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Saturday, March 3, 2012

Caipirinha Lounge Interview: Grande Entrevista à Luaty Beirão

Ikonoklasta. Brigadeiro Matafrakuxz. 1000iSegundo. Nkwa Kobanza. Os nomes artísticos são vários, mas o nome do homem é só um: Luaty Beirão. Esta entrevista foi anunciada há quase um ano, mas desde lá pra cá tanto o homem como o artista foram catapultados uma notoriedade imprevisível naquela época. Por volta desta altura no ano passado, o Luaty subiu ao palco num concerto do Bob da Rage Sense e falou o que lhe ia na alma. Desde então, foi preso no dia 7 de Março, levou surra em diversas manifestações e, por mais que tente negar o contrário, tornou-se um dos símbolos da crescente juventude angolana inconformada com o rumo do país. Mas antes de tudo isso, o Brigadeiro é um músico polivalente, participante em diversos projectos culturais e musicais em Angola e Portugal. As perguntas e respostas que se seguem permitem-nos conhecer um pouco mais tanto o homem como o artista. Boa leitura.

As Origens 

"Repara que eu falo de underground como sendo a única coisa digna de referência, porque o resto para mim é Hip Pop, eventualmente fazem temas “giros”, mas não os considero ser hip hop só porque rappam."

Caipirinha Lounge - Como surgiu a sua paixão pelo hip-hop? 

Luaty - Antes de 94 eu não tinha a perceção da existência de um movimento, de um estilo de um género musical ou cultura que me fascinasse no seu todo. Já tinha tido contacto com o Hip Hop através do Turbo (um breaker que rebentava tudo num filme que passou na TPA, convenientemente intitulado “Breakin'”) e, por mais incrível que possa parecer, com um disco de vinyl dos Breakmachine que o meu pai e o meu avô tinham, não sei se compraram por engano ou se estavam a tentar estar a par do progresso musical :). Mas eu era muito novo e não conseguia ligar as coisas à uma cultura específica, também por serem fenómenos esporádicos. Terão sido os meus primos que residiam em França, numa das suas férias de verão na casa da minha avó, que me “batizaram”, martelando-me constantemente com Cypress Hill, House of Pain, Gangstarr, Nas, Snoop Dogg, ao que eu retorquia tocando-lhes o Nevermind, Use your Illusion, enquanto jogávamos supernintendo.

Quais foram as suas primeiras grandes influências no hip-hop mundial?

Ainda antes dos meus primos chegarem um colega gravou-me o disco “Da Bomb” dos Kris Kross numa k7, que veio a ser numerotada 1 com o lado B sendo preenchido já pelo primeiro grupo que me convenceu no meio de tantos que viria depois a considerar grandes: House of Pain – Same as it ever was foi o álbum. Adorei a mistura do rap agressivo com heavy metal, pois estava a sair de uma fase Guns n Roses, Nirvana. Então foi assim: House of Pain, Nas, Dr. Dre, Snoop Doggy Dogg, Gangstarr, Blackmoon, De la Soul, Funkdoobiest, Cypress Hill. Mais ou menos isso, teria de olhar para as minhas primeiras k7's de novo.

Quando decidiste que querias fazer parte do hip-hop?

Na verdade, as respostas que te estou a dar até aqui estão todas na trilogia “Vindimas” do mp3chos Ikonodamus que pode ser encontrado para download gratuito online.

Como encara o hip-hop em Angola e como descreve a sua evolução?

Sinceramente eu acho que o Hip Hop em Angola tem crescido, amadurecido, subido relaxadamente a escadaria, degrau a degrau. Como em todo o lado, os apressados acabam por tropeçar, a fama consome-se rápido tipo fósforo, os apetites e os gostos das pessoas são voláteis e ontem batia comercial, hoje é o underground que é mais procurado. Hoje tens um festival de uma grande marca com nomes quase exclusivamente do underground/consciente (Kid MC, Valete, MCK) quando a lógica diz que esses festivais funcionam com música xunga e superficial. Isso introduz um novo elemento desafiador para a música “underground”: o mainstream. Isso fez com que muitos artistas começassem a preocupar-se mais com a sua imagem, em ter uma estratégia de marketing, ou seja, preocupações normalmente associadas a artistas que se levam a sério. O underground levou anos a apurar, a levar a sério a qualidade da gravação, a aceitar que ter o flow fora de tempo não é ser underground, é simplesmente não ter noção rítmica. Levou tempo, levou muito investimento de bolso próprio, edições de autor, independentes, a aparição de talentos como o Denexl para que outros se esforçassem mais em lapidar o seu metal precioso em estado bruto. Naturalmente alguns começaram a aceitar que deveriam dedicar-se exclusivamente à produção e hoje temos produtores de alta qualidade no nosso panorama hip hopiano. Sinto pena que os outros elementos não sejam tão explorados, não conheço pessoal a investir em pratos e vinyls para ser DJ, os grupos de break começam agora a aparecer um pouco mais, mas também não duram muito tempo e têm de vender o seu talento para programas televisivos dançando por cima de músicas nada dignificantes para a cultura. Grafiteiros são ainda mais raros, o que considero ser uma tristeza, pois fica difícil dizer que exista um MOVIMENTO HIP HOP, pelo menos um que seja sólido. Ainda assim, tenho de considerar que cresceu-se MUITO. Repara que eu falo de underground como sendo a única coisa digna de referência, porque o resto para mim é Hip Pop, eventualmente fazem temas “giros”, mas não os considero ser hip hop só porque rappam.

Como encara o hip-hop no mundo lusófono em geral? 

Teve dias de glória, continua a ter coisas de muita qualidade, mas sinto-me orgulhoso de ter testemunhado o nascer da aceitação da língua como sendo adaptável ao ritmo rap e das músicas dos folclores nacionais dos respetivos países incorporadas nas bases musicais que cunhariam os nossos raps com uma identidade indelével e inalienável. Já me emocionei a ouvir temas em português, feitos por portugueses, angolanos, brasileiros, moçambicanos e acho que isso é sinal que, nos meus critérios, há coisas de muito elevada qualidade. Por acaso, hoje em dia já perdi o interesse em seguir com atenção as novidades e as inovações, preferindo esperar que mas indiquem. Hoje oiço muito mais música e muito mais diversificada por isso há certo tipo de rap que rapidamente me aborrece por me parecer repetitivo, sem história. 


E como encara a sua evolução a nível mundial?

Eu continuo a ouvir muito hip hop vindo dos 4 cantos do mundo (que por ser oval não tem propriamente cantos), de muito boa qualidade. A ideia que o hip hop está uma merda é falsa, só sustentável pelo que é publicitado como sendo hip hop mas que não passa de hip pop, sem alma, sem conteúdo, sem interesse, sem sentido. Fast-food music para pessoas formatadas e pré-programadas para paparem aquilo, entrando mais na definição de pop do que outra coisa qualquer, tendo apenas o revestimento em rap. Mas há os Little Brother, os Reks, os Jedi Mind Tricks, os The Roots, os Blu, há tanta coisa boa ainda exaltando os mesmos sentimentos que me atraíram inicialmente para o rap/hip hop que tenho de dizer que ele está bem e de saúde! Depois há os novos géneros que estão a aparecer como ramificações do hip hop ou claramente inspiradas por ele e se calhar isso seria mais adequado para abordar nesta resposta, mas ia alongar-me muito.

O Homem e a música 

"Sinceramente, não me importa nem um pouco o apoio e o reconhecimento. A minha atividade artística é quase como a minha catarse pessoal, a minha maneira de exorcizar as minhas angústias, as minhas dúvidas, as minhas alegrias, as minhas opiniões, com quem quer que seja que queira ouvi-las."

O que é “música boa” para si?

Tudo o que me dê vontade de ouvir várias vezes, que me inspire alguma coisa, que me desperte alguma emoção, que me empurre a conhecer mais, que me desafie os preconceitos. Basicamente não se explica, só se sente.

Como músico angolano, pensas que tens o devido apoio e reconhecimento?

Sinceramente, não me importa nem um pouco o apoio e o reconhecimento. A minha atividade artística é quase como a minha catarse pessoal, a minha maneira de exorcizar as minhas angústias, as minhas dúvidas, as minhas alegrias, as minhas opiniões, com quem quer que seja que queira ouvi-las. Apoio aqui significa MPLA através de Bento Kangamba ou outro esbirro testa-de-ferro. Significa ter que se submeter às suas regras e caprichos e eu, não tenho ânsia de ser conhecido, não com esse tipo de ajuda que depois lobotomiza os artistas tornando-os marionetes nas mãos dessa gente sem escrúpulos. Acredito que, se a música for boa ou se as pessoas se identificarem intensamente com ela, viaja sozinha, sem rádio, sem televisão, vai no boca-à-boca com auxílio dos CD pirata. Não há muitas músicas minhas na pirataria então deduzo que não tenha ainda o dom da comunicação adequada com os consumidores do estilo no qual sou protagonista, mas também não estou a procura da fórmula mágica.

Já é possível viver só da música em Angola?

Da música só? Não sei, se calhar alguns raros artistas conseguem, mas ainda menos são os que conseguem sem comprometerem a sua integridade artística e limitarem a sua criatividade para não correr risco de ofender os patrões, para não morder a mão que os alimenta. Eu não vivo certamente da música e espero nunca depender dela para comer.


Com que idade começou a fazer música?

13, 14 anos.

Descreve-nos Ikonoklasta como artista.

Anti-dogmas, curioso, explorador, “tou-me a cagar, faço o que me der na venta”, preocupado com o mundo, atormentado, alegre, esquizofrénico, auto-crítico, palerma, melómano.


E como homem?

