Monday, August 30, 2010

Caipirinha Lounge Interview: Conductor, "O Nosso Timbaland"

Foi prometida há uns meses atrás mas não é à toa que o Andro de Carvalho (aka Conductor) é o homem do momento, o productor andava mesmo busy. Segue, na íntegra, a interessante entrevista com o que considero ser o melhor productor angolano, onde o mesmo fala das suas origens pelo mundo do hip-hop, a sua viagem pela experiência do kuduro e a sua explosão mundial, e alguns dos seus futuros projectos. Disfrutem e comentem!

As Origens

Como surgiu a tua relação com a música?

Acho que tudo começou muito cedo, conta a minha mãe que sempre gostei de tocar em instrumentos, guitarra, pianos eléctricos, etc etc etc, mas em termos de compor e tocar mesmo de um modo mais sério foi em 1996 que em Cuba aprendi a dar uns toques de guitarra com um tio.

Como surgiu a sua paixão pelo hip-hop?

Lembro-me por volta de 1993-1994 em Luanda ouve um boom do "eu queria um Ferrari amarelo" do Gabriel o Pensador e a partir dai que fui me sentindo intrigado com essa forma de "falar por cima das melodias". Já havia algum contacto prévio mas mais mesclado no explosão internacional com o "I've got the power" e outras coisas do género mas só prestei mais atenção quando ouvi em português.

Quais foram as suas primeiras grandes influências no hip-hop mundial?

Basicamente não havia muito por onde escolher, naquela altura a praça do Kinaxixi e alguns amigos tinham algumas coisas engraçadas como Snoop, Tupac, Fu-Shnikens e pouco mais do género. Acho que so em 1996 prai é que tive contacto com discos de rap americano, o Luaty (Ikonoklasta) tinha um stock grande e gravava-me algumas cassetes.

E no hip-hop lusófono?

Gabriel o Pensador e SSP acho que foram o primeiro "choque com o rap em português". Depois ouvi Black Company e fui ouvindo pouco a pouco o que se fazia no universo do rap angolano. Não acompanhei muito o desenvolvimento nessa altura do rap angolano porque estava focado noutras coisas mas arrependo-me profundamente.

O Hip Hop

Descreve-nos o teu trajecto dento do mundo do hip-hop angolano?

Bem, depois de vir para Lisboa viver e ja estar mais dentro do movimento e dos "canones" da cultura, acabei por re-encontrar o Luaty (que tinha sido meu colega de escola) e ele me apresentou uma nova face do rap angolano, Mc Kapa, Filhos da Ala Este, Hemoglobina, etc etc etc... Acabei por entrar em contacto com alguns deles e pouco a pouco fui produzindo para alguns destes artistas, eu tinha pouco mais de 1 ano de produção quando fiz metade do disco do Mc Kapa (Trincheira de Ideias) e bem... dai para a frente fui sempre dando o meu contributo quando me fosse pedido, Kid MC, Mc Kapa, Leonardo Wawuti, Keita Mayanda, Phay Grande, Ikonoklasta, etc etc etc

Quando e como surgiu o Conductor como productor e não só MC?

Eu comecei a produzir em 2000-2001, um grande amigo, o Loxe, mostrou-me o Fruity Loops e fui mexendo mais e mais na altura já tocava um pouco de guitarra e fui só misturando o que bem me apetecia com o "como deve soar". Lembro-me de samplar uns desenhos animados manga e me sentir o Madlib português... Hahahhahahaha.. o tempo passa não haja dúvida disso...

Como Mc comecei em 1998, assim que cheguei a Portugal conheci alguns rappers do circuito tuga e comecei a fazer algumas coisas com eles, freestyle, algumas rimas escritas, etc etc.. mais tarde fiz parte de um grupo chamado Nova Trova com uns amigos mas acabamos por nos separar.. A dada altura comecei a prestar mais e mais atenção ao rap que se fazia em Angola, acho que sempre senti mais "espaço para crescer", havia menos "barreiras psicológicas" e o pessoal sempre foi mais dado a experimentação sem usar bases de referencia.

Pensas ser melhor a cantar ou a produzir?

A produzir sem sombra de dúvidas, não acho que seja um mc exímio nem nada do género, acho que me preocupo demais com o quanto a mensagem que quero transmitir vai ser recebida.. e isso acaba por me dificultar o processo de espontaneidade que faz falta para embelezar o flow. No entanto, tenho alguma facilidade a fazer freestyle e acho que talvez ai me sinta um bocado melhor..

Como avalias a tua evolução como productor?

Eu acho que devem ser os ouvintes a decidir isso...

A meu ver, compor ou mesmo produzir é um processo que passa por fazes, no principio queres soar como alguma coisa, depois começas a criar a tua "imagem de marca" e só mais tarde é que percebes o porque não és "ouvido" como querias. Acho que a limitação é só parte da mente, tudo é possível e fazível e acho que nunca me deixei gerir pelas regras que limitam os géneros, hoje em dia estou muito mais concentrado na qualidade de som, mistura e gráficos do que a uns anos atrás mas ao mesmo tempo acho que é mais simples ser ouvido quando soas bem...

Quais são as producções tuas no hip-hop de que mais te orgulhas?

Eu vou te Queixar - Conjunto Ngonguenha
Eu Vou Te Queixar

After Hours - Tekilla
Faz parte do Hustle - Força Suprema

E o rapper com que mais gostas de trabalhar, seja por motivos criativos ou outros quaisqueres?

Há vários tipos de artistas...

o Ikonoklasta tem sempre aquele desafio e aquela ideia complicada que vai demorar a criar mas cujo resultado final vai ser extraordinário. O NGA é sempre aquele mc que me surpreende sempre, é eficiente, tem uma escrita muito fluída e de rápido impacto e tem um tempo de entrega surpreendente.. 15 minutos por som, dobras, adlibs, coro.. é incrível.

Como avalias a qualidade productora do hip-hop lusófono em geral?

Acho que há produtores muito bons e acho honestamente que é o pilar que mais tem desenvolvido nos últimos anos, os beats soam cada vez mais a beats e a mistura vem evoluindo a longos passos. Kilú, Bambino, Sandokan, Aires, Eliei, Sam The Kid, Nave, Marechal têm sem dúvida nível para representar a lusofonia num evento de produção mundial.

Que planos e/ou projectos tens para o futuro como productor?

Projectos ha sempre milhares e milhões.. de momento estou a finalizar um projecto com os Força Suprema, vai se chamar "Faz Parte do Hustle", outra brincadeira com Edu-ZP que é um dos melhores rappers angolanos a meu ver e também um disco com Supremo G que vai se chamar "Regresso ao Futuro"... estes são os que tem andado, porque na gaveta há sempre mais uns tantos..

Conjunto Ngonguenha
Nos os do Conjunto
Como surgiu a ideia do Conjunto?

A ideia do Conjunto apareceu em 2002 entre conversas de internet e ideias idiotas e estúpidas que todos tínhamos em comum. Chamar de Conjunto foi apenas uma forma de não sermos outra crew e ao mesmo tempo de darmos aquele props a geração passada.

Como definiarias o seu propósito e a sua fonte de inspiração?

Acho que de uma forma muito natural nós somos bastante idiotas, passamos a vida a rir e a reparar e reclamar ironicamente da vida que vivemos e das coisas que acontecem a nossa volta. Somos uns realistas estupidamente rappers. Basta passar umas horas connosco para perceber de onde aparecem os temas e de que forma as coisas são escritas, acho que há mais demora na parte da produção, corte-e-costura e montagem do que na hora de encontrar uma fonte de inspiração.

Qual foi a reacção do público ao vosso primeiro CD? Estavas à espera desta reacção?

O público teve uma reacção muito lenta, os meios de promoção na altura eram quase inexistentes e lembro-me de termos vendido 200 copias no dia do lançamento oficial do disco em Luanda. Mesmo em Portugal as coisas não foram muito diferentes, o disco só esgotou efectivamente uns 2 anos depois do seu lançamento e foi quase só ai que nos apercebemos da reacção das pessoas a música, acho que foi um produto difícil de digerir.

