Wednesday, January 9, 2013

Halloween

Halloween, the man who shook me from my writing lethargy.

One of my (many) handicaps with Lusophone music is my lack of in-depth knowledge of Portuguese rap, from Portugal. I’m completely in tune with the hip-hop scene in Angola, I’ve listened to almost everything that Azagaia from Mozambique has put out, I’ve scratched the surface of Brazilian hip-hop, but when it comes to Portuguese hip-hop, the one that started it all in the Lusophone world, I’m woefully inadequate.

There is a particular Portuguese rapper however that I have been vaguely aware of for quite some time now. My cousin Anderson, the same guy who introduced me to Valete, had told me about man who went by the name of Halloween and was unlike any hip-hop artist he had ever seen. I never really got into Halloween and didn't take my cousins advice seriously. Some years later Halloween did a concert in Luanda and people went nuts. I still didn't feel the urge to listen to his stuff.

That all changed on a recent trip to Lisbon. I was with friends, amongst them a Lusophone rapper, and the topic of Halloween came up. My friend and the rapper disagreed about Halloween’s skill and street credibility, but both agreed that his song No Love, included below, was immense. They played it from the speakers, and that was the first time I heard Halloween rap.

Once I got bit, it was difficult to stop. I've been listening to him for the better part of the last two months. Halloween, born Allen Pires Sanhá in Guinea-Bissau, also known as Allen Halloween or Bruxa (Witch), is quite unlike any Lusophone rapper I have listened to. It’s difficult to describe his sound, but I will say that it’s the grittiest, bleakest, rawest but yet conscious and instrospective brand of Lusophone hip-hop I have ever heard. One second he is rapping about stealing money, the next he’s lamenting about how a life of crime is simply not worth it. Shy and anti-social, He sees himself and his crew for what they are, and has a bleak, brutally honest way of assessing his contribution to the world. We are, in effect, listening to a product of his environment, a man who’s habitat is Lisbon’s notorious slums and poverty-stricken streets, wasteland of the many African immigrants that flocked here from Cape Verde, Guinea-Bissau, Angola, etc.

Through interviews and through his rhymes Halloween has told his story of neglect, drugs, and street crime, and you can hear the pain, anguish, and anger in his voice. The haunting drawl with which he raps, especially in No Love, is particularly striking. So far I’ve only listened to his debut album, Projecto Mary Witch (2006), and among the tracks that are tame enough for me to share them here with you, seeing how this site is more associated with Bossa Nova music, is SOS Mundo, the memorable No Love, and Várias Vidas. Yes, No Love is the standout, the one that even rappers who dislike him give him props for, but SOS Mundo, an exposé into the failures of society, and Várias Vidas, in which he chronicles the doomed life of his friends that couldn’t give up on a life of crime, are excellent examples of “Hip-Hop Tuga” at its finest. But the most iconic song on this album remains "Dia de Um Dread de 16 Anos" (A Day in the Life of a 16 year-old Thug), a 10 minute sojourn into a nightmare of despair, crime, and drugs.

SOS Mundo
No Love
Várias Vidas

Halloween, o homem que sacudiu-me da minha letargia e fez-me escrever no Lounge depois de largas semanas de ausência.

Um dos (vários) buracos que tenho no meu conhecimento da música lusófona é a minha falta de conhecimento profundo do hip-hop Português própriamente dito. Oiço nomes por alto – Da Weasel, Sam the Kid, Mind da Gap – mas nunca explorei com dedicação as suas músicas. Já com o hip-hop angolano não perco um álbum de todos os artistas que aprecio, já ouvi quase tudo que há para ouvir do moçambicano Azagaia, e aos poucos vou conhecendo melhor o hip-hop brasileiro. Mas quanto a Portugal, sou um zero à esquerda.

Mas há um rapper Português em particular cujo nome oiço falar há vários anos. O meu primo Anderson, o mesmo rapaz que me introduziu ao Valete  falou-me de um rapper ‘estranho’ mas muito habilidoso que respondia pelo nome de Halloween. Um rapper que era diferente de todos os rappers que ele ouvia na altura. Por qualquer razão e não obstante a sugestão do meu primo, tive pouco interesse em ouvir as músicas do Halloween na altura. Alguns anos depois o Halloween foi para Luanda para delírio do público lá, e mesmo assim eu nada.