Anti-dogmas, curioso, explorador, preocupado com o mundo, atormentado, alegre, esquizofrénico, auto-crítico, palerma, melómano, chato, impossível de aturar, eterno ignorante buscando saber, saturado com a estupidez suicida do ser humano. :)

Explique-nos as suas quatro personagens: o Ikono, o Nkwako Mpanza (sp?), o Brigadeiro Matrafrakuxz, e o irreverente 1000i. Como surgiram e o que representam? 

Brigadeiro Mata-Frakuxz foi o primeiro e surgiu por necessidade pessoal de ter um nome em português, contrastando com a maioria que optava por pseudónimos em inglês. É um nome de “mc chateado”, pois nos meus primórdios focava-me sobretudo em rap de pugilismo verbal, cascando em todos que considerasse serem fracos. Isso vai mudando com o tempo e com a idade e achei que soava muito mal fazer música mais introspetiva com um nome tão duro. Apercebi-me que não era obrigado a vincular-me a pseudónimos, muito menos exclusivamente, que para esse tipo de prisão toponímica bastava-me o nome de registo, então arranjei um segundo pseudónimo e mais outro, para adequá-los ao tipo de abordagem de cada tema que escrevia. Na verdade, o irreverente e arrogante personagem é o Mata-frakuxz, que se acha com autoridade para definir o que é bom ou mau e impô-lo aos outros. O 1000iSegundo é na verdade o personagem que conta histórias, que podem ser alegres, tristes, ou algures entre uma e outra. O 1000i será portanto o personagem do Puzzle Sonoro ou do Cupido Bêbado por exemplo. Eu simplesmente gostei da maneira que encontrei para escrever “milisegundo” por isso o nome :). Cheguei a esse ponto de safodismo, de adotar nomes só porque me pareciam engraçados. O Nkwa Kobanza aparece da necessidade de ter um nome em língua nacional. Escrevinhei num papel uma lista de nomes em português que pedi ao MCK para levar à mãe dele e traduzir para kimbundu e gostei da sonoridade desse: Nkwa Kobanza que vinha traduzido em frente de “homem que pensa, homem que reflete, pensador”. Esse é o meu personagem introspetivo, por exemplo do Se eu Criasse ou do Atormentado.

Se Eu Criasse

O Ikonoklasta aparece curiosamente depois de todos estes pseudónimos para ser o pai de todos os personagens, o que todos engloba na sua definição, daí se ter tornado o nome principal. Estava a procura de uma palavra no dicionário e a palavra “iconoclasta” estaria algures em baixo e chamou-me a atenção. Quando li o significado pensei: “mas isto sou eu!”

Conjunto Ngonguenha in Luanda International Jazz Festival
Photo by Massalo
Como surgiu o relacionamento com MCK, Keita Mayanda, e o resto do Conjunto Ngonguenha?

Foi algo natural, todos gostávamos do mesmo, acabámos por desenhar esse destino de eventualmente nos cruzarmos. O MCK conheci-o ainda muito mocinho, quando tentava andar e vestir-se como um rapper, mas já tinha qualquer coisa de único que saltava à vista desarmada, destoando daquele look forçado. Carinha laroca e corte de cabelo com o logotipo da Wu-Tang, ficava à saída do programa de Hip Hop que tinha com o NK na LAC (A Era do Hip Hop) e fazia freestyles. Entregou-nos uma k7 com o primeiro som que lhe conheço e passámos no ar. Por alguma razão o microfone ficou aberto e o MCK, no pátio da rádio, ouviu-me dar gargalhadas com algumas das hilariantes linhas do som e na altura o pessoal não ia muito com a minha cara, acho que ele deve ter sido levado a pensar que ria de estiga e não de estar genuinamente divertido. Desde 96, 97 que nos conhecemos portanto. Já lá vão mais de 10 anos. O Leonardo conheci também através do NK e sempre o achei um figurão, super engraçado, positivo e muito boa energia, alguém de bom para se ter por perto. Na altura vivia na África do Sul e gravou um som que nos kuyou bwé, quando ainda tinha o nome de “Cão Leão”. Depois saíu o Basicamente Simples e nessa altura já nos íamos cruzando e intrusando mais vezes. O Condutas, foi meu colega no Colégio Elizângela, nunca imaginei que ele fosse dar para um hip hop nerd e um produtor tão talentoso. Só anos mais tarde, quando o Keita Mayanda foi viver para Portugal é que voltámos a restabelecer contacto e ele enviou-me cenas dele e do seu grupo Nova Trova. Depois também os sons que ia fazendo com o Keita lá e, pronto, recrudesceu a nossa amizade. Ngonguenha foi o lógico e inevitável passo a seguir, a celebração da angolanidade de 4 pessoas que se admiravam mutuamente e que inspiraram surtos de criatividade uns nos outros. O Keita também só o conheci REALMENTE nessa altura, em 2002, mas já era fã dele, dos tempos em que ainda se chamava Revolucionário, membro do meu grupo preferido de então Os Filhos da Ala Este.


Porquê a sua retirada do grupo [Conjunto Ngonguenha]?

Cito o título de um disco do José Mário Branco: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Só posso dizer que as nossas rotas artisticas colidiram, por diversas razões, que tinham a ver com as aspirações e as ambições de cada um de nós. A vida pessoal/profissional também afetou a maneira como se encarava a música e apercebi-me com muita tristeza que já não estávamos em sintonia. Finalmente, restava-me aceitar isso como uma fatalidade própria da vida e agarrar-me as coisas bonitas que criámos juntos. Gosto muito do segundo disco, está mais “profissional”, a energia está lá na mesma, as músicas são muito boas, mas não consigo deixar de sentir um travo amargo na boca por no final do processo as coisas terem se revelado de maneira tão evidente e avassaladora, ao ponto de causar a rutura. Por isso o primeiro disco é mais especial para mim e resume-me melhor como artista e como pessoa, é mais à toa, mais despenteado, mais desarrumado, mais despreocupado com normas e atropelando inclusivé algumas.

E influências musicais, para além do hip-hop?

A lista é enorme. Checkem o meu blog para ter algumas luzes acerca da diversidade do que me inspira e ainda assim só ficarão com uma visão limitada, pois aquilo é um de muitos galhos de uma árvore frondosa.

Quais são os seus artistas lusofonos preferidos?

Sam the kid, Valete, XEG, Ary dos Santos, Dealemma (nos primórdios), DJ Mpula, Saramago, José Mário Branco, Ricardo Pereira (do Gato Fedorento não o da novela), Mia Couto, Pepetela, epá brother, a lista é tão longa e errática que iria sempre ficar incompleta, ou pelo menos obrigar-me a pensar durante dias e eu já te estou a dever esta entrevista há quase um ano :)

Algumas das suas músicas têm um forte teor psicológico, social, e político (Conspiração dos Moskitos, Efeméride do Sékulo I e II, Kamikaze angolano, etc) . Como surgiram as ideias e as inspirações destas música?

Efeméride do Sékulo veio diretamente dos acontecimentos de 11 de Setembro. Nunca engoli aquela história do Bin Laden mandar tanta coisa abaixo num só dia. Debrucei-me sobre esse episódio e devorei as notícias que iam saíndo, acabando por me inclinar para a teoria da conspiração: 911 foi um trabalho de dentro! Daí as duas versões dessa música. O Kamikaze Angolano foi o meu primeiro grito de: “BASTA! Aconteça o que acontecer, tenho de fazer isto!”. Foi uma homenagem ao Cherokee, o jovem assassinado pela UGP por estar a cantarolar uma música do MCK. A Conspiração dos Moskitos foi um estalo. Estava a ouvir aquele instrumental com sample do Fela e fiquei a tentar pintar um quadro na minha cabeça, pensando na coisa mais mirabolante possível para adequá-lo ao instru. Lembrei-me de uns insetos que tinha na casa do meu pai em Luanda que ele sempre me disse serem inofensivos, daí ter achado que seria um tema absurdo o suficiente para inventar uma história e foi saíndo. Um pouco como nasceu o Cuka também.

Kamikaze Angolano

Batida!
Faz parte de vários projectos culturais e musicais, incluindo a Fazuma e Batida. Como surgiu a sua participação nestes projectos, e porquê? 

Batida é um projeto DJ Mpula/Fazuma. Fazuma é um coletivo de artistas que primam por critérios de pureza e beleza estética artistica com os quais me identifico, daí eu ser um membro da família. Estou com eles desde 2004/2005, justamente depois de ter saído a Conspiração dos Moskitos Inofensivos e o Ngonguenhação que foi o que chamou a atenção do Pedro, o cérebro da Fazuma. Desde o nosso primeiro encontro que as coisas aconteceram espontâneamente e daí em diante tem sido várias produções em conjunto, incluíndo o mambo tipo documentário É Dreda Ser Angolano. Porque sim, gosto deles, identifico-me com eles, sinto-me um deles, é natural :)

Trabalhou também com artistas diversos no universo da música lusófona, como os Terrakota e Cacique ’97. Fala-nos um pouco sobre o que o levou a cantar com estes ilustres.

Gosto bwé da música deles e aparentemente eles viram alguma coisa na minha que complementava as deles e convidaram-me. Mostraram-me os temas e/ou instrumentais e eu adorei-os. Tinha de subir nos mambos. Como disse antes, se eu gosto, não vou avaliar se é hardcore, softcore, punk, drum n bass, kizomba, kuduro, faço e pronto! Foi uma experiência enriquecedora, sobretudo ter escrito uma letra para Terrakota que estava mega-receoso de não ser musicável, pois só estou habituado a escrever raps, mas eles gostaram tanto que não só musicaram com mestria, como acharam que deveriam fazer dela o single de apresentação do disco e um dos clips mais fortes que já vi feitos na tuga. Logicamente que não posso deixar de sentir uma ponta de orgulho, já era fã dos Terrakota há uns anos.

Dos álbuns e mp3chos que já lançou, qual o seu preferido, e porquê?

Não tenho um preferido. São todos meus filhotes :)

E a sua música preferida da sua autoria (só se for possível responder tal pergunta)?