A nossa grande admiração foram artistas de meios bastante fora do nosso terem escolhido o disco como disco predilecto do ano e sermos bem recebidos por grupos como os Cool Hipnoise, Prince Wadada, Terrakota, Sara Tavares ou mesmo 1-Uik Project, que dizem ser uma grande inspiração para o trabalho que fazem.

O vosso som ‘É Dreda Ser Angolano’ inspirou um documentário do mesmo nome bastante bem recebido. Será que o seu sucesso surpreendeu-te, ou perspectivavas algo assim?

O projecto foi filmado por nós e acabou por ser editado e lançado pela Fazuma, editora independente do mercado português. Acho que era de esperar uma boa recepção, as filmagens foram feitas de forma a captar o quotidiano angolano e para muitas pessoas ainda é um mito perceber como o pais sobrevive e como muitas pessoas vivem e como os prédios escondem, pisam e soterram os musseques e o modo de vida de muitos cidadãos angolanos. Claro que receber prémios etc etc nunca nos passou pela cabeça, mas é como dizemos, a realidade de uns é o teatro da vida de outros..

Definirias o Conjunto Ngonguenha como um trabalho discógrafico com conotações sócio-políticas?

De certo modo sim mas não me parece que façamos um trabalho direccionado para esse campo. Nós apenas falamos do nosso dia a dia, dos nossos problemas, das nossas cicatrizes de infância etc etc, acabamos por ser críticos e satíricos porque é assim que somos naturalmente, o angolano de forma natural é um "aceitador" e nós somos um pouco mais críticos mas é tudo feito sem esse link directo..

Que planos tens para o futuro do Conjunto? Pensam fazer mais documentários?

Já pensamos, mas como tudo o que acontece com o Conjunto, o tempo e a forma de fazer as coisas é muito nossa... O Conjunto vai começar a se concentrar em fazer um evento em Luanda no fim do ano e em espalhar mais e mais a semente que atiramos na Ngonguenhação.. Ainda temos 2 temas por fazer por isso ainda poderão esperar alguma coisa a passar ai pelo ar..

Buraka Som Sistema
Como tem sido a tua aventura pelo mundo do kuduro? Encontras semelhanças às tuas origens no hip-hop?

O mundo é do kuduro dentro de Angola, para nós da Buraka é o mundo da música electrónica (ou música urbana como chamamos), estamos no mesmo palco que os Daft Punk, Major Lazer, Crookers, MIA, Sinden, Benga.. é apenas diferente, é um mundo de espectáculo altamente direccionado a música de impacto e de dança. Desde o momento que tens mc's com microfones a fazer o público se mexer e vibrar seja que tipo de som seja para mim há uma ligação directa com o hip-hop, afinal a base é a mesma.

Acho que o kuduro hoje em dia representa melhor o quotidiano angolano do que o hip-hop que temos feito. Há mais originalidade e criatividade pelo menos sem sombra de dúvidas e é claro que é a maior expressão cultural que o país tem a décadas.

Como surgiu a idea para o Buraka Som Sistema?

A ideia surgiu no sentido de apresentar as noites Lisboetas a batida que se ouve nos clubes africanos, tudo começou com festas onde Dj Riot e J-Wow faziam de dj e o Kalaf e eu fazíamos de mc's a criar um hippe a volta do som em si. Depois de alguns eventos esgotadíssimos e a pedido do público acabamos por nos concentrar em fazer músicas para ilustrar o que estava a acontecer. E dai foram aparecendo pouco a pouco o Yah, Wawaba, Sound of Kuduro e o Kalemba (Wegue)...

Como defines o som dos Buraka?

Buraka Som Sistema faz música urbana, eu não consigo ver as coisas de outra forma, não vejo muita diferença entre o que nós fazemos (em termos conceptuais) e o que acontece no Baile Funk, o Kwaito, o Sakousse, Reggaetón, Nueva Cúmbia, Baltimore, Grime, Dubstep, Drum'n'Bass, Funky-House... são todos géneros suburbanos começados por miúdos em frente a um computador a tentar misturar o som que ouvem todos os dias com o som que não lhes sai da cabeça...

Qual a avaliação que fazes acerca do sucesso que o Buraka tem estado a granjear pelo mundo?

Há muito trabalho duro por traz do nome Buraka Som Sistema, há muitas noites sem dormir e muitos sacrifícios por parte de todos, há equipas e mais equipas a trabalhar e a bater com a cabeça na parede para fazer com que o plano funcione. Para além disso há a força de vontade dos músicos e da própria banda para que as coisas aconteçam sempre da melhor forma possível, a organização e pensar grande são sempre a base de tudo, é só o que tenho a dizer.

Espanta-te a forma como o kuduro está sendo tão bem aceite mundialmente pelas mais diversas pessoas?

Acho que África é o centro de atenções do que está a acontecer musicalmente dentro da música electrónica a uns 2, 3 anos. Nós simplesmente viemos trazer uma outra face dentro de tudo o que as pessoas tem vindo a ouvir.

A forma como apresentamos o nosso espectáculo é também um grande trunfo dentro do que fazemos, poder ir ao Japão, Russia, México, Estados Unidos etc etc e dar a conhecer as cosias da mesma forma como damos em Portugal demonstra que temos um show forte e isso acaba por se reflectir também no sucesso que temos tido.

Descreve-nos a energia dum concerto dos Buraka? Qual foi a cidade do mundo que mais se rendeu ao vosso espectáculo? E qual foi a cidade em que mais gostaste de actuar?

Cidade do México, Paris e Bélgica são sempre lugares onde um show de Buraka é 300%. O set do concerto é quase non-stop e tem muita coisa a acontecer, acho que é difícil ficar parado (pelo menos é como muitas pessoas o descrevem), o clash entre a bateria e o computador acaba por criar uma vibração sonora muito dinâmica e isso se reflecte na reacção das pessoas aos comandos dos mc's.

Há quem acha que o Black Diamond tem uma mensagem um pouco política. Concordas?

Acho que de um modo indirecto o disco acaba por ser reflexo dos mc's que cantaram nele e tendo um leque tão diverso e tão completo de convidados acaba por ser um pouco mais social que político. O nome parece um pouco tendencioso mas apareceu sem querer sobre a ideia da rocha que pode ser um diamante mas pelo seu aspecto rude não é valorizada por ninguém (um bocado o que acontece com o género kuduro e com outros ao redor do mundo).

Como foi feita a aproximação à MIA? O que ela achou do kuduro dos musseques luandenses, que é diferente do kuduro dos Buraka?

A MIA ligou para o estúdio porque queria ter um kuduro no disco que estava a gravar na altura (Kala) e nós começamos a trabalhar com ela mas devido a um desentendimento de timings o som acabou por não sair, aí nos adaptamos a coisa para o nosso disco e assim fizemos o "Sound of Kuduro". Ela não chegou a ir para Luanda, foi lhe recusado o visto umas 3 ou 4 vezes, no fim de contas usamos umas imagens dela no estúdio e duma viagem que ela fez pela Índia.

Qual o teu som preferido dos Buraka Som Sistema?

Há vários, eu gosto da participação do Bruno M, o "Tiroza", gosto do "Luanda/Lisboa"e o Remix que fizemos do "Make it, Take it" de Amanda Blank

Luanda-Lisboa

Como perspectivas o futuro dos Buraka?

Estamos na fase mais criativa do próximo disco da Buraka e acho que vamos entrar numa onda mais melódica do que de impacto, não gostamos de nos repetir e acho que isso vai se notar um bocado no produto final. Esperamos continuar com os shows no próximo ano e continuar a fazer as pistas tremer com a nossa música.