Tudo mudou quando estive em Lisboa recentemente. Estava com amigos, entre eles um rapper lusófono, e surgiu uma discussão acalorada sobre os méritos (ou não) do Halloween. A certa algura os dois amigos concordam que sim, mesmo discordando do valor do Halloween, podiam os dois acordar que a música No Love (incluída acima) era uma coisa rara, das melhores músicas de hip-hop Tuga que ambos tinham ouvido. Tocaram-na dos speakers e foi assim que ouvi o Halloween pela primeira vez. No Love foi a minha introdução ao universo peculiar do Halloween.

Foi como se um bichinho tivesse me mordido. Ando a ouvir o Halloween há dois meses, quase todos os dias. A tentar perceber as letras, a sentir-lhes, a acompanhar um ritmo das rimas, a conhecer o homem pela sua escrita. O Halloween, nascido em Bissau como Allen Pires Sanhá e também conhecido como Allen Halloween ou Bruxa, é completamente diferente de qualquer outro rapper lusófono que já ouvi. E no mundo do hip-hop de hoje, em que rappers parecem ser sósias um dos outros, isto é positivo. É difícil descrever o seu som, mas posso dizer que é do rap mais cru, real, e um tanto quanto radical (fiel às raízes), mas ao mesmo tempo consciente e introspectivo, que eu jamais ouvi. Num som está a rimar sobre roubar dinehiro duma velhota, no outro está a alertar aos mais jovens que a vida do crime não compensa. Pelo que ouvi, o mano é um tanto quanto anti-social e introvertido, e tem uma maneira muito dele e muito honesta de encarar a sua vida, sua e da sua crew. Assume o que é, sem pedir licença a ninguém. Nota-se que estamos perante um homem que viveu o que relata e é um producto dos piores bairros de Lisboa, os bairros de miséria onde habitam imigrantes africanos constantemente marginilazidos pela sociedade.

Pelas suas entrevistas e pelas suas rimas o Halloween conta uma história de marginalização, drogas e crime, e ouve-se a dor, a angústia e a raiva na sua voz. Mas em alguns sons o mano também demonstra um certo sentido de humor. A maneira como ele voca é impar...a performance dele no No Love é particularmente memorável. Até agora ainda só ouvi o seu primeiro álbum, o Projecto Mary Witch (2006) e entre as músicas suficientemente “calmas” que posso partilhar aqui neste espaço, já que vos habituei a bossas e reggaes inofensivos, estão SOS Mundo, No Love, e Várias Vidas. Oiçam a letra com atenção. Oiçam cada música várias vezes, com calma. E quando terminarem, procurem ouvir “Dia de um Dread de 16 Anos”. É um pesadelo de 10 minutos mas talvez dos sons mais icônicos do mano.

Monday, December 10, 2012

Os Kuduristas em NYC

Como escritor de um blog de música minimamente conhecido, recebo por dia vários emails das chamadas PR agencies que procuram a todo custo promover os artistas que pagam pelos seus préstimos. É tudo parte da estratégia de promoção da música numa altura em que a internet parece mesmo ser a principal plataforma pela sua disseminação. Sendo os blogs parte desta ferramenta, os seus escritores são diariamente bombardeados com este tipo de emails. Não importa se o blog só promove música lusófona.

Normalmente o destino destes emails é o lixo. Mas de vez em quando, vem um que vale mesmo a penas abrir. A vasta maioria dos emails que recebo por estas agências não tem nada haver com um músico ou  da lusofonia ou pelo menos do meu interesse. Mas uma vez ou outra aparece uma promoção do novo álbum da Carmen Souza, ou uma alerta a um concerto aqui em New York da Mallu Magalhães. Normalmente a empresa que promove artistas de jeito é a Rock Papers Scissors. E a semana passada, pela primeira vez desde o primeiro post aqui nestas andanças do Caip Lounge, recebi um email a promover um grupo angolano que vem actuar em New York City, ainda por cima perto do meu 'beco' aqui em Brooklyn.
Os Kuduristas vão estar esta noite no Bembe (o meu lugar preferido em New York). Amanhã estarão no Poisson Rouge, onde pela primeira vez vi o Black Coffee a tocar, e seguem depois para Washington DC. 

