopolitan population, a place seemingly low on fuss and big on experience. One of the people who’s not only an integral part of the Movimento but also tasked with livening up the Elinga nights is DJ Soulbreakxtra, also known as Tuka and Carlo Cunha. Like many others from his generation, Carlo moved to Portugal and then England because of the war and expanded his musical horizons. It didn’t take long for him to discover Ataris, synthesizers, and the art of deejaying. Today, Soulbreakxtra is a refreshing addition to Angola’s underground fledgling electro-music scene, with his Africanized brand of nu-jazz, neo-soul, and electro-soul. I might be making up genres here, but that’s exactly how it sounds. Featured here is Olha So Quem Vem La, featuring Tuka’s brother and fellow DJ, Faray Sem Mobile, a song that’s nicely chilled but warm at the same time, with delicious hints of that sweet Luanda night air. Don't be fooled by how serenely it starts - this track packs a punch. Faray and Soulbreakxtra form DJ duo Afrologia, who make Thursday nights their own at Elinga. Be sure to check out their Myspaces below.

Olha So Quem Vem La

Umas semanas atrás a minha curiosidade levou-me a procurer mais e mais informações sobre o Elinga Teatro, desde as histórias e boatos sobre a sua demolição até a sua reinvenção como espaço cultural extraordinaire. A sua história fascina-me. Hoje é um lugar original e único na nossa metrópole, um lugar onde a sua gerência (Movimento X) conseguiu usar uma estructura com carácter para fazer dela um ponto de encontro eclético, multi-cultural e multi-étnico entre a comunidade cosmopólita de Luanda. Um lugar, segundo se diz, de pouco empurra-empurra e mais experiência. Uma das pessoas por detrás do Movimento mas também com a tarefa de abrilhantar as noites do Elinga usando a música é o DJ Soulbreakxtra, aka Tuka aka Carlo Cunha. Como muitos outros do seu tempo, foi parar a Portugal e depois a Inglaterra para escapar da guerra que nos assolou a todos, e passado pouco tempo descobriu o que há de bom na vida para qualquer amanta da música: Ataris, synthesizers, e a arte de deejaying. Hoje em dia, o Soulbreakxtra é dos poucos a explorar o neo-soul, nu-jazz, e electro-soul em Angola, mas felizmente faz parte de uma onda crescente de artistas interessados neste género. Incluída neste espaço está o brinde Olha So Quem Vem La, com a participação do seu mano e companheiro nestas lides, o Faray Sem Mobile. Não se engane pela forma serena como começa a canção, porque ela me aquece mesmo neste frio horroroso de Boston com os seus ares doces e tropicais da noite luandense. O Faray e o Soulbreakxtra formam a dupla Afrologia, que tomam conta das noites do Chokolante Quente do Elinga nas quintas-feiras. Uma passagem pelos seus Myspaces é obrigatória.

Coming soon: Soulbreakxtra's second single, Angola em Dezembro.

Soulbreakxtra on Myspace
Faray Sem Mobile on Myspace
Afrologia
Soulwatt Productions

Friday, December 18, 2009

Saudades de Buenos Aires: Aire, by Los Cafres

Palermo, Buenos AiresI only lived there for two months, but it was enough to fall hard in love with this city. There is a certain point of time after you stay in a place that you stop being a tourist and instead are taken over by the daily grind and routine of a city. It becomes part of your daily existence. Once I started taking the bondis (buses) to work, figuring out where the best places to buy bife de lomo were, discovering which Belgrano sidewalks to avoid because they would be perpetually covered in dog shit, which store in Palermo Soho had the best men’s clothes, and so on and so forth, the city became a part of you, and there was no turning back. Our nightlife experience even started to develop a routine of its own, although by no means did it ever get boring. Stay there long enough and you might even pick an allegiance – I was celebrating Falcao’s goals for River Plate even before he joined my beloved FC Porto. The design capital of the world was an assault on all senses, and I feel that cities like Luanda could learn a lot about preservation and cultural heritage from places such as this (though Palermo Soho is grappling with conservation problems of its own). I think about this city daily – the friends I made, the malbec I drank, the beautiful porteñas, the music of Los Cafres. Here to assuage the nostalgia is a great track by my favorite Argentine roots reggae band, called Aire.

I need to go back.