Não é possível :)

Falemos um pouco sobre cultura. Quais são para si os pontos fortes da cultura angolana?

Mano, para dizermos que existem pontos fortes é preciso aceitar que existem pontos fracos e a cultura é sempre subjetiva, há quem aprecie, há quem repudie segundo a evolução dos valores morais e dos conhecimentos científicos. Logicamente que hoje em dia podemos considerar a excisão como uma prática cultural hedionda e repugnante, mas se foi abraçada por partes tão vastas do nosso continente (sobretudo na costa oriental, a mais influenciada pela cultura/religião islâmica) significa que houve uma altura em que essa prática era vista como benéfica. A maka agora é inverter a mentalidade que se sedimentou ao longo dos séculos, mas isso é universal, os portugueses e os espanhóis resistem à pressão das associações de defesa dos animais e à opinião pública em geral para continuarem com as touradas. Tenho tendência com a idade para apreciar mais o folclore e a pureza do que conseguiu resistir ao tufão devastador do progresso, como a escultura tradicional (a mais vastamente documentada é a Tchokwe), as cerimónias rituais de passagem, a dança do xinganje ou os modos de vida dos povos pastorícios do planalto centro/sul. Infelizmente o olhar que temos sobre essas culturas limita-se ao sobranceirismo algo paternalista de quem olha condescendente para uma cultura inferior e, para que não piore ainda mais a minha condição de preconceituoso, devo aceitar de bom grado incluir-me nesse grupo, pelo menos até me mexer do meu sofá e das páginas de livros onde busco esse conhecimento, despir-me dos meus pudores e ir passar um tempo com os herero, com os busquímane, apreciar de forma mais completa o que estou a dizer para que não seja só “algo bonito de dizer”.

O que mais o faz sentir-se orgulhoso de ser angolano?

Os angolanos, sobretudo os mais humildes que são uma inspiração permanente quando me lembram com os seus mais largos sorrisos que, na escala das coisas más, as que me sucedem são insignificantes, obrigando-me ao exercício de relativização, ensinando-me o valor das coisas simples.

Quais são as tuas influências literárias? 

Não sei responder a isto. Não leio tanto assim e não me agarro a autores. Do autor que escreveu o meu livro favorito por exemplo não li mais nenhum outro título. Leio sobre os assuntos mais diversos, sobretudo política, mas há tantos autores que não consigo restringi-los a um top. Dentro do universo dos romances gosto bastante do que escreve o Pepetela e o Mia Couto (deste último leio também diversos artigos que têm invariavelmente o condão de me maravilhar).

A sociedade 

"O crescimento do PIB não se reflete no dia-a-dia do cidadão comum, tem servido para desalojar pessoas para cascos-de-rolha sem reparações convenientes, dando lugar à zonas nobres no centro de onde têm brotado autenticos monumentos fálicos atestando o machismo da sociedade africana e a estupidez congénita da sua elite complexada que tenta a todo custo emular o ocidente que diz desprezar."

O que achas dos valores e padrões morais da juventude angolana?

Perdidos, raptados por uma classe política que promove e institucionaliza a corrupção e a imoralidade, encoraja todos os defeitos possíveis e imaginários e reprime quem ouse ser diferente.

Como encaras a sociedade angolana em geral?

Adormecida, zombificada, apática, cínica.

Depois dos acontecimentos do 7 de Março e 2 de Abril tornou-se uma figura bastante importante e inspiradora para muitos jovens angolanos, e uma peste para o regime ao ponto de contactarem a sua família com mensagems ameaçadoras bem como outras acções de repúdio. Alguma vez pensou que a sua música e as suas intervenções como homem e músico atingiriam estas dimensões?

Já receei que as coisas fossem acontecer mais cedo e de forma mais catastrófica. Quando lancei a música Kamikaze Angolano em 2004, fiquei agradavelmente surpreso com a falta de reação, não senti represália de forma alguma, não tinham cordas para me cortarem, eu nunca contei com airplay na rádio, nem com convites para mega-eventos patrocinados pelos suspeitos do costume. O show do Bob foi a exceção pois o mano MCK estava envolvido na organização e sugeriu o meu nome. O timing é que fez com que as coisas fossem amplificadas para aquela escandaleira que viste. Já tinha cantado o Kamikaze ao vivo tantas vezes antes, já tinha mandado caralhadas para esses energúmenos que nos desgovernam, mas foi o contexto que provocou a onda de choque e retaliação. Sinceramente, por já ter feito apresentações similares antes, não pensei que fosse dar no que deu, mas já que deu, agora só resta assumir barulho!

Quais são as tuas ideias acerca do desenvolvimento socio-econômico de Angola?

As minhas ideias ou o que eu penso? As minhas ideias envolvem o rompimento completo com o conceito “tradicional” de Estado-Nação, mas isso seria contra-corrente com o movimento de suicídio coletivo adotado pelo mundo moderno que mesmo informado da efemeridade do recurso que permite este estilo de vida poluente, continua a desejar aumentar o ritmo de consumo, como se as bóias de salvação fossem aparecer de repente no momento que se der a hecatombe. Mesmo seguindo o modelo atual do liberalismo económico acredito estarem a cometer-se erros de palmatória quando se descura a saúde e a educação de forma tão grotesca como tem sido apanágio dos nossos líderes. Eles só o fazem porque podem permitir-se o luxo de se irem curar fora quando estão doentes. Acho que o facto de uma primeira-dama meter o filho numa escola estrangeira argumentando que “com a educação não se brinca” é sintomático. O crescimento do PIB não se reflete no dia-a-dia do cidadão comum, tem servido para desalojar pessoas para cascos-de-rolha sem reparações convenientes, dando lugar à zonas nobres no centro de onde têm brotado autenticos monumentos fálicos atestando o machismo da sociedade africana e a estupidez congénita da sua elite complexada que tenta a todo custo emular o ocidente que diz desprezar.

Qual é a avaliação que fazes acerca destes dois partidos tão influentes no historial deste país?

Estás a falar certamente do MPLA e da UNITA? Sinceramente, como jovem, estou farto dos dois. Um faz as piruetas mais bandeirosas para conservar o poder e o outro faz muito pouco para contrariá-lo.

Qual a sua opinião acerca do actual clima politico do país?

É um período de transição que podia ser mais célere se todos os que têm uma pinga de consciência tomassem a dianteira e assumissem que precisamos de uma rutura. Infelizmente a nossa classe média/alta é composta essencialmente por mauricinhos cagões que não querem arriscar o que já “conquistaram”. Pois é bom que façam uma retrospetiva para analisar o que foi que de facto conquistaram com o seu suor, pois, acredito, a maior parte não sabe sequer o significado de sacrifício e abnegação, nasceram em berço de ouro e sempre tiveram os pais abrindo caminho pela mata para que os principezinhos tivessem acesso a tudo sem pisar em espinhos. Eu sei disso, eu sou uma dessas pessoas!

Nós e os Outros

Tens fé no futuro de Angola? 

Se não tivesse podes crer que a esta hora estaria a descobrir a que desporto radical me dedicar, a viajar por Angola, a viver a minha vida não me inteirando da de mais ninguém. A minha fé ainda está intacta, apesar dos revezes e da força aplicada pelo papão para fazer desmoronar essa parede.

Por último...


Conjunto no Elinga
Photo by Samurai
5 MCs que respeitas, em Angola ou no estrangeiro:
MCK, Keita Mayanda, Leonardo Wawuti, Phay Grand, Halloween


5 artistas que ouves quase que diariamente
Já não faço isso há anos. Da última vez que me lembro de ouvir intensamente algum artista: Fat Freddy's Drop, Asa, Tété, Promoe, Keziah Jones.


Petro ou D’Agosto? 
11 Bravos do Maquis

Funge com moamba de galinha ou feijão de óleo de palma com cacusso? 
Se a escolha for só entre esses dois, inclino-me mais para o feijão, de preferência num futuro próximo sem nenhum animal a acompanhá-lo. Curto bwé o funji mas já não estraçalho um frango há alguns anos, por isso também só já com molho :).

Cidade preferida em Angola? 
Até agora Huambo, mas ainda me faltam conhecer bwé!

Livro preferido? 
Por mais cliché que possa soar: 100 anos de solidão de Gabriel Garcia Marquez. Música preferida de todos os tempos? Missão impossível!

Pensamento do dia: 
O silêncio torna-nos cúmplices!

Monday, August 30, 2010

Caipirinha Lounge Interview: Conductor, "O Nosso Timbaland"

Foi prometida há uns meses atrás mas não é à toa que o Andro de Carvalho (aka Conductor) é o homem do momento, o productor andava mesmo busy. Segue, na íntegra, a interessante entrevista com o que considero ser o melhor productor angolano, onde o mesmo fala das suas origens pelo mundo do hip-hop, a sua viagem pela experiência do kuduro e a sua explosão mundial, e alguns dos seus futuros projectos. Disfrutem e comentem!

As Origens

Como surgiu a tua relação com a música?

Acho que tudo começou muito cedo, conta a minha mãe que sempre gostei de tocar em instrumentos, guitarra, pianos eléctricos, etc etc etc, mas em termos de compor e tocar mesmo de um modo mais sério foi em 1996 que em Cuba aprendi a dar uns toques de guitarra com um tio.

Como surgiu a sua paixão pelo hip-hop?

Lembro-me por volta de 1993-1994 em Luanda ouve um boom do "eu queria um Ferrari amarelo" do Gabriel o Pensador e a partir dai que fui me sentindo intrigado com essa forma de "falar por cima das melodias". Já havia algum contacto prévio mas mais mesclado no explosão internacional com o "I've got the power" e outras coisas do género mas só prestei mais atenção quando ouvi em português.

Quais foram as suas primeiras grandes influências no hip-hop mundial?