Conductor the Man

5 MCs que respeitas, em Angola e no estrangeiro?
Angola - Leonardo Wawuti, NGA, Mc Kapa, Phay Grande & Bruno M
Estrangeiro - Drake, Mos Def, Elzhi, Ludacris, The Game

5 artistas que ouves quase que diariamente?
Marcia, The Game, Drake, Irmãos Almeida & Matias Damásio

Album de hip-hop preferido?
The Game - Doctor's Advocate

Album preferido, excluindo o hip-hop?
Márcia – Márcia

Cidade preferida?
Tokyo

Livro preferido?
7 Minutos, de Irving Wallace

Líder mundial preferido, e porquê?
Presidente Gasolina e Príncipe Ouro Negro, porque nem tudo tem que ser político...

Pensamento do dia:
"Morrer é burrice, no caixão faz calor"

Batida

Dance MwangolêAs promised late last week, here's the post on Batida. It all started as a weekly radio show hosted by DJ Mpula on Portugal's Antena 3 station. Batida, as the show was known, focused on African and Afro-inspired urban music, ranging from kwaito to kuduro, dancehall to Brazilian Funk. It didn't take long for the program to turn into an actual project, complete with a CD. DJ Mpula of the Fazuma family and producer Beat Laden teamed up with the cream of the crop of Angola's authentic kuduro and hip-hop scene, including Sacerdote, De Faia, Ikonoklasta, and Bob da Rage Sense, and set about remixing and sampling Angolan classics from decades past (just like Comfusões) into insanely danceable, high energy, brain-warping beats. Pure batida, as the kuduro sold on the streets of Luanda is known as.

Alegria is without a doubt the best song on the Dance Mwangolê album, the first and only album under the Batida banner. It builds up luxuriously before exploding into a cornucopia of vintage, psychedelic, semba-twinged kuduro, accented with an electric guitar of sorts and a humorous loop:

Eu vou dançar com alegria
(I'm going to dance with joy)
A música do gatuno. (The song of the robber).

Turn up your headphones and experience what Luanda sounds like. You can watch the video of the song here. And as much as Alegria is the jam to end all jams on the Dance Mwangolê record, be sure to check out Puxa, another well done track that features Angolan oldies and a bass heavy rhythm.

Alegria
Puxa

Como prometido na semana passada, aqui vai o post acerca da Batida. Tudo começou com um programa de rádio semanal do DJ Mpula na estação de rádio portuguesa Antena 3. Batida era o nome do programa, e procurava divulgar a música urbana africana ou pelo menos inspirada pelos ritmos africanos, tais como o kwaito, o kuduro, o baile funk, o dancehall, e por aí em diante. Não demorou muito para que o programa virasse projecto, com CD e tudo. O DJ Mpula da familia Fazuma e o productor Beat Laden convocaram nomes pesados do mundo do kuduro e hip-hop autêntico de Luanda, como o Sacerdote, o De Faia, o Ikono e o Bob da Rage Sense, e embarcaram na missão de remixar e samplar clássicos angolanos de outras décadas (um pouco como o Comfusões) e transformar-lhes em batidas explosivas, energéticas, fora de série e estúpidamente dançáveis.

O melhor brinde do álbum Dance Mwangolê, o único até agora lançado pelo projecto, é sem dúvida Alegegria. Começa com a simples batida, mas cresce diante de nós a cada momento em que um novo som ou instrumento é adicionado à batida, até que depois ela explode num festival de kuduro psicodélico com sabor ligeiro a semba e uma guitarra tipo eléctrica que veio mesmo a calhar. E o loop:

Eu vou dançar com alegria
A música do gatuno.

Aiué. Levanta o volume e escuta uma faceta de Luanda. Podes até ver o vídeo aqui mesmo. E mesmo sendo Alegria o melhor brinde do disco, apanha mesmo o álbum porque todas as músicas são boas. Incluindo Puxa, também incluída neste post. Outra track com um baixo lixado e um ritmo alucinante.

Batida on Myspace
Batida on baga-baga blog (here you can read more about its history)
Batida is available online on iTunes, Amazon, and even Mondomix

Saturday, August 28, 2010

Reedicão / Re-edition do Lusofonia Electronica Vol. 1

Lusofonia Electronica Vol 1Devido a demanda e a rápida desactualização do link, foi relançada a segunda mixtape do Caipirinha Lounge! Na realidade, finalmente tendo acesso a internet de banda larga que não falha, simplesmente fiz o upload do ficheiro no Filedropper. Para todos aqueles que não conseguiram fazer o download da mixtape, ou que apanharam já o link desactualizado, aqui vai uma segunda chance. Que escutem, que apreciem e que disfrutem.

Abaixo tem o link da mixtape, bem como a ordem da mesma e a informação de cada música. Como qualquer playlist, soa melhor se tocado exactamente na ordem descrita acima. Não hesitem em comentar caso encontrem algum problema com o download.

E fiquem atentos a terceira mixtape...

1. Logo – Leonardo Wawuti, Angola
2. Brada – 1-Uik Project (Various artists), Angola/Portugal
3. Zom-Zom – Elias diá Kimuezo feat. Maurício Pacheco, Angola/Brazil
4. Bondade e Maldade (Yoruba Soul Remix)– Cesária Évora, Cape Verde
5. Pela Janela – Thievery Corporation feat. Gigi Rezende, USA/Brazil
6. Mama Divua Diame – Avozinho feat. Mauricio Pacheco, Angola/Brazil
7. Fuba Experience – Kalaf, Angola
8. Rainha (Mark de Clive Lowe Remix) – Céu, Brazil
9. Terra & Água (Buscemi Remix) – Electro Coco, Brazil
10. Miss Perfumado (4 Hero Remix) – Cesária Évora, Cape Verde
11. Electricidade – Fernanda Porto, Brazil
12. Como Vou Fazer (Dois Irmãos Remix) – Dois Irmãos feat. Mariana de Moraes, Brazil
13. Go Back – Monica Freire, Brazil
14. Rosa Menina Rosa – Céu, Brazil
15. Aí Vem Ele – Luísa Maita, Brazil
16. Ela Disse Assim – Max de Castro, Brazil
17. Olha So Quem Vem La – Soulbreakxtra, Angola
18. Relachtotal – Coca o FSM, Angola
19. Pra Você Lembrar – Max de Castro, Brazil
20. Imagina Só – Coca o FSM, Angola
21. So Com Você – Thievery Corporation feat. Bebel Gilberto, USA/Brazil
22. I’ll Be – Cibelle, Brazil
23. Ato II – Ellen Oléria, Brazil
24. Waiting – Cibelle, Brazil
25. Are You Sleeping – Katia B, Brazil

Download Mixtape here:

Lusofonia Electronica, Vol. 1


Due to the high demand and the quick deactivation of the link, Caipirinha Lounge's second mixtape, Lusofonia Electronica Vol. 1, is again available for download! I finally gained access to high-speed, broadband internet and was able to upload the file again. For all of you that couldn't download the mixtape earlier or caught the link after it expired, here's a second chance. Serve that caipirinha chilled and nourish your soul with some quality music.

Above is the link, the track order, and some information on each song. Like any playlist, this one is best enjoyed if the songs below are played in order. Don’t hesitate to comment if you experience any problems with the download.

And watch this space for the third mixtape...

O que significa a música lusófona para ti? Como a sentes? - Por Ngoi Salucombo, Escritor/Fotógrafo

A diáspora é uma sensação esquisita!

Foi na diáspora que despertei para muitas coisas entre elas a música lusófona, aliás, arrisco mesmo em dizer que para muitos angolanos da minha geração, foi na diáspora que descobrimos a beleza da música cantada e tocada em português.

Com excepção da música portuguesa e alguns pedaços das musicas das novelas brasileiras, lembro que na minha infância, não se ouvia sons de Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique ou São Tome e Príncipe... na Rua Comandante N´zaji, que foi onde nasci e cresci, era apenas a música angolana que fazia parte das nossas vidas... músicos como Mamborro, Lucas de Brito, Clélia Sambo e cotas como Waldemar Bastos, Lourdes Vandúnem ou Mário Rui Silva sempre estiveram presentes lá em casa.