Aire

Palermo Soho, Buenos AiresNem posso me armar que sou ja grande argentino e que tenho ja bué de saudades de Buenos Aires. Mas uma coisa é certa. Viver numa cidade durante dois meses é o suficiente para se apaixonar dela, e eu não fugi a regra. Apaixonei-me e de que maneira. Há uma diferença fundamental entre turista e residente. Atinge-se um certo ponto, penso que talvez depois de 3 semanas, em que se entra na rotina do dia-a-dia. Comecei a fazer coisas que nunca faria como turista: andava de autocarro até ao salo (era estágiante), descobri onde comprar o melhor bife de lomo no meu bairro, descobri que passeios estavam mais cobertos com fezes de cão, descobri que loja em Palermo Soho (bairro alternativo e chic de Buenos Aires) vendia a melhor roupa pra homem, e por aí em diante. A cidade virou parte de mim e eu virei parte dela, e estava lançada a amizade. As noites começavam a ganhar uma certa rotina mas nunca perdiam a sua exuberância, porque noite como em Buenos Aires ainda não encontrei. Fiquei lá o tempo suficiente para escolher equipa e tudo: comecei a vibrar com os golos do Falcao (pelo River Plate) muito antes dele ir para o meu FC Porto. Buenos Aires é também conhecida como a Capital Mundial do Design, e penso que cidades como Luanda têm muito que aprender com a capital argentina em termos de conservação de espaços e edíficios culturais. Ter arranhã-céus não é tudo na vida. Cada dia que passa penso em Buenos Aires, e as vezes a minima coisa faz me lembrar aquela cidade. Penso nos amigos que fiz, no malbec que bebi, das porteñas lindas e armadas que conheci, nos reggaes de Los Cafres. Aqui para matar as mihas saudades esta uma grande música da minha banda de roots reggae argentina preferida, música esta de nome Aire. Longa vida a Los Cafres e a Buenos Aires.

Tenho que la voltar.


-Photos: Palermo Viejo, Buenos Aires, Argentina by g_u, and Palermo Soho, Buenos Aires, Argentina by psycho roy

Thursday, December 17, 2009

Elinga Bar celebrates its second anniversary

Elinga TeatroI have never set foot in Elinga Bar. When I left Luanda about a year and a half ago, legend has it that the bar had just narrowly avoided demolition by the ever present construction vultures that pray on Luanda’s architectural and cultural heritage, erasing the city of its roots and identity in favor of concrete behemoths that sometimes have very little to do with their surroundings. In reality, the Elinga Bar is much more than that – before it was a bar the Elinga was one of the premiere cultural centers of Luanda and has been there since 1975 (?), serving concurrently as a theater venue and an art gallery, and hosting a myriad of other cultural activities over the years. These days the Elinga Bar has been taken over by an enterprising and optimistic group of artists and Djs calling themselves the Movimento X, and they have succeeded in creating alternative sort of atmosphere for “alternative” Angolans, those that like good vibes, little fuss, and great music. My kind of night.

Nunca pisei no Elinga Bar. A última vez que estive em Luanda, a cerca de um ano e meio atrás, só ouvia boatos que este mítico espaço cultural da capital angolana estava em vias de ser demolido por um camartelo qualquer que, não tendo destino nem sentido de história, partia tudo que fosse património arquitectónico e/ou cultural, apagando sem piedade as raízes e identidade da cidade de Luanda para no seu lugar erguer uma torre alta e sem carácter e que nada tem haver com o ambiente a volta (quem ainda se lembra do mercado do Kinaxixe?). Tendo existido desde 1975 (salvo erro?), o Elinga sempre foi um ponto de encontro para as almas artísticas da cidade, sítio onde são exibidas peças teatrais, peças de arte, e muitas outras actividades culturais. Hoje em dia, o espaço foi resgatado por um grupo de jovens artistas e empreendedores que se dão o nome de Movimento X, que transformaram o Elinga em ponto de encontro para gente ‘alternativa’, que gosta de noites de boas vibes, pouca confusão, e musica excelente. O meu tipo de noite.
Elinga LuandaLook at their music selection: they usually play soul, jazz, soul-funk, nu-jazz, deep house, broken beat, alternative, and other sounds not regularly heard in Luanda. It has been decided that it’s going to be the first nightlife spot I set foot on upon my return to the Kianda. And if you are there right now, be sure not to miss their second anniversary party. Below are the deets (Click on the picture for a much better view). Be sure to check out their hip-hop fair on the 20th, featuring such gems as MCKs first CD, as well as other paraphernalia. Yet another event that I’ll get to miss. But perhaps the last one!
Click on the pic for a better view and to be able to actually read what it says.