Basicamente não havia muito por onde escolher, naquela altura a praça do Kinaxixi e alguns amigos tinham algumas coisas engraçadas como Snoop, Tupac, Fu-Shnikens e pouco mais do género. Acho que so em 1996 prai é que tive contacto com discos de rap americano, o Luaty (Ikonoklasta) tinha um stock grande e gravava-me algumas cassetes.

E no hip-hop lusófono?

Gabriel o Pensador e SSP acho que foram o primeiro "choque com o rap em português". Depois ouvi Black Company e fui ouvindo pouco a pouco o que se fazia no universo do rap angolano. Não acompanhei muito o desenvolvimento nessa altura do rap angolano porque estava focado noutras coisas mas arrependo-me profundamente.

O Hip Hop

Descreve-nos o teu trajecto dento do mundo do hip-hop angolano?

Bem, depois de vir para Lisboa viver e ja estar mais dentro do movimento e dos "canones" da cultura, acabei por re-encontrar o Luaty (que tinha sido meu colega de escola) e ele me apresentou uma nova face do rap angolano, Mc Kapa, Filhos da Ala Este, Hemoglobina, etc etc etc... Acabei por entrar em contacto com alguns deles e pouco a pouco fui produzindo para alguns destes artistas, eu tinha pouco mais de 1 ano de produção quando fiz metade do disco do Mc Kapa (Trincheira de Ideias) e bem... dai para a frente fui sempre dando o meu contributo quando me fosse pedido, Kid MC, Mc Kapa, Leonardo Wawuti, Keita Mayanda, Phay Grande, Ikonoklasta, etc etc etc

Quando e como surgiu o Conductor como productor e não só MC?

Eu comecei a produzir em 2000-2001, um grande amigo, o Loxe, mostrou-me o Fruity Loops e fui mexendo mais e mais na altura já tocava um pouco de guitarra e fui só misturando o que bem me apetecia com o "como deve soar". Lembro-me de samplar uns desenhos animados manga e me sentir o Madlib português... Hahahhahahaha.. o tempo passa não haja dúvida disso...

Como Mc comecei em 1998, assim que cheguei a Portugal conheci alguns rappers do circuito tuga e comecei a fazer algumas coisas com eles, freestyle, algumas rimas escritas, etc etc.. mais tarde fiz parte de um grupo chamado Nova Trova com uns amigos mas acabamos por nos separar.. A dada altura comecei a prestar mais e mais atenção ao rap que se fazia em Angola, acho que sempre senti mais "espaço para crescer", havia menos "barreiras psicológicas" e o pessoal sempre foi mais dado a experimentação sem usar bases de referencia.

Pensas ser melhor a cantar ou a produzir?

A produzir sem sombra de dúvidas, não acho que seja um mc exímio nem nada do género, acho que me preocupo demais com o quanto a mensagem que quero transmitir vai ser recebida.. e isso acaba por me dificultar o processo de espontaneidade que faz falta para embelezar o flow. No entanto, tenho alguma facilidade a fazer freestyle e acho que talvez ai me sinta um bocado melhor..

Como avalias a tua evolução como productor?

Eu acho que devem ser os ouvintes a decidir isso...

A meu ver, compor ou mesmo produzir é um processo que passa por fazes, no principio queres soar como alguma coisa, depois começas a criar a tua "imagem de marca" e só mais tarde é que percebes o porque não és "ouvido" como querias. Acho que a limitação é só parte da mente, tudo é possível e fazível e acho que nunca me deixei gerir pelas regras que limitam os géneros, hoje em dia estou muito mais concentrado na qualidade de som, mistura e gráficos do que a uns anos atrás mas ao mesmo tempo acho que é mais simples ser ouvido quando soas bem...

Quais são as producções tuas no hip-hop de que mais te orgulhas?

Eu vou te Queixar - Conjunto Ngonguenha
Eu Vou Te Queixar

After Hours - Tekilla
Faz parte do Hustle - Força Suprema

E o rapper com que mais gostas de trabalhar, seja por motivos criativos ou outros quaisqueres?

Há vários tipos de artistas...

o Ikonoklasta tem sempre aquele desafio e aquela ideia complicada que vai demorar a criar mas cujo resultado final vai ser extraordinário. O NGA é sempre aquele mc que me surpreende sempre, é eficiente, tem uma escrita muito fluída e de rápido impacto e tem um tempo de entrega surpreendente.. 15 minutos por som, dobras, adlibs, coro.. é incrível.

Como avalias a qualidade productora do hip-hop lusófono em geral?

Acho que há produtores muito bons e acho honestamente que é o pilar que mais tem desenvolvido nos últimos anos, os beats soam cada vez mais a beats e a mistura vem evoluindo a longos passos. Kilú, Bambino, Sandokan, Aires, Eliei, Sam The Kid, Nave, Marechal têm sem dúvida nível para representar a lusofonia num evento de produção mundial.

Que planos e/ou projectos tens para o futuro como productor?

Projectos ha sempre milhares e milhões.. de momento estou a finalizar um projecto com os Força Suprema, vai se chamar "Faz Parte do Hustle", outra brincadeira com Edu-ZP que é um dos melhores rappers angolanos a meu ver e também um disco com Supremo G que vai se chamar "Regresso ao Futuro"... estes são os que tem andado, porque na gaveta há sempre mais uns tantos..

Conjunto Ngonguenha
Nos os do Conjunto
Como surgiu a ideia do Conjunto?

A ideia do Conjunto apareceu em 2002 entre conversas de internet e ideias idiotas e estúpidas que todos tínhamos em comum. Chamar de Conjunto foi apenas uma forma de não sermos outra crew e ao mesmo tempo de darmos aquele props a geração passada.

Como definiarias o seu propósito e a sua fonte de inspiração?

Acho que de uma forma muito natural nós somos bastante idiotas, passamos a vida a rir e a reparar e reclamar ironicamente da vida que vivemos e das coisas que acontecem a nossa volta. Somos uns realistas estupidamente rappers. Basta passar umas horas connosco para perceber de onde aparecem os temas e de que forma as coisas são escritas, acho que há mais demora na parte da produção, corte-e-costura e montagem do que na hora de encontrar uma fonte de inspiração.

Qual foi a reacção do público ao vosso primeiro CD? Estavas à espera desta reacção?

O público teve uma reacção muito lenta, os meios de promoção na altura eram quase inexistentes e lembro-me de termos vendido 200 copias no dia do lançamento oficial do disco em Luanda. Mesmo em Portugal as coisas não foram muito diferentes, o disco só esgotou efectivamente uns 2 anos depois do seu lançamento e foi quase só ai que nos apercebemos da reacção das pessoas a música, acho que foi um produto difícil de digerir.

A nossa grande admiração foram artistas de meios bastante fora do nosso terem escolhido o disco como disco predilecto do ano e sermos bem recebidos por grupos como os Cool Hipnoise, Prince Wadada, Terrakota, Sara Tavares ou mesmo 1-Uik Project, que dizem ser uma grande inspiração para o trabalho que fazem.

O vosso som ‘É Dreda Ser Angolano’ inspirou um documentário do mesmo nome bastante bem recebido. Será que o seu sucesso surpreendeu-te, ou perspectivavas algo assim?

O projecto foi filmado por nós e acabou por ser editado e lançado pela Fazuma, editora independente do mercado português. Acho que era de esperar uma boa recepção, as filmagens foram feitas de forma a captar o quotidiano angolano e para muitas pessoas ainda é um mito perceber como o pais sobrevive e como muitas pessoas vivem e como os prédios escondem, pisam e soterram os musseques e o modo de vida de muitos cidadãos angolanos. Claro que receber prémios etc etc nunca nos passou pela cabeça, mas é como dizemos, a realidade de uns é o teatro da vida de outros..

Definirias o Conjunto Ngonguenha como um trabalho discógrafico com conotações sócio-políticas?

De certo modo sim mas não me parece que façamos um trabalho direccionado para esse campo. Nós apenas falamos do nosso dia a dia, dos nossos problemas, das nossas cicatrizes de infância etc etc, acabamos por ser críticos e satíricos porque é assim que somos naturalmente, o angolano de forma natural é um "aceitador" e nós somos um pouco mais críticos mas é tudo feito sem esse link directo..

Que planos tens para o futuro do Conjunto? Pensam fazer mais documentários?

Já pensamos, mas como tudo o que acontece com o Conjunto, o tempo e a forma de fazer as coisas é muito nossa... O Conjunto vai começar a se concentrar em fazer um evento em Luanda no fim do ano e em espalhar mais e mais a semente que atiramos na Ngonguenhação.. Ainda temos 2 temas por fazer por isso ainda poderão esperar alguma coisa a passar ai pelo ar..

Buraka Som Sistema
Como tem sido a tua aventura pelo mundo do kuduro? Encontras semelhanças às tuas origens no hip-hop?

O mundo é do kuduro dentro de Angola, para nós da Buraka é o mundo da música electrónica (ou música urbana como chamamos), estamos no mesmo palco que os Daft Punk, Major Lazer, Crookers, MIA, Sinden, Benga.. é apenas diferente, é um mundo de espectáculo altamente direccionado a música de impacto e de dança. Desde o momento que tens mc's com microfones a fazer o público se mexer e vibrar seja que tipo de som seja para mim há uma ligação directa com o hip-hop, afinal a base é a mesma.

Acho que o kuduro hoje em dia representa melhor o quotidiano angolano do que o hip-hop que temos feito. Há mais originalidade e criatividade pelo menos sem sombra de dúvidas e é claro que é a maior expressão cultural que o país tem a décadas.

Como surgiu a idea para o Buraka Som Sistema?