À partir de algumas influências que sempre vou agradecer, foi já na adolescência que descobri os U2, Madonna, Depeche Mode ou a Cyndi Lauper que foi um dos grandes amores da minha vida. Para um país fechado para o mundo como era Angola, o inglês surgiu-nos de alguma maneira como desenvolvimento e talvez por isso, ouvir uma cassete de música no walkmen cantada em português, era sinal de caretisse.

Para um jovem que nunca tinha saído de Angola, a diáspora foi o local de muitas descobertas, e foi nela também, que recomecei a escutar a música angolana. Na altura, Portugal era o ninho dos músicos que não encontravam cá ouvidos que escutassem as suas melodias...da mesma forma que os outros africanos da lusofonia faziam o mesmo com a sua música. Foi lá que pela primeira vez ouvi o Manecas Costa...foi na diáspora que conheci os Boy Gé Mendes e foi por lá também, que descobri que o Leandro e Leonardo não significavam música brasileira.

Infelizmente, foi com a distância que valorizei muito do que me é próximo, talvez por isso, hoje me sinta confortável em assumir que seria outra pessoa se nunca tivesse conhecido as vozes do outro lado que também são minhas... vozes como Seu Jorge, António Variações, Princezito, Sara Tavares, Cibelle, Gabriel Tchiema e tantas outras, que hoje, nos misturam e nos unem, mesmo que insistimos em não acreditar.

Este texto foi escrito sem o acordo ortográfico e ouvindo Aurora, com Waldemar Bastos e The London Symphony Orchestra

About Ngoi Salucombo:

Nestas andanças pela blogosfera angolana deparei-me com o oásis que são o Attelier das Mangueirinhas e o Portfólio Photografico, ambos do mano Ngoi. Descobri que somos os dois incorrígiveis apaixonados pela música, e nesta base a amizade surgiu naturalmente. Era constante vê-lo em actividades musicias em Luanda, tal como no concerto dos Afrologia no Elinga ou os Ecletismos Poéticos do Bahia. Colaboramos também na divulgação do Jazz Festival na blogosfera, eu com posts acerca dos artistas e ele com fotos dos cartazes dos mesmos espalhados por Luanda. Váris fotos do Ngoi também iluminam este espaço. Para os mais interessados, é possível apreciar as obras dele aqui, e ler o seu livro de contos aqui. Obrigado por este post, mano Salucombo!

Caipirinha Lounge Cinema: Alegria, by Batida

It's impossible to listen to this jam sitting down. Damn! Psychedelic kuduro with traces of semba. It's like Angola itself was sampled for this hell of a beat, and it's image of beautiful chaos captured on film. The post about Radio Fazuma's Batida Project is coming soon...watch this space! And here's to a Saturday morning as happily explosive as Alegria.

Batida - "Alegria" from Fazuma on Vimeo.

É impossível ouvir isso sentado. Fogo! Kuduro psicodélico com traços de semba. Angola samplada num só som, e a imagem a espelhar o carnaval Luandense. Vem aí o post acerca do Projecto Batida dos manos da Rádio Fazuma, do qual sou um 'ganda fã'. Que tenham um sábado tão cheio de energia como a que esta música e vídeo transmitem. Mantenham-se sintonizados!

Luísa Maita Remixed

What a beautiful story she has become. I first featured Luísa Maita back in June, before her CD was released by Cumbancha Discovery. Since then, Luísa's music has exploded in popularity among lusophone music lovers, 'world music' fans, and the public in general. Evidently, I wasn't the only one to be enamored by her sultry voice and her exciting musicality. The girl from São Paulo reached #1 on iTunes Latin charts, #1 on Amazon Latin bestseller charts, and American NPR (National Public Radio) called her the "new voice of Brazil." I've devoured her debut album and cannot wait for more from one of the most talented singer/songwriters to have emerged from Brazil in the past couple of years, which is no small feat.

Today was Luísa's release show for her debut album, in her hometown of São Paulo. The fans' loving reception confirmed her status as a promising star in Brazil's ever evolving music scene, and the Lounge is glad to have played even the smallest part in her budding success. One of her most loved tracks, Fulaninha, has been remixed by the American but born again Brazilian artist Maga Bo, who will soon have a dedicated post here at the Lounge. It's available for your listening pleasure below. Bem haja Luísa!

Fulaninha (Maga Bo Remix)

Que linda história ela tem se tornado. A primeira vez que falei da Luísa Maita foi em Junho, ainda antes do label Cumbancha Discovery ter lançado o seu álbum. Desde então, a popularidade da Luísa tem disparado entre os amantes da música lusófona, os fãs da 'world musci', e o público em geral. Pelos vistos não fui o único, nem de longe, a se apaixonar pela sua voz caramelizada e a sua musicalidade irreverente. A cantora de São Paulo conseguiu atingir posição #1 no iTunes Latin charts, #1 no Amazon Latin best-seller charts, e a rádio americana NPR (National Public Radio) descreveu-lhe como "a nova voz do Brasil." Já ouvi o seu CD vezes sem conta, e espero com ansiedade o seu próximo trabalho, seja lá o que for. Estamos na "presença" de um dos maiores talentos a emergir do Brasil no último ano.

Hoje, em São Paulo, foi o show do lançamento do seu álbum. A recepção calorosa dos seus fãs confirmam o excelente momento desta cantora e reafirmam o seu estatuto como uma das promessas da música contemporânea brasileira. O Lounge está orgulhoso por poder ter contribuído para o sucesso das mais pequenas das formas. Uma das suas músicas mais circuladas, o Fulaniha, já foi remixada pelo americano (mas com alma brasileira) Maga Bo, que será destacado neste espaço em breve. Pode ouvi-lo acima. Bem haja, Luísa!

Luísa Maita's Official website

Thursday, August 26, 2010

Aló Irmão, by Narf and Manecas Costa

It's because of collaborations like these that the Lounge exists. Narf and Manecas Costa are two artists from two very different places and experiences, but yet built a flourishing friendship based on their mutual love of music and the Lusophone identity. Built on that Lusophone spirit. Narf is from Galicia, the northwestern area of Spain that speaks Galego, the mother tongue of Portuguese. Uxia's galego. Manecas Costa meanwhile is perhaps the most well known and most respected musician from Guinea-Bissau. His sublime guitar skills grace many a Lusophone musician's compositions, as he has played for luso-artists such as the aforementioned Uxia, the Angolans Paulo Flores and Konde, and his fellow Guinean Eneida Marta. Narf is an artist who I am a lot more less familiar with, but who's joie de vivre and musicality I've greatly appreciated in this album.

The two songs featured on this post capture the mood of this partnership, the bridge between their different yet strangely similar cultures. Aló Irmão, the album opener and title track, is perhaps more Galician, and it features beautiful guitar work as well as shared vocals. Nha Mame is more Guinean and vintage Manecas. Hearing the album from start to finish is a lot more rewarding than sampling just these two tracks, and this is the first we've heard from Manecas, vocally speaking, in quite awhile. The entire album is recorded live.

Aló Irmão
Nha Mame

É por colaborações destas que o Lounge existe. Narf e Manecas Costa são dois artistas de lugares e experiências completamente diferentes, mas que conseguiram construir uma amizade baseada no amor que eles sentem pela música e pela sua identidade lusófona. Contruiram esta amizade com base no seu espírito Lusófono. O cantor Narf é galego, tal como a Uxia que também já foi destacada aqui. O idioma que fala é que depois deu origem à língua portuguesa. Já o Manecas Costa é talvez o artista mais cotado e respeitado da Guiné Bissau. A sua mestria com a guitarra consta nas músicas de vários artias lusófonos, entre eles a já mencionada Uxia, os angolanos Paulo Flores e Konde, e a sua conterrânea Eneida Marta. Conheço pouco o Narf, mas apreciei a sua joie de vivre e a sua musicalidade, mais que evidenciada neste álbum.