Pelo que tenho ouvido da passagem deles pela Europa, isto é a não perder. E pelos vistos, o Kuduru realmente tornou-se num fenómeno mundial e globalizado.

O email que recebi:
Os Kuduristas: A global initiative to introduce Angolan Kuduro dance and music internationally through interactive events and programs

December Dance Battles, Workshops, and Performances coming to N.Y.C. and Washington, D.C. for the first time ever
Angolan Kuduro music and dance is coming to the U.S. for the first time ever, delivered by Os Kuduristas (oskuduristas.com), featuring Kuduro dance heavyweights. This December some of the best Kuduro dancers from Angola (southwestern Africa) will arrive in New York City and Washington DC, showcasing the highly energetic dance and electronic music style that has captured the hearts of M.IA., Björk, and Diplo.

Following up on strong response to this Fall’s European dance battles and events, the East Coast presentations of Os Kuduristas will bring Kuduro’s energy to club sets, in collaboration with global bass icons like Chief Boima, DJ KS*360, and DC’s Sol Power All Star DJ’s. With quicksilver, on-the-spot choreography and a feel for beat and movement uniquely their own, Os Kuduristas performers embody the spirit of the new Angolan scene, showing Americans what Kuduro is.

Os Kuduristas is also engaged in an interactive cultural exchange educational component at New York City high schools and youth centers involving aspiring young beat-makers, filmmakers, and dancers. The Os Kuduristas performers will participate in a cultural exchange with students at Achievement First High School in Brooklyn and conduct lecture-demonstrations for the student body, while being filmed by filmmaking students from Frank Sinatra High School of the Arts in Queens and presenting tracks made by music production students participating in a special, Kuduro-inspired workshop. In addition to the school-based activities, the Angolan crew will present Kuduro’s history and moves to youth at two dance-centered programs: The Door and KR3TS, in a moving exchange between N.Y.C.’s street styles and Kuduro’s unique expressiveness.

Born of Angola’s burgeoning cultural revival in the Information Age, Kuduro is the cultural expression of a new international and post-war generation. It is a highly energized, innovative movement that incorporates dance, music, fashion, lifestyle, and attitude. Kuduro is filled with palpable optimism, opportunity, and excitement. Culturally savvy, cheeky, colorful, and bold, Kuduro is a unique and provocative genre that bridges the gap between Angolan and global cosmopolitan identity.

“There is definitely a sense of re-birth and renewal happening in Angola right now,” reflects CoréonDú, Os Kuduristas executive producer and respected Angolan musician. “It’s also a time of discovery and of people trying to find their own medium of expressing the moment of history we are living. The time is ripe with opportunity and openness to the world that allows for new creative perspectives and horizons.”

Kuduro moves burst with this vibrant discovery process and desire to capture life’s intensity. While Kuduro dance shares some common ground with other international street forms like breaking, popping, locking, dancehall and voguing, it is authentically Angolan, marked by references to recent events and moments in everyday life, as well as bold breeches of gender barriers.

“Dance is, quite obviously, one of Kuduro's most paradigmatic features and, although similar in structure to the North American breakdance, it was mostly inspired in a choreographic plasticity that is typically Angolan,” explains Angolan cultural critic Jomo Fortunato. “Melody and harmony are professedly demoted and rhythm and improvisation are key elements.”

“It’s not like you develop a tolerance for watching people move their bodies like that. It’s going to brighten your life every time.” –MTV Iggy

N.Y.C. Os Kuduristas Events Open to the Public
December 10, 2012: Bembe Lounge. iBomba with DJ Chief Boima and featuring the Os Kuduristas dancers and Fogo de Deus as guest MC. (81 S 6th St in Williamsburg, BK,). Midnight
December 11, 2012: Le Poisson Rouge. “Behind the Groove” special Kuduro Afro House set by DJ KS*360. (158 Bleeker Street). Midnight
December 16, 2012: Gonzalez y Gonzalez. "Hangtime" Special performance (192 Mercer Street). 9:30 PM
Exclusive Washington, D.C. Os Kuduristas Events Open to the Public
December 21, 2012: Tropicalia Club “Shrine" party with special guest performances by MC Fogo de Deus and the Kuduro dancers and featuring DC’s Sol Power All Stars (http://solpowerdc.tumblr.com/)(2001 14th Street NW; enter on U Street down stairs). 9:00 pm + 11:00 pm sets

Find out more on RockPaperScissors site here.