A ideia surgiu no sentido de apresentar as noites Lisboetas a batida que se ouve nos clubes africanos, tudo começou com festas onde Dj Riot e J-Wow faziam de dj e o Kalaf e eu fazíamos de mc's a criar um hippe a volta do som em si. Depois de alguns eventos esgotadíssimos e a pedido do público acabamos por nos concentrar em fazer músicas para ilustrar o que estava a acontecer. E dai foram aparecendo pouco a pouco o Yah, Wawaba, Sound of Kuduro e o Kalemba (Wegue)...

Como defines o som dos Buraka?

Buraka Som Sistema faz música urbana, eu não consigo ver as coisas de outra forma, não vejo muita diferença entre o que nós fazemos (em termos conceptuais) e o que acontece no Baile Funk, o Kwaito, o Sakousse, Reggaetón, Nueva Cúmbia, Baltimore, Grime, Dubstep, Drum'n'Bass, Funky-House... são todos géneros suburbanos começados por miúdos em frente a um computador a tentar misturar o som que ouvem todos os dias com o som que não lhes sai da cabeça...

Qual a avaliação que fazes acerca do sucesso que o Buraka tem estado a granjear pelo mundo?

Há muito trabalho duro por traz do nome Buraka Som Sistema, há muitas noites sem dormir e muitos sacrifícios por parte de todos, há equipas e mais equipas a trabalhar e a bater com a cabeça na parede para fazer com que o plano funcione. Para além disso há a força de vontade dos músicos e da própria banda para que as coisas aconteçam sempre da melhor forma possível, a organização e pensar grande são sempre a base de tudo, é só o que tenho a dizer.

Espanta-te a forma como o kuduro está sendo tão bem aceite mundialmente pelas mais diversas pessoas?

Acho que África é o centro de atenções do que está a acontecer musicalmente dentro da música electrónica a uns 2, 3 anos. Nós simplesmente viemos trazer uma outra face dentro de tudo o que as pessoas tem vindo a ouvir.

A forma como apresentamos o nosso espectáculo é também um grande trunfo dentro do que fazemos, poder ir ao Japão, Russia, México, Estados Unidos etc etc e dar a conhecer as cosias da mesma forma como damos em Portugal demonstra que temos um show forte e isso acaba por se reflectir também no sucesso que temos tido.

Descreve-nos a energia dum concerto dos Buraka? Qual foi a cidade do mundo que mais se rendeu ao vosso espectáculo? E qual foi a cidade em que mais gostaste de actuar?

Cidade do México, Paris e Bélgica são sempre lugares onde um show de Buraka é 300%. O set do concerto é quase non-stop e tem muita coisa a acontecer, acho que é difícil ficar parado (pelo menos é como muitas pessoas o descrevem), o clash entre a bateria e o computador acaba por criar uma vibração sonora muito dinâmica e isso se reflecte na reacção das pessoas aos comandos dos mc's.

Há quem acha que o Black Diamond tem uma mensagem um pouco política. Concordas?

Acho que de um modo indirecto o disco acaba por ser reflexo dos mc's que cantaram nele e tendo um leque tão diverso e tão completo de convidados acaba por ser um pouco mais social que político. O nome parece um pouco tendencioso mas apareceu sem querer sobre a ideia da rocha que pode ser um diamante mas pelo seu aspecto rude não é valorizada por ninguém (um bocado o que acontece com o género kuduro e com outros ao redor do mundo).

Como foi feita a aproximação à MIA? O que ela achou do kuduro dos musseques luandenses, que é diferente do kuduro dos Buraka?

A MIA ligou para o estúdio porque queria ter um kuduro no disco que estava a gravar na altura (Kala) e nós começamos a trabalhar com ela mas devido a um desentendimento de timings o som acabou por não sair, aí nos adaptamos a coisa para o nosso disco e assim fizemos o "Sound of Kuduro". Ela não chegou a ir para Luanda, foi lhe recusado o visto umas 3 ou 4 vezes, no fim de contas usamos umas imagens dela no estúdio e duma viagem que ela fez pela Índia.

Qual o teu som preferido dos Buraka Som Sistema?

Há vários, eu gosto da participação do Bruno M, o "Tiroza", gosto do "Luanda/Lisboa"e o Remix que fizemos do "Make it, Take it" de Amanda Blank

Luanda-Lisboa

Como perspectivas o futuro dos Buraka?

Estamos na fase mais criativa do próximo disco da Buraka e acho que vamos entrar numa onda mais melódica do que de impacto, não gostamos de nos repetir e acho que isso vai se notar um bocado no produto final. Esperamos continuar com os shows no próximo ano e continuar a fazer as pistas tremer com a nossa música.

Conductor the Man

5 MCs que respeitas, em Angola e no estrangeiro?
Angola - Leonardo Wawuti, NGA, Mc Kapa, Phay Grande & Bruno M
Estrangeiro - Drake, Mos Def, Elzhi, Ludacris, The Game

5 artistas que ouves quase que diariamente?
Marcia, The Game, Drake, Irmãos Almeida & Matias Damásio

Album de hip-hop preferido?
The Game - Doctor's Advocate

Album preferido, excluindo o hip-hop?
Márcia – Márcia

Cidade preferida?
Tokyo

Livro preferido?
7 Minutos, de Irving Wallace

Líder mundial preferido, e porquê?
Presidente Gasolina e Príncipe Ouro Negro, porque nem tudo tem que ser político...

Pensamento do dia:
"Morrer é burrice, no caixão faz calor"

Saturday, April 17, 2010

Caipirinha Lounge Interview: AM Roots

AM Roots Caipirinha LoungeFeaturing their new tune FMH Dub Mix, only available on Caipirinha Lounge.

Crescemos juntos. Os AM Roots foi uma das primeiras bandas perfiladas aqui no Lounge, ainda nos primeiros meses de existência deste espaço. Foi uma das minhas primeiras interacções com músicos que se mostraram interessados em mostrar o seu talentoso trabalho neste site. Em Junho de 2009, quando foram perfilados aqui, nunca tinha ouvido falar deles. Hoje em dia, já se ouvem os beats deles a tocar em discos e lounges em Luanda, e mesmo no passado verão o Filipe Narciso foi convidado especial no Elinga Teatro, aonde o conheci. Abaixo, leia sobre o que inspira e influencia este duo.

Origins

Como surgiu a vossa relação com a música?

A nossa relação com a musica surge com os mais velhos em casa.

Como surgiu a vossa paixão pela música electrónica, mas concretamente a house music?

A relação com música electronica nasceu nos anos 90 com sons Real to Real, Rosala, 2 Unlimited e mais da mesma epoca.

Quais foram as vossas primeiras grandes influências no mundo do house?

São várias influências mas podemos dizer Louie Vega, Joe Claussel, Onsulade e Africanism compilations em geral foram boas influências.

Com que idade descobriram a arte de ser DJ/productores?

Nunas: Muito pequeno nas festas de casa a tocar. A produção surgiu muito mas tarde por volta dos 17 ou 18 anos.

Filipe: Com cerca de 14 anos a dj e logo em seguida comecei a produzir.

Quando alimentaram sériamente a ideia de serem DJs? Foi um sentimento que surgiu lentamente, ou uma certeza forte?

Foi um sentimento que surgiu lentamente e foi crescendo.

Descrevam-nos o os vossos respectivos trajectos dentro do mundo da house music.

Nós acreditamos em boa música neste caso House com influência de países tropicais.

Como e quando se conheceram?

Conhecemo-nos em Brooklyn, em Nova Iorque, no estúdio do Filipe.

Quando e como surgiu os AM Roots?

AM Roots surgiu logo após nos conhecermos e depois de trocarmos algumas ideias. Decidimos investir em fusão e exploração de novos estilos musicais.

Como tem sido a vossa relação, e como funciona? Quais são os pontos fortes de cada um?

Nós temos dias de studio, mas desde que o Filipe mudou-se para o Porto temos trabalhado online a trocar files e tendo conferências no Skype. Também tentamos estar juntos no mínimo de 6 em 6 meses. O Nunas é responsável pelo artwork e branding (web, photos, videos, etc) enquanto o Filipe focaliza-se em contratos e na qualidade do som (captação, mistura, composição, etc).

The Music - Influences and Inspiration

Como avaliam a vossa evolução como um duo apaixonado pelo house? Notam alguma diferença entre as vossas primeiras composições e as que fazem agora?

Nós tivemos logo de início a benção de grandes produtores no mundo de House e naturalmente isso deu-nos ego para trabalhar mais. Assim fomos evoluindo e naturalmente hoje notamos differença com os trabalhos mais recentes.

Qual tem sido a vossa música preferida até agora, a música que gostarim que as pessoas para sempre associassem aos AM Roots?

A música que marcou-nos ainda não publicamos, mas não temos música preferida porque tudo que fazemos e tem um significado.

Falemos um pouco de como criam as vossas músicas. De onde vem a vossa inspiração?

A Inspiração vem da música em geral. Ultimameneo temos escutado muito Afrobeat, mas nós não temos uma formula. Geralmente entramos na sessão ja inspirados.

E quais as vossas maiores influências musicais, incluindo artistas, DJs, diferentes estilos, etc?

São várias influências...Afrobeat, Reggae, Dub, Space Disco, Funk etc... Good music.

O que vos inspira a criar música?

A Vida.

Como gostam de descrever o vosso tipo de música?

Definitivamente experimental.

Qual o vosso DJ preferido?

Ainda não descobrimos porque estamos em dois polos diferentes.

Qual o vosso productor preferido?

São vários mas sem dúvidas o Louie Vega é um deles.

Expliquem-nos o trajecto de uma música vossa. Como a levam desde a ideia até ao producto final?

Nós vamos com o flow do dia e não temos fórmula.

A última vez que estive em Luanda já se ouvia AM Roots a tocar em lounges e discotecas espalhadas pela cidade...como encaram a aceitação da vossa música por parte do público angolano, ou no teu caso DJ Nunas, o público moçambicano?