O que mais me chama a atenção é o seu estilo de música. Não é todos os dias em Luanda que encontramos um sítio que toque soul, jazz, soul-funk, nu-jazz, deep house, broken beat, e alternative. Está decidido que esta será primeira casa nocturna onde ponho os pés após o meu regresso a cidade da Kianda. E para quem está lá agora e ainda não ouviu, tenham cuidado para não perder a festa do seu segundo aniversário, que, como sempre, promete. E no dia 20 é a feira do hip-hop e o movimento urbando, onde será possível comprar relíquias tais como o primeiro CD do MCK, Trincheira de Ideias. CD que ainda tenho até hoje, capa improvisada e tudo. É mais outro evento que infelizmente vou perder, mas creio que será o último.
Cliquem na imagem para lerem melhor.

Movimento X LuandaThe good people over at Luanda Nightlife also have good things to say about this place...

-Photo 1 by Blog da Ju, photo 2 by CasadeLuanda, photo 3 by subscribing to their newsletter at x.movimento(at)gmail(dot)com

Tuesday, December 15, 2009

Coming Soon: Caipirinha Lounge Interview w/ Mauricio Pacheco

Mauricio PachecoThe man behind the eclectic Comfusões project and the founder of carioca rap/capoeira/funk band Stereo Maracanã, producer extraordinaire and basist/guitarist Mauricio Pacheco will share with us his love for Teta Lando, Rio de Janeiro, and Lusophone music. Don't miss it!

Em Breve: Entrevista do Caipirinha Lounge ao Mauricio Pacheco

Depois de digerirem bem a entrevista ao Keita Mayanda, vem aí mais um exclusivo do Caipirinha Lounge. Desta vez o convidado será Mauricio Pacheco, o homem por detrás do projecto Comfusões e o fundador da banda Stereo Maracanã. O grande homem falará sobre o seu respeito por Teta Lando, o seu amor ao Rio de Janeiro, e sobre a sua paixão, música lusófona.

Max de Castro, Part II: Orchestra Klaxon

Max de CastroIt’s late at night in this unforgiving Boston winter, but it’s cozy in my room and I’m in Brazil anyway, because Max de Castro is playing on the stereo. Our exploration into his sublime music continues with Orchestra Klaxon, his sophomore effort. After listening to this album for the last five days, I can confidently and happily say that it’s better than Samba Raro, which is a splendid fact because Samba Raro was really quite good. Orchestra Klaxon however, is brilliant. His blend of soul, jazz, bossa nova, samba, electronica, and hip hop continues to amaze me. It combines my favorite forms of music into a single musical identity, a new genre full of flair and personality. It was a lot harder to choose just three songs from this CD, but the ones I’m sharing with you here are classy and delicious. I mean, with a track name like “A História da Morena Nua Que Abalou As Estruturas do Esplendor Do Carnaval”, you can’t go wrong. Os Óculos Escuros da Cartola is another laid back, chill Brazilian electro-fusion track, but the exquisite one in this collection is O Nego do Cabelo Bom, featuring Brazilian funk/soul artist Paula Lima, whose velvety, husky voice adds just the right amount of sensuality to these socially conscious lyrics.

A História da Morena Nua Que Abalou As Estruturas do Esplendor Do Carnaval
Os Óculos Escuros da Cartola
O Nego do Cabelo Bom