As duas músicas destacadas neste post capturam a alegria com que foi feito este trabalho. É uma ponte entre as duas culturas ali presentes, tão diferentes mas estranhamente comuns. Aló Irmão abre o disco e é mais 'galega' que Nha Mame. Nela se podem ouvir os dotes dos dois com a guitarra, e se escuta tanto o galego como o crioulo guineense. Nha Mame é toda ela em guineense, e se ouve o Manecas como nunca mais se tinha ouvido. E como se não bastasse, o álbum foi gravado ao vivo.

Aló Irmão's Official website
Aló Irmão on Myspace

Wednesday, August 25, 2010

Uma tarde ao som de Ruy Mingas

Ruy MingasO sol finalmente se fez sentir, esta tarde, em Luanda. Entre o mar de centenas de carros afogandos no asfalto esburacado da cidade, viajava livre pelo ar uma brisa fresca, o último suspiro do cacimbo. Cheguei a casa exausto depois de uma maratona burocrática: finalmente consegui 'tratar' do meu BI novo, porque o meu antigo foi expirar logo ontém. Pus o iPod a rodar e qual foi a minha surpresa, agradável, em ouvir a voz conhecida do Ruy Mingas na canção triste do Monagambé.

Naquela roça grande
não tem chuva
É o suor do meu rosto
que rega as plantações

Naquela roça grande tem
café maduro
E aquele vermelho cereja
são gotas do meu sangue...
....feitas seiva....

Lembro-me que foi a primeira canção que eu alguma vez ouvi do Ruy Mingas, ainda quando era puto, nas andanças com o meu pai lá em Washington. Monangambé era uma das suas músicas preferidas angolanas. Ele a ouvia no carro vezes sem fim, ou a punha a tocar em casa depois de mais uma lição de história angolana. Monagambé, o explorado, o quase-escravo, na sua própria terra, condenado a colher café. Recebia, em troca,

Fuba podre
Peixe podre
Panos ruins, 50 angolares

Porrada, se refilares.


Para sempre associarei o termo Monangambé a esta canção do Ruy Mingas. São inseparáveis no meu cérebro, sinónimos mentais.

Hoje em Luanda ainda chamam monangambé às pessoas que viajam na carroça das carrinhas, mesmo se são chineses com os seus fatos cor de laranja berrante a caminho de uma obra qualquer. E já agora, já que o tema é Ruy Mingas, fiquem também com a Homenagem a Liceu Vieira Dias, instrumental acústica a um dos grandes nomes da música angolana. Bem haja, kota Ruy Mingas.

Monangambé
Homenagem a Liceu Vieira Dias

Monday, August 23, 2010

O que significa a música lusófona para ti? Como a sentes? - Por Massalo Araújo, Fotógrafo

Waldemar BastosPara ser completamente sincero, a música lusófona provávelmente não tem o significado forte que tem para algumas pessoas da minha geração, visto que mais de 90% do que oiço diariamente é cantado noutra lingua senão o português.

Mas sei o que é ter saudades da minha cidade, com lágrimas nos olhos, quando o Paulo Flores começava a cantar o seu "já vi mar banhar a areia, em Luanda..."
Isto porque para mim, musica é memoria, sobretudo quando cantada na lingua que me viu a nascer.

About Massalo:

One of his favorite lusophone artists is Waldemar Bastos, in the title photo, and one of my favorite photos of his is the one directly above. After months of compulsive photo stealing from Massalo's Flickr page (many of his exquisite photographs grace this website), I finally got to meet the exciting photographer in person and can now call him a friend. You can spend hours going over his photos, and if you're busy right now, I thoroughly recommend a visit to his website as another way to procrastinate. You can read Massalo's blog and marvel at his work here, here and here. Oh, and here too.

-Photo by Massalo

Late Nite Lounge Vol. 28 - Teach U a Lesson, by Robin Thicke

This sensual tune has all the hallmarks of a great late nite track: steamy lyrics, a laid back downtempo beat, a chilled vibe and soulful vocals. Robin Thicke's voice has been rendering women hysterical for years and with a song like this one, it's easy to see why. I like Teach U a Lesson because it sounds and feels almost like my favorite bossa nova tracks. The best late night crooners have a gift of being able to whisper sweet nothings into the mic - we've heard how Carla Bruni does this, as well as Coralie Clement in Samba Qui Mon Couer Qui Bat, Buika in La Niebla - and while Thicke isn't whispering in this one, his vocals are soft enough to let the song's swaying instrumentals have a say. Quality track, this one.

Teach U a Lesson

Teach U a Lesson tem todas as marcas de uma boa música para a late nite: uma letra quente e sedutora, um beat relaxado, uma vibe sensual, e um músico que canta com alma. Ha muito que a voz do Robin Thicke enlouquece completamente as mulheres, e com músicas assim, é fácil ouvir porquê. Gosto desta música porque soa quase à bossa nova e tem o mesmo sabor. Os que melhor cantam músicas para as altas horas fazem-no com ternura e sussuram para o microfone: vêm-me à cabeça a Carla Bruni, a Coralie Clemente em Samba Qui Mon Couer Qui Bat, e Buika em La Niebla. E mesmo que neste caso o Thicke não sussura para o microfone como estas divas, está lá próximo. E faz-lo suavemente, deixando ainda que as instrumentais leves da música não se façam de esquecidas. Ganda som, este.

-Photo by Ambism

Sei Lá, by Gabriel o Pensador

Seems like I'm still in a Gabriel o Pensador sort of mood. While Até Quando, featured here over the weekend, was an angry, rebellious, defiant call to arms, Sei Lá calms the mood considerably. It's the last track on the album Seja Você Mesmo (Mas Não Seja Sempre o Mesmo) and showcases a soulful, mellow, laid back Gabriel. Singing about love, no less. O Pensador is one of the finer Lusophone wordsmiths (just look at the name of the album) and in this song he's no different. The way his rap glides over this particular beat is effortless. Press play, feel the lyrics, lounge around and groooove...

Sei Lá

Ainda estou na onda do Gabriel o Pensador. Se Até Quando, destacado aqui no fim de semana passado, nos mostrou um Gabriel inconformado, zangado e rebelde, já o Sei Lá mostra um homem muito mais calmo, amoroso até. Sei Lá é o último brinde do disco Seja Você Mesmo (Mas Não Seja Sempre o Mesmo), e nele o Gabriel o Pensador está mais soulful, mais descontraído, mais relaxado. E a cantar de amor, ainda por cima. Acho do Pensador um dos mestres da língua portuguesa, adoro a maneira dele de brincar com as palavras (basta ver o nome do álbum) e nesta música confirma-se a sua veia de poeta. Ouve a letra com atenção. Carrega no play e aprecia a maneira que o seu rap desliza sobre o beat.

-Photo by Festivaldeinverno

What does Lusophone music mean to you? How do you feel it? - by Mike Stead, Author

Thanks for the invitation to write a few words for your site. I’m not sure that I could say anything eloquent about my rather eclectic and very dated taste in Lusophone music. My first exposure was to MPB in Brasil in the 80's, such as Cazuza, Legião Urbana, Renato Russo, Netinho, Titãs, Paralamas do Sucesso, Só para contrariar, Engenheiros de Havai, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Djavan, Elba Ramalho , Lulo Santos, Marisa Monte, Daniela Mercury, Caetano and Maria Bethânia. I still listen fondly to this stuff. I’m afraid things went downhill when I went to Portugal in the 90s and listened to boy bands such as Excesso, Anjos, and GNR with a bit of Mariza thrown in. Finally, my Angolan tastes are limited to the rather predictable Bonga, Waldemar Bastos and Ruy Mingas.

About Mike Stead:

Mike Stead is the co-author of the Bradt Guide to Angola. He's spent much of the last 30 years living and working overseas thanks to postings with the Diplomatic Service. He spent a year in Luanda as the Deputy Head of Mission and Consul at the British Embassy where he set about writing this guide with Sean Rorison. He wrote the background and practilaties chapters, the appendices and the sections on Luanda, Bengo, Kwanza Sul, Kwanza Norte, Malanje, Huíla, Benguela and Namibe, and co-wrote the sections on Lunda Norte and Lunda Sul with Sean. Mike's a fan of this site and enjoys a well made caipirinha! You can visit his blog here and read relevant updates to his guidebook.