Nada melhor para AM Roots como ter supporte de Angola e Moçambique, principalmente porque somos jovens nativos desses países.

Qual a vossa opinião acerca do papel da internet na indústria musical?

A Internet é como tudo na vida, tem um lado mau e outro bom. Para divulgação é excelente, enquanto que para negócio pode ser muito mau. Felizmente para nós tem sido maningue nice. Lol :)

The Future


E o futuro? Que projectos têm programados para os próximos meses, e anos?

Nós temos em agenda para os próximos meses um vídeo clip, a promoção do AM Roots Dj/Vj set em Angola e Moçambique, Portugal, New York e South Africa... as datas serão anunciadas no nosso Facebook fan page, no web site ainda em construção (www.amrootsmusic.com) e no Myspace.com/amrootsmusic. Em breve queremos divulgar o nosso primeiro album que já está ser gravado.

Que futuro vêm para os AM Roots?

Trabalhar em música para média (Tv, Web, etc), Cinema, Dj sets e colaborar com ONG's.

Para quando o lançamento do album?

2012.

Acham que viver em New York tem um impacto na vossa forma de encarar a música?

NY inspira-nos muito e mudou a forma em que encaramos a vida e a música.

O que pensam fazer depois de deixar New York? Se é que pensam em deixar New York!

Graças a internet e a tecnologia que usamos, nós temos a possibilidade de trabalhar em qualquer parte do mundo. Então onde houver trabalho a gente pensa em acomodar na medida do possível.

5 DJs que respeitam, em Angola, Moçambique, e no estrangeiro?

Djs que respeitamos em Moçambique: Dj Dub Nakave, R.U.I (340ml), Dinga, Tiago (340ml), Dj Da Most.
Em Angola: Dj DJeff, DJ Malvado, Os Batida, DJ Znobia, e o DJ Wind
No Estrangeiro: Louie Vega, Osunlade, Boddhi Satva, Antonello Coghe, e a Anane.

5 artistas que ouvem quase que diáriamente?

Nunas: Fela Kuti, Thievery Corporation, 340ml, Jorge Ben, Gotan Project
Filipe: Paulo Flores, Livity, Fela Kuti, Tony Allen, Kassav

Album de house preferido?

Nunas: Africanism Compilations
Filipe: 10 years of Soul Heaven (Mixed by Louie Vega)

Album preferido, excluindo o house?

Nunas: Fela Kuti qualquer album
Filipe: Livity , Rapaz Novo

Cidade preferida?

Maputo - Luanda (NY no meio)

Livro preferido?

Não somos muito dados a obras literárias.

Líder mundial preferido:

Obama parece ser bom...

Pensamento do dia:

It's all about the Funk...

Curtam, abaixo, o som FMH Dub Mix


FMH Dub Mix

*Artwork by AM Roots

Monday, April 5, 2010

Caipirinha Lounge Interview: Entrevista à CFKappa

"Tenho fé no futuro de Angola por saber que farei parte dele."
Tem apenas 17 anos mas já é um artista bastante aplaudido por quem conhece o hip-hop angolano. Admiro o seu amor pelo hip-hop, a sua inteligência, e o seu gosto pela escrita. Aqui vai a entrevista à uma das maiores promessas do hip-hop angolano, e quiça, lusófono.

*No fim da entrevista, façam download do som Graduação, meu som preferido deste artista até agora.

O hip-hop

O que te atrai no hip-hop?

A beleza das palavras, as inúmeras formas de as empregar e acima de tudo, o bem que ele faz à alma quando bem feito. A criatividade espantosa que certos MCS têm demonstrado também me impulsiona a procurar fazer o inédito ou quebrar recordes.

Como encaras o hip-hop em Angola e como descreves a sua evolução?

Na minha opinião, o Hip Hop em Angola é como o Hip Hop em qualquer outra parte do mundo. Com bons e maus rappers, com pessoas que se preocupam acima de tudo com a mensagem que vão passar nas letras e com outros com a imagem que vão passar para os ouvintes. É como tudo… O bom e o mau. O Hip Hop em Angola de facto sofreu alguma evolução considerável, não só no número de Mcs, mas também na qualidade dos instrumentais, creio que as músicas têm sido mais difundidas agora, e os órgãos de comunicação social têm prestado mais atenção ao Hip Hop nacional. Não acompanho o Hip Hop nacional a fundo há muito tempo mas creio que os B-Boys também evoluíram (apesar de ainda achar que não têm a atenção que realmente merecem, bem como o Graffiti). A sua evolução é positiva, vemos cada vez mais inovações e é disso que se espera… O inédito.

Como encaras o hip-hop no mundo lusófono em geral?

Na minha sincera opinião eu acho que se podia fazer mais por parte dos MCs, mas que apesar de tudo, é de louvar o trabalho que muitos Mcs estão por aí a fazer. Nota-se uma certa evolução por parte dos menos preguiçosos e uma persuasão à imitação por parte dos mais preguiçosos (que infelizmente não são poucos). Existem Mcs que procuram se superar, em diversos aspectos e felizmente têm sucesso nesse objectivo, e isso é de admirar. Quanto aos outros elementos do Hip Hop, eu não consigo responder com precisão. Por exemplo, conheço apenas cerca de 5 a 6 DJs de Hip Hop em Angola, conheço muito poucos graffwritters (se calhar os dedos da minha mão direita sirva para os contar), e pelo menos agora algum certo número de B-Boys, que também não são o suficiente mas que têm procurado fazer bem o seu trabalho. Não tive a oportunidade de conhecer B-Boys em Moçambique, conheci alguns Djs de Hip Hop (pelo menos parece que há mais por lá), Mcs não faltam, e também senti um bocado a ausência dos graffittis. Em Portugal creio existir mais, Djs, muitos Mcs, parece que o graffitti é mais notável também e não tenho informação sobre B-Boys. Quanto aos outros países, não posso comentar por falta de informações que possam vir a justificar a minha resposta.

Quais os rappers que mais te inspiram?

Kanye West, Azagaia, Ludacris, Asmall, Mukadaff e Valete


A tua idade tem sido um empecilho ou uma mais-valia?

A minha idade é só um número. Claro que devo admitir que algumas pessoas chegam a admirar o trabalho que faço por ser tão novo, mas para mim a idade é indiferente quando se há conteúdo positivo. Os anos passam e espero sinceramente evoluir com este tempo.

O que estudas, e porquê?

Engenharia de Telecomunicações. Foi a opção em que mais me identifiquei depois de ter sido “privado” de fazer medicina. Gosto do facto de poder criar e dos diversos ramos em que poderei me enquadrar estudando tal coisa.


Tens planos para uma carreira virada exclusivamente pelo hip-hop, ou tencionas acabar os estudos e ter uma carreira de “escritório”? Ou pensas encontrar um ponto de encontro entre as duas opções?

Não vou dizer que farei Hip Hop para sempre, mas que irei fazer enquanto ele não se sobrepor às minhas prioridades. Como prioridade pretendo ter a minha carreira como Engenheiro de Telecomunicações e, caso o Hip Hop não represente contraposição continuarei a fazer enquanto me sentir motivado e inspirado.

Já lançaste várias mixtapes...para quando o lançamento do teu primeiro álbum?

Prefiro ainda não citar datas… Mas podem esperá-lo a partir do segundo semestre do presente ano.

Qual é a música da tua autoria que mais gostas de ouvir?

Um milhão em Um (Com Janice Tiana) – Essa é do álbum…

Descreve-nos o CFKappa como artista.

Cfkappa como artista é um indivíduo que procura sempre inovar e levar de maneira diferente, boa música para aqueles que vão ouvir. Procuro angariar experiência sempre que posso e gosto de me auto-desafiar traçando metas por vezes exaustivas de se alcançar.

E como jovem?

Como jovem, diria um pouco diferente do que a tendência da contemporaneidade têm exigido, talvez por não gostar muito de ficar na rua a falar de motas, cervejas e frequentar discotecas em tenra idade, e sim preferir estar em casa, ler livros, ouvir e escrever músicas e estar sempre a tentar criar alguma coisa.

A cultura e a música

Falemos um pouco sobre cultura. Quais são para si os pontos fortes da cultura angolana?

Até agora, a música é o mais forte, pois tem-se feito arte para a benevolência e ainda (para os mais ambiciosos e visionários) se tem tirado proveito dela para viver. Isso quer dizer, que quando o artista consegue viver da arte que faz, há uma enorme valorização por parte de quem consome. Por outro lado, não se precisa viver da arte ou ganhar (materialmente) da mesma para ser consumido a larga escala por quem entende de música. Portanto, a música é sem dúvida o ponto mais forte da cultura angolana. Outro ponto forte, embora pouco valorizado é o artesanato. Os nossos artesãos fazem “magia” com as mãos produzindo obras lindíssimas que nunca passam por despercebidas aos olhos de quem vagueia, seja nacional ou estrangeiro. Portanto, considero estas duas vertentes como pontos mais fortes

O que mais o faz sentir-se orgulhoso de ser angolano?

As inúmeras identidades culturais. A cultura angolana, bem como os seus hábitos e costumes, é distinto, é único, e isso faz sentir especial. As nossas cobiçadas riquezas naturais faz-me sentir filho de um povo reconhecido e abençoado. Enfim, muita coisa me faz sentir-me orgulhoso de ser angolano.

Quais são os teus artistas lusófonos preferidos?

Azagaia
Bob da Rage Sense
Valete
X da Questão
Muralha
Kalibrados
Abdiel
Y-Not
Hernâni Mudanisse
Asmall
MV Bill
Conjunto Ngonguenha
MCK
Reptile
Valete and CFKappa
A literatura

És um dos mais novos integrantes da União dos Escritores Angolanos. Como surgiu a tua paixão pela literatura?