Ja é de madrugada neste inverno sem piedade de Boston, mas o meu quarto continua aconchegante porque posso fingir que estou no Brasil. Afinal, tenho o Max de Castro a tocar na aparelhagem. A nossa exploração pelos seu universo musical continua com o seu segundo album, Orchestra Klaxon, que tive o prazer de ouvir durante os últimos 5 dias. Posso vos dizer com certeza que é ainda melhor que Samba Raro. Se Samba Raro ja foi o que foi, então o facto de ester ser melhor só poder significar que o cantor está a evoluir significativamente. É que o Orchestra Klaxon é brilhante. A sua mistura peculiar de soul, jazz, bossa nova, samba, electronica, e hip hop continua a pagar dividendos. É uma combinação dos meus estilos preferidos de música numa só identidade aural, um novo género cheio de personalidade e exuberância. É muito mais díficil escolher só três canções do CD para expor aqui, mas as três que escolhi aposto que serão do vosso agrado. Só o nome de uma delas, “A História da Morena Que Abalou As Estruturas do Esplendor Do Carnaval”, já dá uma certa curiosidade. Os Óculos Escuros da Cartola é outra excelente canção de estilo laid-back, electro-fusion brasiliero e relaxado, mas a verdadeira estrela aqui, a que me arrasa de todo, é O Nego do Cabelo Bom, feito com a participação da diva do soul brasilieiro, a Paula Lima. A sua voz ofegante funciona lindamente com a do Max de Castro, e torna esta música um tanto quanto mais sensual. A letra também é interessante...preste atenção.

-Photo by Transpira

Orchestra Klaxon

Caipirinha Lounge Interview: Grande Entrevista à Keita Mayanda

Keita MayandaNão é segredo para ninguém o grande respeito que nutro por Keita Mayanda, um dos meus rappers e artistas preferidos. Se no mês de Outubro viajamos pela sua mente através das suas músicas, hoje faremos o mesmo através das suas palavras e reflexões. O homem, tal como o artista, tem muito que dizer. Dá que pensar, reflectir, e agir. E antes de mais nada, eis a entrevista à Keita Mayanda, o homem e o artista.

Como surgiu a sua paixão pelo hip-hop? E porquê o hip-hop?


Vou começar por responder a segunda questão: o hip-hop não foi uma escolha, aconteceu, é realmente uma paixão e com as paixões as coisas quase nunca são planeadas ou racionalizadas, a paixão surgiu por volta dos 12 anos de idade, ouvia um rap ou outro e queria sempre mais, só que era um género de música desconhecido em Angola e eu não sabia como adquirir cassetes, até que um dia descobri que a Rádio FM Stereo passava um programa onde o rap era a música predominante, toda a segunda-feira ao fim da tarde, eu e um amigo escutávamos embevecidos e assim comecei a descobrir o rap e mais tarde o Hip-Hop.

Como encara o hip-hop em Angola e como descreve a sua evolução?

O hip-hop em Angola evoluiu de modo desigual, isto é, entre os seus elementos apenas o Mcying se desenvolveu de modo razoável, os outros elementos são bem pouco desenvolvidos e têm ainda pouca visibilidade, é verdade que temos crews de b-boys e crews de graffwriters, mas a posição de dj que é a mais antiga e que deu origem ao hip-hop não existe quase, se quisermos ser rigorosos poderemos dizer que não se practica o djying em Angola. O rap em Angola se desenvolveu de modo parecido ao que se faz no resto do mundo, em termos de produção e mesmo em termos de desempenho dos mcs, é bem verdade que existem características que só existem no rap angolano, como o facto do rap de cariz político ter-se desenvolvido como uma maneira de fazer rap quase um estilo, aliás muitos consideram o rap político como o rap underground, o que em termos rigorosos não é verdade.

Como encara o hip-hop no mundo lusófono em geral?

Eu oiço bastante rap do Brasil, acho que eles tem o melhor rap e o melhor movimento hip-hop da lusofonia, mais diversificado, mas estruturado, produz mais, possuem vários eventos, têm uma conexão com a sociedade que não existe em nenhum outro movimento na área da lusofonia, mas oiço também rap de Angola, Moçambique e Portugal, mas considero o rap do Brasil o melhor.

O que significa a música para si?

“…eu chamei a música e amamo-nos mutuamente/ desde então o som da liberdade esta no meu coração/ essa relação que não se compreende a nível da razão…/ esses versos revelam a minha relação com a musica, para mim é um tubo de escape, o divã do psiquiatra.

Musica Pro Sol Que Nasce

Como músico em Angola, pensas que tens o devido apoio e reconhecimento?

Não tenho qualquer tipo de apoio, mas o tipo de rap que faço não recebe e nunca receberá qualquer tipo de apoio e ou reconhecimento (excluindo as pessoas que gostam da minha música) quer institucional ou outro, isso é para os músicos do sistema, os amigos dos radialistas e os lambe botas de plantão.

Ja é possível viver só da música em Angola?