Sunday, August 22, 2010

Até Quando? por Gabriel o Pensador

Gabriel o PensadorOnce in awhile (or more often than not, depending on your patience, your optimism), Luanda can become a difficult, bureaucratic beast. Or worse, a repressive concrete slum jungle full of contrast and contradiction. Once in awhile you'll cease to see the beauty of the Marginal, the serene view of Luanda as seen from Miramar, the way the São Miguel Fort lights up against the backdrop of the night sky. Once in awhile it gets to you: the injustice, the inequality, the crime, the police brutality. The corruption, the obscene display of ill-gotten wealth, the rampant unemployment, the kids that aren't in school, the omnipresent dust. The slums, the potholes, the increasingly paranoid, oppressive regime. But what gets me the most is the attitude. The mentality. And above all, the impassiveness of the people in the face of such avoidable adversity. Até Quando? (Until When?)

In the lusophone world we seem to share the same problems. Até Quando is a politically charged, socially conscious, call-to-arms anthem by Gabriel o Pensador, one of Brazil's brightest rappers. Though he's a rap artist in the traditional sense - Gabriel's raps are a lot more influenced by rock and popular Brazilian music genres than by anything else. Até Quando, from Gabriel's 5th studio album Seja Você Mesmo (Mas Não Seja Sempre o Mesmo) is a great example. For those who understand Portuguese, or can spot true talent when they hear it regardless of the language, and/or who live in Luanda and want to hear a song that vents for them, that expresses their frustration, give Até Quando a listen.

Até Quando?

De vez em quando (ou, dependendo do seu grau de paciência e optimismo, regularmente), viver em Luanda pode-se tornar um exercício difícil, um bicho burocrático de sete cabeças. Ou pior, pode significar vive numa repressiva selva de betão, cimento e poeira, repleta de contastes e contradições. De vez em quando, paras de ver a beleza da Marginal. A vista de Luanda à partir do Miramar deixa de te seduzir, e a maneira que a Fortaleza de São Miguel acende à noite já não te diz nada. De vez em quando, é difícil escapar a realidade por baixo da beleza. A outra Luanda. A da injustiça gritante, da desigualdade social, do crime, da brutalidade da polícia. A Luanda da corrupção, das obcenas amostras de riqueza conseguida de maneiras menos honestas, do desemprego avassalador, dos putos que não estão a estudar mas sim a vender cigarros, da poeira omnipresente. A Luanda dos musseques sem as mínimas condições de vida, das estradas cómicamente esburacadas, do regime cada vez mais paranóico e opressivo. Mas o que mais me espanta é a atitude das pessoas. Da sua mentalidade. E acima de tudo, do seu pensamento de "deixa-estar", de impotência, de preguica, perante tamanha desgovernação ou mesmo perante si mesmas. Até Quando?

No mundo da lusofonia, às vezes partilhamos das mesmas "mazelas", dos mesmos problemas. Até Quando é uma música politicamente carregada e socialmente consciente, um apelo ao nosso espírito de justiça, um hino à nossa dignidade como cidadãos e seres humanos. É da autoria do rapper brasileiro Gabriel o Pensador, um dos rappers mais inteligentes daquele país irmão. Se bem que ele não é um rapper do estilo ao que estão habituados, porque musicalmente as suas influências partem muito mais do rock e de estilos sonoros brasileiros do que o rap chamado tradicional. Até Quando, do seu quinto álbum de estúdio, Seja Você Mesmo (Mas Não Seja Sempre o Mesmo), é um exemplo da sua sonoridade. Para todos aqueles que vivem em Luanda e de vez em quando mergulham em tais frustrações, Até Quando é uma música que grita, que clama, que descarrega pro ti.

-Photo by Festivaldeinverno

Kizomba Saturdays Vol. 12: Alta Segurança, by Philip Monteiro

About Kizomba Saturdays: Saturday has always been a day of kizomba. Living in Luanda, there was always a boisterous neighborhood party to go to on a Saturday night, where we would exhaust ourselves dancing kizomba after kizomba, waiting for that special tarraxinha to come on so that we could go slow dance with that girl we have a crush on. Even during the day, the aunts or cousins would put on an album while they cleaned or cooked, dancing spontaneously on the quintal (backyard) while the beans cooked and the fish grilled. I find myself keeping the tradition alive here in the States, where come the weekend I invariably play kizombas, even though I have no one to dance with. I figured I’d bring that tradition here to the Lounge: Kizomba Saturdays.

Today was one of those Saturdays. There was a huge birthday lunch at my grandmother's house, with so much food that I spent most of my time there eating and will still be back tomorrow for round two. Ironically, the genres of choice were kuduro and hip-hop (and they were only being played downstairs, in the basement) so I think those kizomba Saturdays are slowly becoming a thing of the past. Nonetheless, if the party isn't to your liking, you make your own! Today's kizomba post features Philip Monteiro, a musician from Cape Verde that has gone on to become one of the most popular and beloved voices of both zouk and kizomba. Alta Segurança has gone on to become a classics of 'Cabo Love', the romantic sub-genre of kizomba made in Cape Verde. Play this song in Cape Verde, west Africa, throughout the lusophone world, and in the French Antilles, and the reaction is the same. Couples clasping each other, swaying to the soft beat.

Alta Segurança

Sobre o Kizomba Saturdays: Para mim, sábado sempre foi um dia de kizomba. Na banda (Angola), sábado à noite há sempre uma festa de quintal para se ir dançar kizomba ao nosso bel prazer, dançar até as pernas começarem a estremecer de cansaço, dançar até vir aquela tarraxinha que estavamos à espera, e aí sim, podemos parar de dançar e em vez tarraxar com aquela mboa que nos estava a olhar a festa toda. Coisas da banda. Mesmo durante o dia, as tias e as primas botam um CD na aparelhagem com aquelas kizombas que param multidões, e enquanto o feijão ferve e o cacusso grelha, são várias as danças espontâneas no quintal entre primo e tia, sobrinho e irmã, convidado e pato. Porque patos há sempre, até para o almoço de sábado. Aqui nos States, tento, teimosamente, manter a tradição. Acordo aos sábados e boto kizomba na aparalhegam. Meus roommates só me olham. Ja estão habituados. Danço com a vassoura, afinal elas existem para quê? Decidi então trazer este hábito para o Lounge: Kizomba Saturdays. Para atenuar a saudade da banda.

Hoje foi um sábado destes. Houve uma grande almoçarada na casa da minha avó, com tanta comida que gastei a maioria do meu tempo lá só a comer e amanhã voltarei para mais. Por ironia do destino, a música que mais se tocou lá foi kuduro, batida e hip-hop...creio que esta coisa de kizomba aos sábados já está a se tornar, lentamente, coisa do passado. Mas prontos, aqui no Lounge continua a ser Kizomba Saturday, ora poças! A kizomba de hoje é do Philip Monteiro, um músico de Cabo Verde que por estas paragens dispensa apresentações. Alta Segurança já é um clássico do Cabo Love, tendo fãs espalhados pelo mundo da lusofonia, pelas antilhas, e pela África ocidental. Uma tarrachinha ao som desta música..."mano nem te conto."

Sunday, August 15, 2010

Late Nite Lounge Vol. 27 - Breathe, by Telepopmusik

I think this might just be my favorite late night song. I was introduced to it by my friend Daniel Revel during my first years at Boston University and it's been with me ever since; I always include it on playlists that I make for my friends. Breathe is perhaps Télépopmusik's most popular song, and was understandably nominated for a Grammy Award in 2004. Télépopmusik, an exciting French electronic music trio, is made up of 2 Square (Stephan Haeri), Fabrice Dumont, and Cristophe Hetier. They're true masters at capturing that loungey feel, and the relaxed, sophisticated soft house track featured here is an electronica lover's bliss. Scottish singer Angela McCluskey is responsible for the song's breathy, deliciously sultry vocals, and she contributes to other tracks in Telépopmusik's acclaimed debut album, Genetic World. Press play and let your soul float...