Tuesday, November 20, 2012

O Regresso do Brigadeiro


O segundo post que escrevi neste blog, há mais de 4 anos atrás, foi um som do Ikonoklasta/Brigadeiro Matrafrakuxz/Luaty, chamado 2000 Dikas. É um dos meus sons preferidos do mano. Ainda me lembro da primeira vez que ouvi o Ikonoklasta. Foi no disco do Katro que também ouvia pela primeira vez. Trincheira de Ideias. Nunca me esqueço nem do disco nem de onde estava quando o ouvi - na sala da casa da minha tia na Vila Alice, já de noite, e graças ao meu mano Paulo. Foi numa altura em que simplesmente não estava exposto ao rap de qualidade, muito menos rap lusófono de qualidade. O álbum certamente teve um grande impacto na forma como passei a encarar o rap como estilo musical de intervenção social, e ajudou a formular as minhas ideias sobre as assimetrias sociais e políticas em Angola. Despertou também em mim uma sede para consumir tudo que fosse do Brigadeiro (e do Katro), e esta sede levou-me a conhecer outros grandes do hip-hop angolano cujas obras de arte até hoje oiço com frequência: o Keita e o Wawuti.

O mano Ikono tem estado afastado dos palcos e dos estúdios por razões que são mais que conhecidas por qualquer pessoa que tenha seguido mínimamente as notícias provenientes de Luanda durante o último ano.

Mas felizmente, o mano prepara o seu regresso. Deixo-o explicar-se nas suas próprias palavras:
Desde 2008 que não tenho feito música com regularidade. A minha vida tornou-se uma montanha russa de peripécias e emoções que continuam por ser digeridas e interpretadas para que me possam tornar mais maduro, mais perspicaz e mais preparado para o que me resta de vida. É assim com toda a gente e esse pretexto por si só não deveria ser (nem é) suficiente para justificar a minha falta de vontade de criar, de compor, de cantar, de partilhar com esse mundo de desconhecidos os meus desvarios, momentos de loucura, as minhas angústias, basicamente, fazer o que adoro e que me faz sentir mais livre nesta vida: música!
Também não é verdade que tenha estado completamente inerte, mas estou longe do prolífico. Deixei-me envolver num projeto novo, original e, para mim, vanguardista, desafiado pelo meu mano e cúmplice na arte: Pedro Coquenão, aliás, DJ Mpula. Batida é o nome do conceito musical que o Pedro concebeu e é completo em tantas maneiras, tem me levado a tantos sítios fantásticos, que tenho concentrado os poucos momentos de inspiração a criar novos temas para e com o projeto. Alguns desses temas estão inéditos para já, mas há uma intenção em incluí-los em futuros lançamentos de Batida, por essa razão não os incluo nesta série de mp3chos que pretendo agora divulgar.

A única coisa que está a fazer-me atrasar a saída dos ditos cujos é mais o facto de ainda não ter alguém que me desenhe as capas, por isso quero lançar o repto para os amigos, fãs, fiéis, ou simplesmente gente que goste de desenhar/criar e ande a procura de desafios, que façam propostas de capas para qualquer um dos mp3chos que abaixo proponho e mas enviem para o meu email pessoal: ikonoklasta@musician.org.

Vou começar por lançar um mp3chos com versões inéditas Ngonguenha, algumas do “Nós os do Conjunto” com versos meus que foram excluídos da versão final que chegou às lojas, outras do “Ngonguenhação”, remisturas feitas por malta por quem tenho uma grande admiração.
Podem ler o resto no blog do Brigadeiro aqui.

Sunday, November 4, 2012

Caipirinha Lounge Cinema: Meu País, by Valete feat. Nuno Lopes


From the first seconds of this song, and it's short, measured buildup, I could tell I would thoroughly enjoy it. My appreciation for it went up as the verses progressed. Valete talks about what the impending economic catastrophe is doing to the Portuguese, especially its youth. How emigration makes more and more sense, and how many people leave their loved ones and their livelihood (to earn a lot more money in Angola, for example). If the content wasn't enough, the quality of production of this track is sublime. Having Nuno Lopes feature was a great decision - you won't hear many hip-hop tracks with this kind of ambiance and musical versatility.