Há artistas que obtêm parte fundamental da sua renda através da música, possuem uma agenda de concertos grande e recebem os melhores cachets do mercado, mas não são muitos, e eu disse parte fundamental porque ainda tem de fazer outras coisas tipo publicidade para engordarem a renda, alguns recebem apoios de empresas e assim garantem o seu sustento.

Sabe-se que também gosta de escrever poesia. Gosta mais de se exprimir pela poesia ou pela música, ou será que para si é a mesma coisa?

Eu sou o tipo de mc que escreve antes de pensar na música, mas não posso dizer se gosto mais de escrever poemas ou compor musicas, penso que é bastante ténue a fronteira entre as duas formas é a velha relação entre poemas que se musicam e letras poéticas.

Descreve-nos Keita Mayanda como artista.

Mc, underground e não tenho receio de o dizer, hoje em dia há bastante confusão sobre o que é underground e o que é comercial, eu não faço confusão entre os conceitos. Sou um quase poeta, souful mc, post revolucionário, neo espiritualista com os pés bem assentes no chão e uma mente que funciona a mil.

E como homem?

Reservado, amigo dos amigos, metódico.

Como surgiu o relacionamento com MCK, Ikonoklasta, e o resto do Conjunto Ngonguenha?
Keita Mayanda, MCK, Grande LHá já muitos anos que somos amigos, são os irmãos que o rap me deu, a ideia de fazermos o Conjunto foi creio do Leonardo ou do Conductor, numa fase em que morávamos em países diferentes, mas conseguimos fazer o álbum em três semanas numa altura em que pudemos nos reunir todos em Lisboa. Não são só parceiros do rap, são kambas do peito e já passámos por muitas cenas juntos, boas e más.

As músicas que fazem como Conjunto põem-me em gargalhadas. Pensas dar seguimento a este projecto?

Acabamos de gravar, há uns poucos meses, o segundo cd do Conjunto que vai chamar-se Nós Os Do Conjunto e vai ser editado em 2010 pela Masta K. vai seguir a mesma linha de pensamento do primeiro embora não seja como um sequência, procuramos não nos repetir eh como diz aquele kuduro: “ igual ao outro mais diferente”.

Falemos um pouco sobre cultura. Quais são para si os pontos fortes da cultura angolana?

Eu vou falar da cultura não como manifestação artística apenas, mas como modo de ser, usos, costumes e crenças, nesse sentido acho que o mais positivo da cultura Angola é a capacidade de se reinventar de se superar e às dificuldades e a capacidade de sorrir na adversidade e de ser generoso mesmo quando se possui pouco.

Jimona Dia Ixi

O que mais o faz sentir-se orgulhoso de ser angolano?

Não é algo físico, tão pouco tem a ver com as conquistas (poucas por sinal) que o país alcançou, tem a ver com uma energia irracional, um amor que não pede contrapartidas, existe pelo simples facto de aqui ter nascido, por fazer parte dessa terra, compreender o mundo a partir do facto de ser angolano, eu não sou desses que maldiz o pais por causa da governação, desses que não amam Angola porque ela não atingiu os níveis de desenvolvimento que se observam noutras partes do mundo, desses que voltaram porque Angola é que esta a dar nesses tempos de incerteza financeira e desemprego na Europa, desses que são angolanos por conveniência e que são incapazes de compreender o nosso processo histórico, politico e sociocultural, ser angolano exige de nós compreender a nossa realidade muito alem do que são as nossas conquistas pessoais, carro, casa e emprego.

Quais são as tuas influências literárias?

Eu li bastante na adolescência, li muito mesmo, 5 livros por semana era o que eu lia, hoje leio bem menos, tenho menos tempo, mas também a literatura encanta-me menos hoje, mas as minhas referências literárias vão desde Henrique Abranches a Pepetela, de Agatha Christie a Jorge Amado e muitas outras que marcaram cada uma o seu momento na minha adolescência e inicio da juventude.

E influências musicais?