Breathe

Custa-me escolhere entre preferidos, mas creio mesmo que Breathe é o meu late night brinde (som) preferido. Foi o meu kamba Daniel Revel que me introduziu à esta música nos meus primeiros anos na Universidade de Boston, e a música tem estado comigo desde lá. Sempre que faço playlists para os meus mais chegados, incluo esta delícia. É talvez a música mais popular dos Télépopmusik e foi nomeada para um Grammy em 1994. Télépopmusik é um trio francês bastante criativo, composto pelo 2 Square (Stephan Haeri), o Fabrice Dumont, e o Cristophe Hetier. São mestres em capturar aquela vibe do lounge, relaxada e sofisticada, tal como a canção aqui destacada. Uma verdadeira gema para aqueles que disfrutam da electronica. A cantora escocesa Angela McCluskey é quem nos porporciona as deliciosas, ofegantes vocais neste e outros sons do album Genetic World, o primeiro dos Télépop. Carrega no play e deixa a tua alma flutuar...

Saturday, August 14, 2010

Só Quero, by Soulwatt

Caipirinha LoungeThis one is for late nights and good company. The kind of company that makes you want to dance slow jams like this one, all up close. This one is for slow drives around Luanda (or anywhere) in the dead of night when the road is all yours. This one is to share with a solitary glass of red wine or a passion fruit caipirinha. It's the type of song for the Late Nite Lounge but I couldn't resist putting it here today, it was consuming me. I usually play music when I go to bed and I heard this song as I was drifting into that ambiguous state between being asleep and being awake, that hazy dreamscape where your brain can't distinguish between imagination and reality. It was perfect, I heard the song and I thought I was dreaming. It took all my strength to get up and look at what was playing on Songay's iPod. Só Quero, by Soulwatt, said the visor. Soulwatt is another incarnation of the magic that brothers Tukka and Coca do together, just like Afrologia. Press play and relax...it's Friday night.

Só Quero

Este aqui é para noites em branco passadas em boa companhia, daquele tipo de companhia que te faz ouvir sons como esse e dançar lentamente, com ternura. Este aqui é para passeios lentos pelas ruas desertas de Luanda (ou qualquer outro lugar) durante aquela parte da noite em que a estrada, deserta, é só tua. Este aqui é para ser partilhado com um bom vinho tinto solitário ou uma caipirinha de maracujá. É o tipo de música que reservo para o Late Nite Lounge mas desta vez não consegui resistir, este som me consume e tinha que o partilhar. Normalmente ponho música a tocar quando vou para cama. Ouvi este som pela primeira vez quando estava naquele estado ambíguo entre o sono e a coerência, aquele lugar em que a mente não consegue distinguir entre o sonho e a realidade. Foi perfeito, esta música começou a tocar e pensei que estava a sonhar. Tive que puxar do fundo para conseguir levantar e olhar para o iPod do Songay para poder ver qual era essa música que conseguiu me tirar da cama. Só Quero, pelos Soulwatt, disse-me o visor. O Soulwatt é outra encarnação da magia que os manos Tukka e Coca fazem quando estão juntos, tal como Afrologia. Carrega no play e é relachtotal...feliz noite de sexta feira.

-Photo by Olalla

Friday, August 13, 2010

Sanda Cordeiro entre as 10 finalistas do "Prémio Descobertas RFI" 2010

A cantora angolana de 'world music' Sandra Cordeiro está entre os 1o finalistas do conceituado prémio da Radio France International, "Découvertes 2010"! É a única estrela angolana entre as maiores revelações do ano deste nosso panorama musical africano. Para a nossa Sandra ganhar vai precisar do vosso voto. Sigam o link abaixo e toca a votar e a espalhar a mensagem!

http://www.rfimusique.com/musiquefr/pages/001/page_15249.asp

(link está em francês mas é fácil perceber).

*Obrigado Stive Cacunga da N'Guimbi Produções pela informação!

-Photo by N'Guimbi Produções

Thursday, August 12, 2010

One Beat, Two Messages / Um Som, Duas Mensagens

Valete, MCK, Keita Mayanda. Three of my favorite hip-hop artists, two of my favorite hip-hop songs, one single beat. Keita Mayanda started it all with his soulful, heartfelt rap song, 'Equilíbrio'. A song about the powers of love, of all things. A rap about balance, equilíbrio. About relationships and selfishness. The brooding beat was then used by Valete and MCK on a sort of remix, 'A Mentira do Vosso Amor' (The Lies of Your Love). In it, the always surprising Valete goes further on the topic of love, the love for art, love for hip-hop, where it comes from, and where it falters. MCK finishes the song off with his own views on the dedication, sweat, and love that he pours into hip-hop, only to see it bastardized and tarnished by those who don't understand the art. One of the finer messages of Lusophone hip-hop, by three of its most skilled disciples.

Equilíbrio
A Mentira do Vosso Amor

Valete, MCK, Keita Mayanda (sebem que o Valete não está na foto directamente acima, quem está é outro grande do rap angolano, o Leonardo Wawuti). Três dos meus artistas de rap preferidos, duas das minhas preferidas canções, um simples beat. Foi o Keita Myanda que começou tudo com o seu soulful brinde, 'Equilíbrio'. É daqueles brindes que têm o poder de fazer-nos reflectir. Fala sobre o poder do amor, é um som sobre equilíbrio emocional, sobre relações fortes, sobre egoísmo, enfim, carrega no play e ouve tu mesmo. Este mesmo beat foi depois usado pelo Valete e o MCK numa espécie de remix, 'A Mentira do Vosso Amor'. O sempre irreverente Valete vai mas longe no tópico do amor, falando na mentira do amor que ele vê a sua volta. "Eu nunca amei com vosso amor", diz ele. O MCK contribui na estrofe seguinte. Eis as suas primeiras palavras:


Quem corre por gosto vai sempre mais longe / É o amor qe me inspira viver como monge / As vezes sem pão mas sempre a fazer sons / Que refletem a pureza aquilo que eu sinto / Meu vem do o coração por isso nao minto / A mentira do vosso amor esta na bajulação / Dos broxes que fazem ao chefes atras da promoção / Nas promessas estranhas / Nas esperanças ja castanhas / É com mentira que tu ganhas campanhas / O meu amor vive hospedado na lagrima de quem sofre / Não tem preço nao cabe no teu cofre.

Para melhor percebemos o contexto deste som, e da importância do MCK no rap angolano e o tal amor que os três nutrem pelo hip-hop verdadeiro, orgânico, das origens, eis o que o Valete disse acerca do MC Katrogipolongopongo:

O Rap em Angola mais visível, tem uma cara muito festiva e exibicionista. É mesmo possível compararmos com o rap americano mainstream. Muitos sons para o club e muitos mc’s a celebrar uma suposta vida sumptuosa. MCK representa a face mais underground. Em Angola há também quem o classifique como um mc da escola do "Rap Revolucionário". O Mano conseguiu fazer um buzz estrondoso e hoje é conhecido e aclamado em Angola, e marca uma diferença assinalável em relação à maioria do rap Angolano mainstream. K fala da Angola real. A Angola da ditadura, a Angola dos indigentes, A Angola dos contrastes pavorosos. O Mano já chegou mesmo a ter problemas com o governo, por lhe terem associado a movimentos contra-poder. Seria muito fácil para o Kapa seguir as tendências do mainstream. Rimar "Money, cash, hoes" e provavelmente vender mais e ser até mais afamado do que já é. Mas o mano é bem maior do que isso tudo. Tem compromissos irrescindíveis. Está comprometido consigo mesmo, com a arte, e com a sua luta. Antes morrer de pé do que viver de joelhos. Eu e o Kapa, temos trabalhado juntos e temos uma parceria que de certa forma se enquadra no projecto "Um Só Caminho" e estamos a tentar abrir canais nos nossos países para mc’s da Lusofonia. O Kapa distribuiu o meu álbum em Angola, com enorme sucesso e agora vamos editar conjuntamente o Azagaia.