Meu País

Logo nos primeiros segundos desta música, já se previa a sua grandeza. O Valete consegue, nas palavras à baixo, exprimir um sentimento, uma forma de encarar as opções de vida, que já começa a ser comum na presente realidade portuguesa. E principalmente entre a sua juventude. No que toca a produção em si, espectacular. Como se a letra e a rica produção não bastassem, a participação de Nuno Lopes também foi uma aposta acertada. Nao devem existir muitas músicas com esta sonoridade e com esta versatilidade. 

Por fim, a execução do video-clipe foi o toque de meste, a cereja em cima do bolo. 

Meu País serve como introdução ao novo disco do Valete. É o seu primeiro single. Se o resto do álbum for assim tão fértil e comovente, fico ansioso por ouvir o resto do producto. 

Tou a arrumar as malas,
Levo quase tudo até o meu kimono de judo (quase tudo),
Já não sei se volto,
Quem imigra quer voltar,
mas muitos poucos voltam à base,
Farto disto tudo,
Farto de estar desempregado de nada servem estes canudos,
Quando há trabalho são sempre temporários,
Humilhantes precários, os salários hilários,

União Europeia a colapsar,
Portugal a mergulhar nestes dias funerários,
Vou-me embora,
vou,vou pra Luanda,
Já não há nada aqui pra mim,
isto já não anda nem desanda,

Estas são as minhas ultimas lágrimas,
Últimas paginas, neste pais que hoje tresanda,
Portugal, meu céu meu lamaçal,
Assista ao recital da minha fuga da tua varanda,

Meu país, vou me embora...
Meu país, vou me embora...

Portugal vou me embora...
Portugal vou me embora...

Ana, meu amor por ti é irrefutável,
Memorável nas nossas vidas,
Divino inenarrável,
Mas vou me embora, minha alma chora,
E devora a minha carne e deixa me assim inconsolável,
Tens emprego estável situação invejável,
Não faria sentido vires comigo,Ana,seria irresponsável,

Fica aqui, progride na empresa,
Tenho a certeza que chegarás lá em cima com a tua destreza,
É melhor acabarmos esta relação,
A minha volta é um ponto de interrogação é tudo uma incerteza, Ana

Não chores, não deflores
Ainda mais esta dor que me atinge com tanta crueza,
Acabamos mas serei sempre teu, O
O teu Romeu que viverá do que imana a tua grandeza,
Vou me embora, sê feliz,
Mesmo com a cicatriz deste amor e levar-te pra tristeza


Meu país, vou me embora...
Meu país, vou me embora...

Portugal vou me embora...
Portugal vou me embora...

Wednesday, October 31, 2012

Directamente da Lama, by Mano António feat. Helder Faradai


Alternative Angolan hip-hop is alive and well. And that man Helder Faradai seems to be playing a part in it. Within three seconds of the song I could hear Faradai's production...it's interesting sound that Jazzmática have been able to consistently create. Directamente da Lama is Mano António's first single, himself another member of Jazzzmática. The subject matter is the type of social commentary commonly heard in Angolan hip-hop, critical of the status-quo and politically conscious. Watch this space for Mano António's EP.