Ah! Aí é difícil descrever, porque ao contrario do que aconteceu com os livros, a musica só cresceu, e cresceu, a minha necessidade de ouvir musica é quase patológica, sou um viciado em pesquisa de musica e em downloads, estou sempre antenado as coisas novas, novos artistas, coisas velhas, novas experimentações musicais é melhor não referir artistas mas géneros musicais assim é mais fácil porque seria uma lista imensa, eu gosto muito de rap, o rap é a minha base, mas hoje gosto mais de neo soul que é uma variação da soul tradicional, mais influenciada pelo rap, gosto de jazz, de semba, de samba rock, bossa nova, musica electrónica, musica experimental, world music, musica africana, é verdade que esses conceitos são demasiado elásticos para que o leitor perceba exactamente o que, mas é porque eu oiço muitas coisas, por exemplo no rap não oiço gangsta rap ou rap comercial, gosto da nova cena da west coast (de Madlib a Fashawn) adoro o rap da east, a cena de Detroit a cena de Philladelphia, gosto de rap francês, rap sueco, rap japonês, glitch hip hop, souful hip hop, nada de 50 cent ou Lil Wayne e nem é por razoes ideológicas, simplesmente não curto, não me agrada, tem o seu valor, mas não toca no meu ipod.

Quais são os teus artistas lusófonos preferidos?

Os irmãos Mingas, o Bonga, Nação Zumbi, CéU, Parteum, os meus manos do Conjunto Ngonguenha, Curumin, Clube do Balanço, Marisa Monte, Racionais Mcs, Kilu, 340ml (apesar de não cantarem em português são de Moçambique) Djavan, Teta Lando, Marku Ribas, Beto Villares, Tim Maia, Otto, Instituto, Silvera, Ed Motta, Maria Gadú é muita cena nem é possível lembrar todos, mas deu pra perceber que oiço muita música do Brasil (quem não ouve né?) mas sobretudo a cena mais alternativa de São Paulo e Pernambuco.

Algumas das tuas músicas têm um forte teor psicológico e social, tal como a música Sociologia. Como surgiu a ideia e a inspiração para esta música?

Eu tenho uma licenciatura em Sociologia, mas ao contrário do que muita gente pensa esse facto tem pouca influência no que escrevo ou nas minhas ideias, muitas pessoas referem-se a isso como se eu fosse uma folha em branco antes de ir para a universidade, mas a verdade é que sempre fui muito curioso e li bastante sobretudo na adolescência isso sim formou a minha base ideológica, os livros que li antes de ter 20 anos. Eu queria fazer um som onde o título não indicasse claramente o tema, eu curto fazer isso, gosto de títulos curiosos e que nem sempre tenham referência explícita nos versos. Queria muito fazer uma música que falasse sobre sustentar uma família e sobre os sacrifícios que se consentimos quando estamos nessa posição, não é o meu caso, mas é um assunto que sempre me fascinou.

Sociologia

O que achas dos valores e padrões morais da juventude angolana?

Não tem porque não receberam, os valores e padrões existem mais nada tem a ver com moralidade, os valores são o dinheiro, a jactância, a impáfia, a ostentação. O padrão é ser da “elite” a palavra esta entre aspas de propósito, é frequentar o Palos e estudar na Universidade Lusíada ou ter estudado fora do pais de preferência na Europa ou Estados Unidos, ter morado fora do país porque na cabeça dessa gente esses padrões e valores te fazem superior em relação a maioria.

Na música O Caminho do Meio fazes um apelo para sermos mais humanistas. Vês uma certa falta de humanismo no homem/mulher angolano(a)?

Costumava ouvir que um dos maiores valores da nossa cultura é a solidariedade, penso que estes anos de guerra, de privações de toda a espécie aliados a nova geração de ricos que ostentam e humilham os pobres contribuiu para que as pessoas olhassem apenas pra elas mesmas, é fácil ser generoso quando não te falta nada, mas incrivelmente os mais ricos são os mais avarentos, basta ver qual a dimensão e qualidade das acções de caridade neste país praticadas por empresas ou por pessoas abastadas, precisamos de construir um novo angolano, que saiba amar e respeitar o próximo.

O Caminho do Meio

Como encaras a sociedade angolana em geral?

Doente, profundamente doente, completamente disfuncional, entenda, tens uma polícia que além de não proteger, ainda se envolve em roubo e assassinato, os políticos inspiram asco na maior parte dos casos, por falta de honestidade e amor pelo país, professores mais preocupados em jactar-se do que em ensinar, pais que se desresponsabilizam da educação dos filhos, ninguém ama a cidade onde vive, todos sujam, cospem, maltratam a cidade. A minha visão é sombria, é verdade, existem também coisas boas é verdade, mas acho que no actual contexto temos de ser duros e não alinhar com a proposta do sistema de vender a imagem de um país que se desenvolve porque existem projectos mirabolantes e megalómanos, o país são as pessoas sobretudo e se as pessoas não estão bem como pode o país estar bem?