Rap com tanta relevância social, feito com tanto amor à camisola, só mesmo lusófono. Ou quase isso.

Tuesday, August 10, 2010

Late Nite Lounge Vol. 26 - Stone Flower, by António Carlos Jobim

There is something so soothing and relaxing about a top bossa-nova track. It's the world's most sensual genre, I think. It's perfect for those nights when you're exhausted and want to lounge around until eternity; it's perfect for when you're with someone whose company you enjoy, and you want time to stop still. Because when you play a bossa-nova track, time does stop still. All your brain has time to process is that beautiful face in front of you, the flow of the conversation, and that wondrous sound coming from your stereo that only a genius could have composed.

António Carlos Jobim is that genius. He is perhaps the man that most popularized the genre, along with other greats such as Vinicius de Moraes and João Gilberto. Bossa nova can be described as the love child between cool jazz and samba, and Tom Jobim understands that connection better than most. Immortal songs of his, like the popular bossa 'Brazil' (covered by countless artists) is a seamless fusion of both genres. The bossa tracks below, Tereza My Love and Andorinha, are from Stone Flower, one of António Jobim's greatest albums. I've been listening to it a lot recently; try doing so while driving through Luanda's deserted roads late on a Sunday night.

Tereza My Love
Andorinha

Há algo mágico e relaxante numa boa bossa nova. Creio que é o estilo de música mais sensual que existe. É perfeita para aquelas noites em que estás exausto e só queres descontraír a noite inteira; também é perfeita para aqueles momentos em que estás com alguém cuja companhia disfrutas, e queres que o tempo pare. Porque quando se ouve uma bossa nova de jeito, o tempo realmente para. O cérebro só tem espaço para contemplar a face linda a tua frente, o desenrolar da conversa, e aquela música dos deuses que sai da aparelhagem, música que só um génio podia ter composto.

O António Carlos Jobim é um destes tais génios. É um dos homens que mais popularizou a bossa nova, com outros grandes da música brasileira tais como o Vinicius de Moraes e o João Gilberto. A bossa nova pode ser descrita como a fliha prodígia da relação amorosa entre o cool jazz e o samba, e o Tom Jobim percebe sente esta conecção melhor que muitos. Músicas suas, como a imortal 'Brasil' que já foi cantada por muitos outros artistas, é uma fusão clara entre os dois estilos musicais. As bossas acima, Tereza my Love e Andorinha, são do disco Stone Flower, um dos melhores do Tom Jobim. Tem rodado o meu iPod nos últimos dias; tenta ouvi-lo enquanto conduzes pelas ruas desertas de Luanda no domingo à noite, de madrugada.

Monday, August 9, 2010

Kizomba Saturdays Vol. 11: Até Um Dia, by Beto Dias feat. Suzanna Lubrano

Kizomba SaturdaysAbout Kizomba Saturdays: Saturday has always been a day of kizomba. Living in Luanda, there was always a boisterous neighborhood party to go to on a Saturday night, where we would exhaust ourselves dancing kizomba after kizomba, waiting for that special tarraxinha to come on so that we could go slow dance with that girl we have a crush on. Even during the day, the aunts or cousins would put on an album while they cleaned or cooked, dancing spontaneously on the quintal (backyard) while the beans cooked and the fish grilled. I find myself keeping the tradition alive here in the States, where come the weekend I invariably play kizombas, even though I have no one to dance with. I figured I’d bring that tradition here to the Lounge: Kizomba Saturdays.

Suzanna Lubrano and Beto Dias, two of my favorite kizomba artists, are performing together in Luanda this saturday night (Aug. 14) at the Pavilhão da Cidadela. The Capeverdean duo create magic when they sing together. Their lives share a similar path, as they both emigrated from Cape Verde to Holland during their youth and were part of the same band, Rabelados. Both have since embarked on stellar solar careers. I've said before that Ki Vida, by this same duo, is my favorite kizomba of all time, but Até Um Dia is not very far behind. Enjoy it below, and if you're in Luanda and in mood for sumptuous kizomba next Saturday, Cidadela awaits.

Até Um Dia

Sobre o Kizomba Saturdays: Para mim, sábado sempre foi um dia de kizomba. Na banda (Angola), sábado à noite há sempre uma festa de quintal para se ir dançar kizomba ao nosso bel prazer, dançar até as pernas começarem a estremecer de cansaço, dançar até vir aquela tarraxinha que estavamos à espera, e aí sim, podemos parar de dançar e em vez tarraxar com aquela mboa que nos estava a olhar a festa toda. Coisas da banda. Mesmo durante o dia, as tias e as primas botam um CD na aparelhagem com aquelas kizombas que param multidões, e enquanto o feijão ferve e o cacusso grelha, são várias as danças espontâneas no quintal entre primo e tia, sobrinho e irmã, convidado e pato. Porque patos há sempre, até para o almoço de sábado. Aqui nos States, tento, teimosamente, manter a tradição. Acordo aos sábados e boto kizomba na aparalhegam. Meus roommates só me olham. Ja estão habituados. Danço com a vassoura, afinal elas existem para quê? Decidi então trazer este hábito para o Lounge: Kizomba Saturdays. Para atenuar a saudade da banda.

A Suzanna Lubrano e o Beto Dias, dois dos meus artistas de kizomba preferidos, já estão em Luanda para o concerto que vão dar no próximo sábado, dia 14, no Pavilhão da Cidadela. Quando estes dois estão no palco juntos, acontece magia. As suas vidas seguiram uma trajectória parecida: os dois emigraram para Holanda quando eram crianças e foram parte da mesma banda, os Rabelados. Embarcaram depois numa brilhante carreira à solo que não parece abrandar tão cedo. Já disse aqui que Ki Vida é a minha kizomba preferida, mas Até Um Dia não fica muito atrás. Curte o som, e se estiveres em Luanda no próximo sábado, e com vontade de ouvir boa kizomba, a Cidadela te espera.

-Photo by Zé Carlos

Saturday, August 7, 2010

Kanda

KandaAngolan musician Kanda has yet to release his first album, but his singles have earned him praise from many a music fan in Angola. Soulful and relaxed, young and talented, I first heard of Kanda in the Luandan restaurant Miami Beach, where he plays live from time to time and where his video for Amar Sem Ser premiered. I saw his name pop up again on Conjunto Ngonguenha's latest CD, Nós os do Conjunto, specifically on the track Medo do Regresso. As testament to his growing popularity and skill, he is currently in Shanghai's Expo 2010 doing live musical performances in Angola's pavilion, showcasing contemporary Angolan music. Perhaps Kanda's greastest asset is his voice, very well suited for the organic, afro-jazz infused R&B that he likes to sing. Amar Sem Ser, the best song I've heard of his to date, was produced by the Brazilian Maurício Pacheco. I'm sure I'm not the only one eagerly awaiting his debut.

Amar Sem Ser

O músico angolano Kanda ainda está em vias de lançar o seu primeiro álbum, mas mesmo a ausência do seu disco no mercado não fez com que as pessoas o ignorassem. Cresce o número de gente que aprecia as suas músicas. A primeira vez que ouvi falar nele foi no Miami Beach, espaço aonde ele já cantou ao vivo e aonde foi exibido o seu videoclip para Amar Sem Ser. Pouco tempo depois vi o seu nome a aparecer no álbum dos Conjunto Ngonguenha, na música Medo do Regresso. Como prova da sua crescente popularidade, neste momento o Kanda se encontra em Shanghai onde tem vindo a brindar o público chinês com as suas interpretações. Talvez o seu maior trunfo é a sua voz, mesmo a medida dos R&B's com sabor a afro-jazz que ele gosta de cantar. Amar Sem Ser é a melhor música dele que ouvi até agora, e foi produzida pelo brasileiro Maurício Pacheco. Sei que não sou o único com ansiedade do primeiro disco do Kanda.

-Photo by Kayaya Jr.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...