O hip-hop alternativo angolano está saudável. Recomenda-se. E parece que o mano Helder Faradai é uma peça importante desta evolução. Reconheci logo o dedo da Jazzmática na produção deste rap...é um som interessante que a banda tem sabido aperfeiçoar. Directamente da Lama é o nome do primeiro single do Mano António, também ele integrante do grupo Jazzmática. A letra é políticamente coerente e consciente, como temos nos habituado com o rap alternativo em Angola. Abaixo deixo os manos falarem sobre o projecto:
"Directamente da Lama”, é o título do trecho musical que Mano António (M.A.) propõe como single do seu EP a ser lançado em breve de nome “Rimas na Lama”. Esta música, segundo o membro da J.M. conta nos sobre as sátiras do “lamaçal”, das coisas vividas e sofridas pelo povo angolano ou simplesmente luandense no seu dia a dia.  
O conceito do EP a ser lançado, consiste em apresentar numa linguagem terra a terra e versátil em termos de composição, espelhando a flexibilidade na interacção com os mais variados tipos de ouvintes. Este trabalho, teve como campo de estudo o Bairro Marçal que foi o berço de toda a criatividade de Mano António enquanto buscava respostas na equação da vida, com o pincelar da Kizomba crivada que a população daquela zona vivência desde casos caricatos ao desenrascar diário pela sobrevivência.  
Absorvendo das vicissitudes da vida, oferecidas pela falta de alimento, saneamento básico, educação, saúde e outros males nos arredores de Luanda a fora, M.A. procura espelhar a habilidade ou capacidade de adaptação que o povo angolano possui em ultrapassar e sobreviver as “baçulas” que a vida dá e as fatelas que o destino nos reserva. “Transpirar em suas letras e músicas a força e persistência na resistência contra este sistema que os sufoca, sempre deixando estampado a esperança com um sorriso maroto”.  
Isto são as “Rimas na Lama”, a representação mixada de tristeza, pobreza e alegria áspera, em um panorama onde o álcool é cultura e viver de aparências é lei.  
Trajectoria do EP Eis a apresentação concentrada de 15 anos de trabalho consecutivo. “Rimas na Lama” foi idealizado por Mano António (M.A.) no ano de 2011, com o objectivo de servir de trampolim ou a carta de saída formal para este mercado ainda “Virgem” a nível daquilo que chamamos música de intervenção qualitativa. Conta M.A. que, quando começou a escrever as Letras para este EP, teve como base aspectos da sua vida pessoal, como MC, mostrar o seu lado humano e falar sobre o seu Marçal e arredores .
Porém, após um período de trabalho e conquistas, devido a razões técnicas e outros problemas, o colectivo Jazzmática perdeu 90% do seu trabalho no princípio de 2012 (beat tapes, colaborações, produções de terceiros, etc). Com a perca, algumas faixas que iriam constar no EP “Rimas na Lama” perderam-se. 
Sem norte, sem saber qual rumo tomar, Jazzmática apanha o fio da meada com este EP de M.A., que representa um iluminar ou renascimento da alegria do grupo em fazer música pela música.  
Ficha Técnica EP: Rimas na Lama
Single: Directamente da Lama ft Helder Faradai
Artista: Mano António
Artwork: Josemar Soares
Produção: Jazzmática
Ano: 2012 

Sunday, October 21, 2012

"O álbum começa no domingo e termina no sábado": Parte V

Long time no see, MCK. We return this Saturday with two fresh tracks from MCK's Proibido Ouvir Isto.

Será que a kota é fã...
ou espiã...
estou baralhado, está me deixar tan-tan..

Será que a dama é fã...
ou espiã...
'Ta me pedir para autografar o sutiã...

Vintage Katro. The lyrics above are from Quarentona Atraente, which roughly translates to "Attractive MILF". Due to its subject matter, it quickly became one of the most popular tracks in Katro's album. In it, MCK is seduced by an older woman who appears to know all about him and his music but ends up being a spy for the Angolan secret services who then kills him in bed when they are about to make love. Only Katro. 

The next track, Tou na Fronteira, chronicles Katro's experience as he goes up to heaven after dying. Once there he meets Cherokee, the young boy who was killed by Dos Santo's Presidential Guard for singing one of Katro's songs while washing a car. True story. Once in heaven MCK meets a plethora of historical figures who have passed away, and in his typical story-telling style relates meeting them. He sees Marx reading the bible, apparently having been converted, watches Savimbi laugh at the spectacle, witnesses the prophet Mohammed mitigate a feud between an Al Qaeda terrorist and a Taliban,  shares a joke with David Zé and Teta Lando, and sees Miriam Makeba dance. He sings: "you have to have faith, you have to be strong, believe, there is life after death." 

Tu tens que ter fé
Tu tens que ser forte
Acredita
Há vida depois da morte.


Bonus

With these series, there is always a bonus. The video below is an AFP piece that features a short little interview with Katro in the flesh. Enjoy both the two minute interview and the official music video for Nomes, Rimas e Palavras.

Quarentona Atraente
Tou na Fronteira






Saudadades destes posts - sempre é um prazer divagar sobre um álbum do Katro. Voltamos por isso com duas novas tracks do grande Proibido Ouvir Isto.