Quais são as tuas ideias acerca do desenvolvimento Socio-económico de Angola?

Deve se centrar na melhoria do sistema de ensino, e na melhoria nos serviços de saúde, em termos puramente económicos a agricultura tem de continuar a receber a atenção que tem recebido nos últimos dois anos, mais investimento nesse ramo da actividade económica, para ajudar a diminuir o peso das importações na nossa economia, criar empregos, criar renda e assim gerar riqueza para o Estado, o turismo e a rede de transportes tem de ser melhorada com eles vira certamente mais emprego, e mais riqueza para os investidores e para o Estado, com isso Angola vai se tornar destino de verdadeiro turismo, aumento e melhoria de toda infra-estrutura habitacional, rede de esgotos, energia e agua, a modernização de Angola garantirá que os seus melhores filhos na diáspora retornem e que mais pessoas respeitem o nosso país.

A música que fazes com Ikonoklasta, Falso Orgulho (pt. 2) contem algumas críticas tuas ás duas forças politicas do país. Qual é a avaliação que fazes acerca destes dois partidos tão influentes no historial deste país?

Pelo que posso entender são dois partidos que se posicionam a esquerda, ideologicamente falando, mas que agem profundamente como uma direita reaccionária, oligarca, no caso de quem governa, despreocupada com os valores que nortearam as suas fundações, portanto distantes do povo que dizem representar.

Qual a sua opinião acerca do actual clima politico do país?

Morno. Desinteressante. Poucos políticos conseguem realmente captar a minha atenção, poucos conseguem criar verdadeiros factos políticos, o meio político parece-se com um certo rap que vive de fazer diss, beefs porque só assim consegue chamar a atenção.

Tens fé no futuro de Angola?

Não sei o que será de Angola nos próximos 10 anos, a futurologia é algo que não domino, mas esta a se tornar um Brasil em dimensão menor, mas só agregando as coisas que o Brasil tem de pior, os Macintoshes são na opinião de muita gente os melhores notebooks, então Angola é um Macintosh numa kubata de lata, velha e feia sem agua e sem luz, brinco de ouro em nariz de porco. Ja disse antes o pais são as pessoas e não os prédios novos e shopping centers, tem a sua importância, mas se nao servem a todos, servem pra quê?

5 MCs que respeitas, em Angola ou no estrangeiro:

Vou só citar os que mais respeito em Angola Leonardo Wawuti, Conductor, Ikonoklasta, McK e Edu ZP, como apenas pediste 5 fico por aqui.

5 artistas que ouves quase que diariamente:

Nos últimos tempos: Erik Rico (Journey Back To Me) Electric Wire Hustler (Every Waking Hour) Mr. PopCorn (Epopcorn), Jesse Boykins III (The Beauty Created), Shafiq Hussein (En-A-Free-Ka).

Petro ou D’Agosto?

DAGO, DAGO, D’AGOSTO até morrer.

Funge com moamba de galinha ou feijão de óleo de palma com cacusso?

Feijão de óleo de palma com cacusso é claro, essa é a melhor comida do mundo.

Quem achas que vai ganhar o CAN 2010, e que estádio achas o mais bonito?

Camarões ou Costa do Marfim, o estádio de Luanda é o maior e mais bonito dos 4.

Cidade preferida em Angola?

Huambo. Aconselho todos a visitar a cidade com melhor qualidade de vida no país, conheço todos os municípios da província e eu nasci em Luanda, portanto não sou como esses que só sabem falar bem da sua região ou etnia, temos de ser justos.

Livro preferido?

Olha já li há uns 15 anos e só lembro o título do livro: Entre Lobos. A estória passa-se num campo de concentração nazi, e eh sobre um grupo de prisioneiros que esconde dos nazis a existência de um bebe no campo. Li várias vezes quando tinha 14 ou 15 anos.

Música preferida de todos os tempos?

Melhor música do mundo é da Lauryn Hill: Ex-Factor, essa me derruba mesmo.

Pensamento do dia:

Ser melhor a cada dia.

-Photo por Mario Bastos
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