Ganhei o gosto pela escrita ainda muito novo, mas os meus escritos não eram tão cativantes, pela minha inexperiência, apesar de tudo. Após o primeiro livro que li – “Quem Me Dera Ser Onda” de Manuel Rui – ganhei forças para continuar a escrever e aperfeiçoar cada vez mais a minha habilidade na escrita.

Quais são as tuas principais influências literárias?

Sidney Sheldon, Dan Brown, Paulo Coelho e Manuel Rui Monteiro.

Quem é o teu autor preferido, e porquê?

Dan Brown. Este é um homem que na literatura considero impressionante pela coerência nos seus textos, capacidade de detalhar o que quer transmitir, de maneira que nos sintamos dentro do assunto. Ele transmite uma tensão enorme a quem lê o livro, de maneira que nunca queremos parar de ler para ver o que acontece a seguir. O seu vasto conhecimento de história e a maneira como ele relaciona às suas ficções nos obrigando a raciocinar e questionar as nossas ideias é incrível. Simplesmente amo os seus escritos.

Que tipo de livros tencionas escrever?

Atendendo à fraca aderência da juventude ao mundo da leitura, pretendo escrever livros que estimulem a todas as idades, mas acima de tudo aos jovens, que têm uma certa fobia a livros ou a literatura em si.

O que te inspira na literatura?

A capacidade que o escritor tem de representar em palavras, situações, estados e momentos que levam o bom leitor a se sentir inseridos nos mesmos, viver aquela mesma ansiedade descrita, desenhar mentalmente certas descrições tal como o autor pretendia explicar, etc.

A sociedade

O que achas dos valores e padrões morais da juventude angolana?

Acho que estes serão perdidos enquanto o número de jovens que se preocupam continuar a representar a minoria. Nada está perdido de todo, enfim, podem facilmente ser resgatados e preservados (para os que ainda não se perderam) com um pouco de empenho. Dar mais valor aos valores culturais é uma coisa muito importante. Muitos jovens mal sabem exactamente onde seus pais nasceram e quais as suas origens, bem como pelo menos o nome da língua que é falada na sua província de proveniência e coisas do género.

Como encaras a sociedade angolana em geral?

Encaro a sociedade angolana como uma sociedade com futuro evidente e promissor caso haja um pouco mais de dinamismo e autonomia por parte dos próprios cidadãos. Valorizar o que é mais importante, não perder a identidade cultural e acima de tudo investir na educação me parecem ser alguns dos passos fundamentais para se chegar à um “avanço” e “desenvolvimento” consideráveis.

Qual a sua opinião acerca do actual clima politico do país?

Lamentável…

Achas que os jovens angolanos deviam estar mais ligados a questões de cidadania e política?

De certa forma sim. Acho que a juventude tem realmente demonstrado inclinações à assuntos não tão importantes quanto aos que concernem de maneira mais directa à sua vida. Muitos jovens reclamam de certas decisões tomadas mas nunca vi sequer alguém escrever um artigo a protestar ou se fazer ouvir em lugares que não sejam numa roda de 5 pessoas em tom de voz reduzido para não ter problemas. Assuntos como a leitura, ética/cidadania e política deviam fazer parte das discussões, fóruns e interesses da juventude, pois de certa forma, os acaba afectando de uma maneira ou de outra e decidindo seu futuro.

Tens fé no futuro de Angola?

Tenho fé no futuro de Angola por saber que farei parte dele.

Queres partilhar connosco alguns dos teus sonhos, como artista e como homem?

Lançar o meu álbum, lançar inúmeras e bem aceites obras literárias, Formar-me, servir de exemplo para muita gente, ter equilíbrio na vida amorosa, profissional, familiar, financeira e psicológica. Também gostaria de realizar um grande show depois do meu álbum e enfim, ser bem sucedido em tudo o que eu fizer e projectar.

5 MCs que respeitas, em Angola ou no estrangeiro:

Keyta Maianda
Kool Klever
MCK
Lukeny Fortunato
Kennedy Ribeiro

5 artistas que ouves quase que diariamente:

Kanye West
Ludacris
James Blunt


Petro ou D’Agosto?

Petro

Prato angolano preferido?

Fúmbua (Acho que se escreve assim…)

Cidade preferida em Angola?

Lubango

Livro preferido?

Quem me dera ser onda… (Manuel Rui Monteiro)

Música preferida de todos os tempos?

Efectos Vocales (Nach)

Pensamento do dia:

”Rappers, transformem os vossos beefs em comida, enviem para o Haiti, pois há quem precisa”

Graduação

-Photos by Samurai

Thursday, February 18, 2010

Coming Soon: Caipirina Lounge Interview to Azagaia, Conductor, CFK, and...Valete

É com grande prazer que anuncio uma mão cheia de grandes entrevistas em breve no Lounge, com o conteúdo substancial com que já se habituaram. Entrevistas feitas a alguns dos artistas mais influentes da música lusófona de 2009. Desde o grande Mano Azagaia que falará sobre o seu Babalaze, um dos meus álbuns preferidos do ano que findou, passando para o beatmaster Conductor e as suas opiniões acerca dos Buraka e não só, até ao CFKappa e o seu percurso como o miúdo maravilha do nosso hip-hop alternativo. E para o cúmulo, teremos os palpites do pai grande do rap lusófono, o único, o irreverente, o Valete. Fiquem atentos, que isto aqui promete...

It’s with great pleasure that I announce a handful of what promise to be insightful interviews coming soon to the Lounge. Four of the most influential lusophone artists of 2009 are coming to share with us a bit of their thoughts and their inspirations: Mano Azagaia, the great Mozambican lyricist, will talk to us about Babalaze (one of my favorite albums of 2009) and the political situation in Mozambique; Buraka Som Sistema's Conductor will tell us about how kuduro is changing dance music worldwide; and Angola’s kid phenomenon CFKappa will be sharing his breakneck jounery through Angola’s underground alternative rap scene. And to top it all off, Lusophone’s most gifted, talented, and notorious hip-hop artist, Valete, will share with us some of his musings on politics, rap, and atheism. Stay tuned!

Wednesday, January 27, 2010

Aline Frazão

“They say that ‘saudade’ is something difficult to explain...saudade has a face, and it’s yours…saudade has a taste, and it’s yours.”

So sings Aline Frazão in Babel, a beautiful bossa - inspired, carefree composition by an equally beautiful singer so in love with Lusophone music in all its forms. She started performing fado, bossa nova and morna at the age of 9 and by 15 was learning the guitar, playing along with the unforgettable jazz classics of our times. Aline’s never recorded an album and doesn’t plan to (she’s adverse to the music industry) but wow, do I wish she would change her mind.

There aren’t many Angolan musicians performing the styles that Aline does so well. She’s like our very own Sara Tavares, traveling the world with her voice and her guitar. She’s played in venues from Madrid to Luanda, Barcelona to Lisbon, Paris to Formentera, performing with other renowned Lusophone artists like Ikonoklasta and Bob Da Rage Sense, as well as with underground artists like Nu Bai, LaDupla and Marco Pombinho (coming soon to the Lounge!). Included here are three songs of hers: two original, sparsely arranged acoustic compositions highlighting her clear, ringing voice (Babel and Rascunho) and an interesting, unique interpretation of three great Angolan classics fused together - Birin Birin, Mupiozo a Me and Muxima. It’s not hard to guess my favorite one: Babel.

Babel
Rascunhos
Birin Birin/Mupiozo a me/Muxima

Aline Frazão, em suas palavras
Aline Frazão“Dizem que a saudade é algo difícil de explicar, traduzir não dá...saudade tem um rosto, e é o teu...a saudade tem um gosto, e é o teu...”

Assim canta Aline Frazão na sua composição original, Babel, uma música linda escrita e cantada por alguém tão linda quanto a música. Conta assim Aline a sua história musical:

“Comecei a pisar o palco aos 9 anos a cantar fado, mornas e bossa-nova (também a dançar ballet e coisas assim!). Aprendi a tocar a guitarra entre amigos, aos 15 anos, quando comecei a compor e a ouvir os standards de jazz.”

Ao longo dos anos foi ganhando experiência até chegar ao ponto de dividir o palco com outros ilustres artistas da música lusofona:

“Já estive/estou em vários projectos (cantei com o Bob da Rage e com os LaDupla, fiz Teatro ("Doce Pássaro da Juventude" em 2008), spoken word (Makumba Jazz), e os Nu Bai (é um grupo de fusão de rumba com musica afro-brasileira; andamos de mochila e instrumentos às costas a cantar numa ilha linda do mediterrâneo, a Formentera - inesquecível), e também Madera de Cayuco (um grupo fantástico...).

Nos meus últimos concertos por aí contei com a presença de grandes músicos-amigos, principalmente o Ikonoklasta, Marco Pombinho e César Herranz. Eles preenchem a minha música e dão mais brilho aos concertos... Luanda, Barcelona, Madrid, Lisboa, Paris, Galiza... Não me posso queixar. Tenho a sorte de ter muitos e bons amigos por ai...!”

Como não podia deixar de ser, tem uma paixão imensa por Angola. “Aonde quer que vá tocar, seja para que público for, levo sempre Angola na voz, pendurada como uma bandeira. Faço questão de explicar as canções nacionais, com orgulho, com saudade, com carinho, canto André Mingas, Mukenga, Liceu Vieria Dias e Teta Lando com tudo o que levo dentro.”

E os seus planos para este ano?

“Este ano quero dedicar mais tempo à composição e à escrita, ao estudo de novos instrumentos e continuar essa viagem, de guitarra às costas, bebendo a água de cada sítio, fazendo parcerias e projectos e concertos por aí a fora, contando as minhas estórias.

Infelizmente e para minha consternação, a Aline não tenciona gravar um CD (mas epa, eu aqui estou a rezar para que isso aconteça...dizem que a esperança é a última a morrer!). Explica ela, “Não tenho planos de gravar CDs, até porque a industria musical não me atrai mesmo nada.”