Será que a kota é fã...
ou espiã...
estou baralhado, está me deixar tan-tan..

Será que a dama é fã...
ou espiã...
'Ta me pedir para autografar o sutiã...

Puro Katro. A letra acima é do som Quarentona Atraente, que rápidamente se tornou um dos brindes mais conhecidos do disco. Na música, o Katro é seduzido por uma quarentona que aparenta ser um grande fã do músico e conhecedora íntima da sua vida. Depois, já no quarto da dita cuja, o Katro descobre que ela é uma agente da SINFO, que depois acaba por o matar logo antes de fazerem amor. Só mesmo o Katro. 


A próxima música, Tou na Fronteira, relata a experiência do Katro já no céu, após a sua morte. Posto lá, o mano conhece finalmente o Cherokee, jovem que foi morto pela Guarda Presidencial do presidente angolano por cantar uma das músicas do MCK enquanto lavava um carro (história verídica). No palácio celestial, o Katro conhece várias figuras importantes na história da humanidade. Vê o Karl Marx a ler uma bíblia, aparentemente convertido, enquanto o Savimbi solta uma gargalhada, testemunha o profeta Mohammed a apaziguar uma briga entre militantes da Al Qaeda e dos Taliban, gala o David Zé e o Teta Lando, e vê dançar a Miriam Makeba. Ele canta:



Tu tens que ter fé

Tu tens que ser forte

Acredita
Há vida depois da morte.

Bonus

Nesta séria há sempre uma surpresa. O vídeo acima é de uma pequena reportagem da AFP sobre o Katro, e video seguinte é o clip oficial do Nome, Rimas e Palavras.

Wednesday, October 10, 2012

Vaivém, by Leonardo Wawuti (Poema de Massalo)

O poema é do Massalo; a música, neo-soul de leve, suave e tenra, é do Wawuti; o desenho, lindo e acolhedor, é da Joana. E no desenho, os versos do Massalo, musicados pelo Wawuti, são legíveis e ganham vida...

Brevemente, o leitor poderá ter este lindo projecto, totalmente financiado pelo público angolano, nas suas mãos. Mas agora, neste momento, já pode ter o Vaivém nos seus ouvidos. 
Wawuti no estúdio a gravar "Vaivém"
Carregue no play mais à baixo e como sempre, faça 'right-click - save target as' para fazer o download da música.

Vaivém

Saturday, October 6, 2012

Brevemente / Coming Soon: Os Melhores Álbuns Lusófonos de 2011 / The Top Lusophone Albums of 2011


This is comical, really. I usually do this post right before year's end, so this was due back in December of 2011. But certain life events have prevented me from listening to many of last year's albums, let alone write about them. Would you believe it that only last week I finished listening to all of the 2011 albums I had set aside, almost a full year after it's release? Comical, really. But 2011 was a year in which a lot of exciting albums were released, some of them personally more important than others. Aline Frazão's debut album, Clave Bantu, was, of course, one of them. As were MCK's Proibido Ouvir Isso and the second installment of the Inna Week series, Lover's Rock.

It was also a year in which Lusophone music continued to take its place in the world stage. Stellar new singers such as Luísa Sobral emerged right here in the United States as opposed to her native Portugal, and was nominated to various awards during her stay in Boston's Berklee College of Music; Buraka continued to sell out concerts around the world, while Batida and Terrakota continued to play in huge musical festivals around Europe; Conjunto 70 was invited to play at WOMEX.

Below you will find a shortlist of what I think are the best Lusophone albums of 2011. As I've said before, I am no professional music critic, have never studied music seriously, and have not heard ALL the Lusophone albums released in 2011; thus, this should not be considered a definitive ranking. But as a man who consumes, breathes and lives Lusophone music, and who unashamedly lives in a Lusophone music bubble, this is my list:
What about you, which albums have you absolutely loved? Stay tuned for the ranking, coming soon!