O que ela quer fazer, é cantar, cantar por amor
. “Cantar sim,” diz ela, “cantar e olhar nos olhos das pessoas nos concertos, isso sim e sempre. A música não é um passatempo. A música é grande parte de tudo o que eu sou, mesmo que esteja a estudar ou a trabalhar noutras coisas. A música é uma (a única?) constante.”

Acho ela uma das mais interessantes novidades da música contemporânea angolana. Destacadas aqui estão três músicas dela, duas da sua autoria e uma, a sua reintrepretação, bastante única e emotiva, dos grandes clássicos angolanos: Birin Birin, Mupiazo a me e Muxima. Das suas canções originias, um namoro intenso entre a sua voz e a sua guitarra, estão aqui para o vosso deleite aural, Rascunho, uma composição simples e tenra, e a jóia deste set, a música Babel, poética e deslumbrante.

Aline on Myspace

Sunday, December 20, 2009

Caipirinha Lounge Interview: Mauricio Pacheco


ComfusõesA lot of Brazilian people don’t know much about Angola. What sparked your interest in that country? And how many times have you been there?

Well, the first time I heard Angolan music was when my old friend Moreno Veloso (son of great singer Caetano Veloso) put the Alliance Française compilation "Angola 70's" to play. I felt at home with all that music, melodies, and was really affected by the lyrics, by their struggle for independence, by the way Teta Lando and Bonga sang. Later in my life, in the year 2002, just after the war ended, I was invited by a friend, the photographer Sergio Guerra, who was beginning his music label called Maianga (the label that released Comfusões). I went to Luanda to record with Paulo Flores, and since then I came back 5 times.

When did you first become interested in Angolan music?

Well, I guess since I listened to Teta Lando for the first time.

What is it about Angolan music from the 60s and 70s that brought out your passion?

Well, first of all, the sound. That unique vintage reverb and echo, then the typical Angolan guitar, EQ with many high frequencies and tap delay, and then, the soulful vocals. That time when ideology was really something important to the people, obviously the singers brought their ideologies to their vocals. Like Bob Dylan did, like Bob Marley did.


Tell us what you feel when you listen to those old records. How does it move you, and what made you want to remix them?

The remix was something natural. As a producer, the approach was that those beautiful songs needed some contemporary versions, because it fit to them, when you listen, you can imagine that there was a drummer shuffling, but in the mix they kind of forgot him. Something like that, it's a feeling you have, that you can do something that can put light again into those beautiful tunes. I think a remix is better than another version, because no one can sing like these guys did at that time. It’s unique. It’s not their technique; it's something particular of that time, the feeling of that independence era, that unique vibe.

How did you go about choosing the remixers?

Well, I have a lot of close friends that are producers and share this love for African music in general. So it was an easy pick. I just tried to imagine the tunes that could go well with each one of them, then I sent some options, and in many cases I did the remix together.

What were your favorite tracks to remix?

My favorite is Zom Zom, the last track of the CD. I love Elias vocals, and I'm not so much into electronic music, but I listen to some deep house, so I guess it was an influence to this remix in particular. And I put some Kraftwerk-like keyboard melody at the end of the track, so it was full of good references to me.

Zom Zom

Who is your favorite Angolan artist of that era?

I guess Teta Lando. He is the most representative, the most political, and Angolé is an eternal hymn, not only for Angola, but for everybody. It doesn't matter the color of your skin, like he says. I hope we're done with racism soon. This is the best anti-racism song for me.

When do you plan to release Comfusões 2? Any exclusive information you want to give us about that album?

Well, I can't say a lot because I didn't get started yet, really. But it’s definitely a promise for me, that I'll organize and produce volume 2, with a lot of surprises and new remixers. The first musician I invited to do a remix is my friend Kalaf, from Buraka Som Sistema.

Have you had a chance to expose Angolans to your work?

A I mentioned, Kalaf and Conductor, from BSS, listened to it, and they liked! That was really good for me! Well, I have some friends that are putting Comfusões finally on the raido in Angola, like DJ Znobia, and my good friend Wyza, the best singer of the new generation. Wyza is amazing, he can be as big as Salif Keita, in my opinion. Have you heard of him?

Have you had the chance to travel outside of Luanda?

Unfortunately, no. I just went to Cabo Ledo, and Barra do Kwanza, but I didn’t go to other provinces. I'd love to, next time I go there, and meet other musicians and the different lifestyles of places like Benguela.

Zom Zom and Chofer de Praça are among my favorite tracks from that album, and both stay very faithful to the original material. How did you go about choosing which rhythms went the best with the original work?

Well, I'm very experimental, that's the way I work. Chofer de praça was a suggestion of the Label director, Sergio Guerra. He showed me the track and talked about bringing Dog Murras, the kuduro superstar, to add some vocals. So I started imagining Murras vibes, and then gave to the track an uptempo beat, wich i think worked well with Murras. He normally sings at 140bpm, so this tracks was really cool and easy for him, and he did some great party vocals and definitely it's his track. Zom Zom is a hypnotic track. Normally at the end, when I master a CD, I just can't listen to it for a week or so, and in this case, I only kept listening to Zom Zom...

Besides Zom Zom, what is your favorite track from Comfusões 1?

Kuale Ngo Valodo. Lamartine is a reggae man! He's like Ranking Joe, or Taper Zukkie, you know?

Kuale N'Go Valodo

Stereo Maracanã
Tell us a bit of how Stereo Maracanã came into existence.

Stereo Maracanã is the union of different people from different parts of Rio. This biodiversity in a group is typical of a city like Rio, and it's good for the sound, because we change experiences, and we have one that grew in samba, the other is a reggae drummer, the other comes from the capoeira environment, and I try to balance everything in the production of the tracks. Ironically, I was called the "rocker", can you imagine? Because I play the guitar. But in the new CD that we're recording now the guitars will be more and more african, I guess...

Freestyle Love is my favorite song from the album Combatentes. What is the idea behind the song and its video?

Well, Freestyle Love is amazing, it just keep surprising us. It's in several compilations around the world every year. I think we pictured this carioca way of life in this track, and maybe that's because people associate it to Brazil, Rio, and put it into Brazilian contemporary music compilations. We just did it like that, and this track helped us a lot already. We toured Europe 2 times, mainly because of this very track.


What would you say is the genre and musical style of Stereo Maracanã?


I'd say roots capoeira eletrofunk.

Tell us about the hip-hop movement in Brazil.

Well, I like hip hop, and listen to a lot of rappers in Brazil, but I don't follow the so called hip hop movement in Brazil. I guess Sao Paulo is the main city of the movement. hip hop is strong there. In Rio, samba is everywhere, so hip hop became strongly influenced by the samba culture. Macelo D2 is a very good example of that. He is rapper, but when you see him, you could say he is a samba composer, you know?

What would you say are the main differences between the funk of SM and hip-hop?

I think SM is not hip hop. We use rap vocals, and we know a lot of hip hop, we're playing for a while now, so we know everybody, we respect a lot the movement, but we're just in another style, musically. We're closer to funk carioca and samba, with rap vocals. We do not have a DJ, we don't dress like typical rappers do, so I guess the only element of the hip hop culture that is really present is the rap, and the themes of the lyrics as well.

Sou Local and Onde É Que Tu Tá are two great tracks in which you display a lot of love for Rio de Janeiro. How has the city inspired you?

Yo, Rio is a marvelous city. Rio is like a team that you love, you know? It's like the Yankees, to New York people, and like Flamengo, to us. Everybody that is "carioca" is proud of it. We defend our lifestyle, you know? Sometimes, going to the beach for half an hour during a work day is an attitude, is not something lazy or whatever. We love the people here, the people of this city really inspires us every day.

Onde E Que Tu Ta

What is the story behind the French inspired track République?

It's a Pedro (the vocalist) story. He had this girlfriend in Paris, when he lived there, and they had a date, but he couldn't make it because there was a police block and they stopped him, and the time was passing, and he didn’t have a cell phone to call her, etc...

Republique

Mauricio Pacheco, the Man

Mauricio PachecoWhen did you first become interested in making a living off music?

That's good. I never thought of music as something to get money. It was always a dream, to be on stage, to do an original sound and make it as a musician, but it didn't think of making a living of it. When I became a professional musician, I still didn't think I could live of that. After a while, I started producing music, recording, and then, only after all that, I assumed that I could be an artist, a musician, and that's what I do for a living and for my soul, and that's who I am. Music is my passion, and I'll always fight for it.

What first captivated you about the production aspect of music?

The frustration of not being able to build the sound that I imagined. I just decided that I had to learn it, so as I could be in charge and build my own sound.

What was the first song you ever released?

My first production was Freestyle Love, really. The first single offStereo Maracanã, my first CD as a producer.

5 musicians/band you listen to weekly, if not daily:

Steel Pulse
Banda Black Rio
Led Zeppelin
Jorge Ben Jor
Fela Kuti

Favorite late night crooners when it’s just you and the missus:

Bob Marley "turn your lights down low", great track!

Most played song on your iPod:

that's hard, but, okay, I'll play this game. Just one? I’ll pick "State of Mind", from Raul Midon. This week...

Biggest musical influences?

Jorge Ben Jor, Fela Kuti, Bob Marley, Lee Perry, Gilberto Gil, The Clash, and music from Mali, Angola and Cuba, in general.

Favorite city in Brazil? Favorite city in the world?

Rio de Janeiro, no more to say. In the world? Man, I'm too carioca to admit that any city can beat Rio. But I feel at home in Barcelona and New York, as well. Too greaaat cities!

Random thought of the day:

The most important thing is to do what you love to do, and believe in yourself. You know, sometimes we're just so self-critical, that we can't even recognize that we can be good, even though we'll never be perfect, or even close to perfection. Do the best that you can, and that's a good start, for every work.

Thank you for time Claudio, it was fun!
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