Isto até chega a ser cómico. Normalmente faço este post mesmo antes do fim d'ano, por isso deveria ter saído em Dezembro de 2011. Mas certos acontecimentos familiares, nacionais e pessoais foram adiando  a própria escuta dos álbuns em questão; sem escuta prévia é impossível sequer escrever sobre as delícias sonoras deste ano. Por exemplo, só na semana passada é que finalmente acabei de ouvir em condições todos os álbuns de 2011 que tinha pre-seleccionado. Cómico! Mas 2011 foi um ano que viu nasceu muitos álbuns de boa qualidade, alguns deles mais próximos ao meu coração que outros. Falo, por exemplo, do Clave Bantu da amiga Aline. Mas há outros, como o Proibido Ouvir Isso do mano Kapa, e o segundo projecto Inna Week, o Lover's Rock.

Foi também um ano em que a música lusófona continuou a crescer mundialmente e a expandir a sua audiência e nível de influência. Artistas da "nova vaga", como a portuguesa Luísa Sobral surgiram aqui mesmo nos Estados Unidos em vez de Portugal ou outro país lusófono; a Luísa foi nomeada para vários prémios enquanto ainda frequentava a Berklee College of Music em Boston. Os Buraka então, já nem se fala. Continuam a lotar salas à volta do mundo. Grupos como a Batida e os Terrakota andam a dar um sabor lusófono a muitos festivais de verão espalhados pela Europa; na banda, o Conjunto 70 tocou no WOMEX.

Acima está a minha lista do que penso ser os melhores álbuns lusófonos de 2011. Como tenho sempre dito, não só crítico de música profissional, nunca estudei a música seriamente, e não ouvi TODOS os álbuns lusófonos que saíram em 2011; por isso, isto não pode ser considerada uma lista definitiva. Mas como um homem que consome, respira e viva música lusófona, dia após dia, mês após mês e ano após ano, pra depois vir aqui escrever sobre ela, eis a minha lista, acima.

E tu, quais albuns achaste verdadeiras obras de arte? Em breve, o ranking dos 10 melhores álbuns!

Wednesday, October 3, 2012

Caipirinha Lounge Apoia: O Mar Também Tem Núvens, por Massalo Araújo e Joana Taya


"E se de repente, assim tipo nada, pudesses ser o co-autor de um livro, o que farias?"

O Caipirinha Lounge tem muito orgulho em ser um dos sponsors oficiais de um projecto inovador, arrojado e muito lindo: o livro O Mar Também Tem Nuvens, uma colecção de poemas do nosso conhecido Massalo com ilustrações da excelente designer angolana residente na Noruega, a Joana Taya. Será um livro totalmente patrocinado pelo público angolano. É um projecto ímpar em Angola: fará uso do conceito de crowdfunding (financiamento colectivo), popularizado pelo Kickstarter e trazido a lusofonia pelos nossos parceiros, a plataforma Zarpante, para publicar uma obra de arte.

Para mais informações, consulte as páginas Facebook do projecto:

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Late Night Lounge Vol. 43 - Equilibria (Instrumental)

It’s a simple track really, instrumental and thus without a single lyric...unless you count Sabrina's whispers. But I find it incredibly soothing after a long day of work. Chilled, rhythmic, head-bobbing stuff. It goes brilliantly with a glass of chilled wine or whatever else you serve yourself to unwind. You can find Equilibria (Instrumental) on singer-songwriter Sabrina Malheiros album Vibrasons (which we talked about here), a collection of the Brazilian’s songs from her debut effort (also named Equilibria) remixed by various DJs.

Equilibria (Instrumental), however, doesn't list a single DJ as a remixer. Did Sabrina remix it herself?

Equilibria (Instrumental)

É uma faixa simples, até. Instrumental, sem letra alguma...a não ser que os sussuros da Sabrina sejam considerados "letra". Mas acho-a incrivelmente tranquilizadora depois de um dia longo de trabalho. É chilled, rítmica, e faz balançar a cabeça. É brilhante com um copo frio de vinho branco ou qualquer bebida que escolher para desanuviar. Pode encontrar Equilibria (Instrumental) no álbum Vibrasons da cantora brasileira Sabrina Malheiros (já explorado aqui), uma colecção de remixes das músicas do seu primeiro disco, coincidentemente também chamado Equilibria.

Normalmente as remixes estão a cargo dos DJs convidados, mas, curiosamente, no caso da Equilibria (Instrumental) não aparece o nome de nenhum DJ...talvez a Sabrina tenha feito ela própria a remix...
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